A atriz carioca é reconhecida como uma das principais figuras que combateram a repressão e o machismo no Brasil, deixando sua marca ao quebrar paradigmas com seus posicionamentos.

Foto: Acervo UH/Folhapress

Por Sérgio Madruga

Me recordo muito bem de uma aula na faculdade de jornalismo, em que minha professora falava sobre a emblemática entrevista de Leila Diniz para o jornal Pasquim. Lembro dela falando sobre o quão revolucionário foi, e em como tal publicação faz parte dos grandes momentos da mídia impressa. Confesso que na época sabia pouco sobre Leila, mas após ter minha curiosidade instigada, corri contra o tempo a fim de conhecer mais sobre essa mulher potente.

Imagine só, o ano é 1969, o golpe militar a plenos pulmões, e uma mulher de 24 anos dá uma entrevista falando abertamente sobre sexo, desejo, relacionamentos, prazer, entre outros assuntos “polêmicos”. Claro que a reação seria bastante controversa, sobretudo se tratando de um país com raízes conservadoras, moralistas e misóginas – apesar de se pretender o contrário.

“Você pode amar muito uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo”, diz Leila em um trecho da entrevista. Em outra ocasião, a atriz proferiu a popular frase: “Transo de manhã, de tarde e de noite”, além da icônica aparição de biquíni na praia de Ipanema quando estava grávida, algo inimaginável para a época.

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O ditador Emílio Garrastazu Médici, publicou o decreto-lei nº 1.077, que ficou conhecido como decreto Leila Diniz, que permitia a censura prévia da imprensa em casos que infringissem a moral e os bons costumes. Um discurso que infelizmente nos rodeia até os dias atuais.

Hoje (14/06), completam 50 anos da morte precoce de Leila Diniz. Atriz, feminista, uma mulher à frente do seu tempo, que arriscou sua carreira em prol de ser e se expressar como era. Leila morreu aos 27 anos de idade, em um trágico acidente de avião, voltando de um festival de cinema na Austrália, em 1972. Outras 85 pessoas também morreram na catástrofe aérea.

Vida e carreira

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Leila Roque Diniz nasceu no dia 25 de março de 1945, em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. Após uma breve experiência como professora, iniciou sua carreira de atriz aos 17 anos, no teatro. Sua primeira experiência na área foi na peça infantil “Em Busca do Tesouro”, dirigida por seu marido e cineasta Domingos de Oliveira, com quem trabalhou em outros projetos, como o clássico filme “Todas as Mulheres do Mundo” (1966). Em 1963, trabalhou como corista em um show de Carlos Machado e no ano seguinte, estreou como atriz dramática, contracenando com Cacilda Becker em “O Preço de um Homem”.

Em 1965, já separada de Domingos de Oliveira, se casou com o cineasta Ruy Guerra, época em que começou sua carreira na televisão. Teve passagem significativa na TV Globo, fazendo partes das obras “Eu Compro essa Mulher” (1966) e “O Sheik de Agadir” (1966), de Glória Magadan. A partir daí, contou com participações em doze novelas da TV Globo, TV Excelsior e TV Tupi, além de ter trabalhado também como modelo.

No cinema, fez parte de diversos longas, como “O Mundo Alegre de Helô” (1967), “Fome de Amor” (1968), “Mãos Vazias” (1971), “Amor, Carnaval e Sonhos” (1972) e muitos outros.

Perseguida pela ditadura, a atriz ficou desempregada e precisou se esconder no sítio do apresentador Flávio Cavalcanti, que posteriormente a convidou para ser jurada em seu programa na TV Tupi. Leila reviveu o Teatro de Revista, começando uma breve, porém bem sucedida carreira de vedete. Brilhou na divertida e ousada performance de “Tem Banana na Banda”, na qual se vestia de Carmem Miranda. No espetáculo, a atriz improvisava textos de Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho. O período lhe rendeu o título de “Rainha das Vedetes”, concedido por Virgínia Lane.