Por Patrick Simão / Além da Arena

A Espanha se tornou o segundo país a ser campeão tanto da Copa do Mundo de feminina quanto da masculina de futebol (antes, apenas a Alemanha havia conseguido este feito). Estas conquistas têm semelhanças, que reacenderam um debate político entre Espanha e Catalunha.

Em 2010, a Espanha foi campeã em um período de domínio do Barcelona, que conquistou a Champions League em 2009 e 2011 com um estilo próprio, de passes rápidos e posse de bola, proposto pelo treinador catalão Pep Guardiola. A equipe teve como maior parte dos seus jogadores atletas desta equipe, vindos da categoria de base, como o meio-campo formado por Busquets, Xavi e Iniesta, autor do gol do título. Neste vitorioso período, a equipe masculina da Espanha também conquistou as Eurocopas de 2008 e 2012.

 

Seleção Espanhola comemorando o título da Copa do Mundo de Futebol Masculino (FIFA)

 

Em 2023, a Seleção feminina também teve como base fundamental a equipe catalã, que nas últimas três edições da Champions League acumula dois títulos (2021 e 2023) e um vice-campeonato (2022). O Barcelona também dominou o futebol espanhol nos últimos anos e tem suas jogadoras como protagonistas: Aitana Bonmatí, craque da Copa, Salma Paralluelo, a revelação, Alexia Putellas, que jogou menos pois retornava de grave lesão, mas foi a melhor do mundo nas últimas duas temporadas, e Jennifer Hermoso, que hoje joga no Pachuca mas que entre 2017 e 2022 foi protagonista no Barcelona.

 

Seleção Espanhola comemorando o título da Copa do Mundo de Futebol Feminino (Seleção Espanhola / Reprodução)

 

Os madrilenhos também destacam a importância de dois jogadores do Real, fundamentais nas conquistas: o goleiro Iker Casillas, que fez uma defesa decisiva quando o jogo estava 0 a 0, em grande chance de gol contra o holandês Arjem Robben, e Olga Carmona, a autora do gol do título contra a Inglaterra.

Porém, o estilo de jogo e protagonismo de jogadores é maior do clube clube catalão, que era protagonista nos períodos dos respectivos títulos mundiais. Isso se deve à maior característica do Barcelona em formar atletas e mantê-los no elenco, enquanto o Real Madrid prioriza contratar jogadores jovens ou já consagrados de diversas nacionalidades. No feminino, a equipe de Madrid iniciou recentemente este processo, por exemplo com a contratação da promessa colombiana Linda Caicedo.

Ambos os títulos, no entanto, resgatam o debate e conflito político onde a Catalunha busca ficar independente da Espanha. A Catalunha possui um governo e, principalmente, uma identidade própria, com idioma e características próprias, diferentes de boa parte do território espanhol. Em 2017, a Catalunha organizou um referendo questionando a opinião da população catalã sobre a separação da Espanha e, segundo divulgação do governo local, 90% foi favorável. A perda da independência da Catalunha, que existia desde a independência espanhola em 1931, ocorreu durante a Ditadura de Francisco Franco, entre os anos 1939 e 1975. Após a morte do ditador, a Catalunha obteve o direito ao seu próprio parlamento, mas seguiu politicamente pertencente ao território espanhol.

Os catalãos se consideram independentes quanto a idioma, governo e características culturais. O fato dos títulos espanhóis terem como grande parcela do protagonismo jogadores e estilo de jogo catalãs e ocorrerem em períodos de domínio barcelonistas, reacende esse debate na Espanha. É possível observar comentários do gênero nas redes sociais, após a conquista do Mundial de 2023. Para além disso, há o resgate público do orgulho da identidade catalã, que convergiu diretamente com as conquistas da Seleção Espanhola de futebol.