Na minha coluna “Um papo descomplicado sobre algoritmos de redes sociais” questionei os vieses existentes nos algoritmos do Instagram que o torna o reflexo da nossa problemática sociedade. E no que diz respeito às mulheres, nota-se que existe uma desvantagem em diversos fatores nas redes sociais, enquanto existem perfis de homens de diversas áreas, diversos assuntos, diversos lugares, para a mulher só sobra o conteúdo de beleza e comportamento. Para as influenciadoras mulheres há muitos desafios para conseguirem engajamento e seguidores, é preciso jogar o jogo do algoritmo, senão o conteúdo não é entregue. 

No Brasil, os perfis de mulheres mais seguidos no Instagram são aqueles perfis que quase sempre são entregues aos padrões, são patrocinados por marcas que vendem produtos em geral e que indiretamente vendem mentiras: o corpo ideal, a dieta, o chá que emagrece, o exercício que emagrece em 10 dias, entre outras. Não são perfis que contam as verdades, como por exemplo as dificuldades de ser mulher no mercado de trabalho dominado pelos homens, as dificuldades de ser mãe e provedora ao mesmo tempo, sobre os relacionamentos abusivos que são quase inevitáveis, informações sobre assédio, abuso, violência doméstica, estupro e tudo o mais, todas essas informações que emancipam mulheres são boicotadas. 

Uma dessas mulheres que sigo que me trouxe essa realidade que eu não tinha conhecido antes, das influenciadoras que não são recomendadas, são censuradas, têm suas contas excluídas por serem verdadeiras, serem gordas, serem pretas, serem mulheres trans, denunciarem o machismo, gordofobia, transfobia e racismo diariamente. Você muito provavelmente não conhece esses perfis porque o algoritmo não levou até você como tem levado a perfis de influenciadora fit, maquiadoras e etc. Já parou pra pensar se você segue alguma influenciadora mulher gorda, preta, trans?

“Responsabilizar o seu corpo de todas as mazelas que está acontecendo na sua vida, quando na verdade não é sobre nosso corpo, não é sobre nós, é sobre as pessoas que estão adoecidas ao nosso redor”

Foto: arquivo pessoal

A Polly Oliveira é essa admirável mulher influenciadora e escritora, que está conscientizando as pessoas em relação ao funcionamento das redes, mostrando as facetas do mesmo utilizando o método O Experimento, que está escancarando muitos vieses algorítmicos, que ao meu ver, simulam os preconceitos e as violências que vivemos que são os pensamentos gordofóbicos, racistas, sexistas, transfóbicos, e muito mais. Leia a seguir a entrevista:

Mariane: Eu comecei a acompanhá-la depois que você perdeu sua primeira conta, não tive acesso ao que você postava antes, gostaria de saber como você começou a usar o Instagram para falar sobre corpo, autoestima, padrões de beleza, etc.? Quais eram os conteúdos e qual é o seu objetivo enquanto influenciadora e escritora? 

Polly: Eu tô no Instagram há mais de 5 anos e eu sempre falei sobre a liberdade do corpo, sobre libertar as mulheres,  autonomia da mulher. Eu vim de um relacionamento abusivo, 10 anos de relacionamento, onde eu passava por agressões físicas e psicológicas também. E uma das agressões psicológicas que mais me afetou por muito tempo foi a questão da consciência corporal, de não conseguir me olhar no espelho, de achar que meu corpo não agradava aos olhos dos homens  e que isso poderia ter contribuído sim para tudo que passei. E quando eu me vi passando por tudo aquilo, por essas mutilações mentais eu comecei a procurar ferramentas dentro das redes sociais para me ajudar, que fizessem com que eu não me sentisse sozinha. E quando comecei a usar e vi que tinha pouquíssimas pessoas falando disso, de algo semelhante ao que tinha passado, eu comecei a me questionar porque que não tinha mulheres falando disso, será que eu realmente tinha sido sorteada? Eu imaginava. Não é possível que só eu passo por isso, não é possível que isso seja um problema unicamente meu. 

Vou começar a compartilhar minha história, vou começar a falar sobre isso, escrever sobre isso e quem sabe trazer mulheres que tenham histórias parecidas com a minha. E foi isso que aconteceu, comecei a falar sobre relacionamento abusivo, comecei a mostrar  algumas partes do meu corpo, de como eu me sentia quando eu olhava o meu corpo, eu comecei a narrar a minha história, sempre contando coisas que tinham acontecido, como eu tinha sobrevivido a esse relacionamento, como que eu me encontrava após esse relacionamento e isso começou a conectar pessoas, essa minha vulnerabilidade dentro das redes sociais, essa necessidade de falar o que é real. Toda vez que eu falar algo real dói em mim, porque não é legal mostrar suas fraquezas e suas vulnerabilidades nas redes sociais. Porque a gente aprendeu que as redes sociais é um local pra você ser quem você quiser, menos você. E a minha proposta foi diferente, foi mostrar quem eu era, e eu sabia que aquilo não ia agradar muitas pessoas, eu sabia que aquilo não ia aproximar muitas pessoas mas ia aproximar as pessoas certas. E foi aí que eu comecei a falar sobre esses padrões, a questionar, a fazer as mulheres também a questionarem, entende? Então meu objetivo enquanto influenciadora e escritora era sempre questionar, fazer as mulheres  se questionarem, a se perguntar porque estavam nesse lugar, porque elas aceitaram esse lugar, porque elas se odiavam. Eu costumo dizer que a gente está fazendo a pergunta errada, a pergunta não é “por que a gente não se ama?” a pergunta certa é “por que a gente se odeia tanto? por que a gente não permite se amar? por que a gente está sempre se odiando e se culpando pelos erros dos outros? por que a gente acredita tanto nos outros e não acreditamos em si mesmas” 

“Cada mulher vai viver o Mito da Beleza de sua maneira”

Foto: arquivo pessoal

Mariane: Como as mulheres recebem suas críticas aos padrões de beleza irreais da internet? 

Polly: Eu tenho tentado “treinar” essas mulheres a questionarem, todas as minhas críticas não são com os dedos apontados, pois cada mulher tem o seu tempo, cada mulher vai viver o seu mito da beleza de alguma maneira, no seu próprio tempo. Então eu nunca fui de estar na internet como juíza, sempre levei para a internet questionamentos, fazendo as mulheres se perguntam, então talvez pelo fato de eu instigar essas mulheres a se questionarem, levando informação e sempre finalizando meus post com o questionamento “Será que é isso mesmo que a gente quer? Será que somos nós que estamos escolhendo?” . Então  sempre trazendo os vídeos como um questionamento meu, como uma dúvida minha e quando essa dúvida não é só minha, isso ganha uma força muito grande. As mulheres também começaram a se questionar: por que a gente está fazendo isso? O que está acontecendo? Como que eu sei quando estou escolhendo por mim. Eu acho que essas mulheres acabam recebendo essas críticas como um afago também. Obviamente, tem mulheres que vão atacar, e é um ataque muito dolorido porque não estou ali para lutar por um grupo só de mulheres, estou na internet para lutar por todas, inclusive por aquelas que escolheram se mutilar em uma mesa de cirurgia. Mas como falei antes, cada mulher tem seu tempo, cada mulher vai viver o Mito da Beleza de sua maneira. E eu escolhi encher essas mulheres de questionamentos, eu acho que o questionamento trás mais respostas do que o próprio apontamento, do que a própria certeza, até porque não sou dona da verdade absoluta. Eu sou uma mulher cheia de questões com meu corpo, as pessoas acham que “a Polly fala sobre empoderamento feminino, fala sobre liberdade do corpo, então ela olha pro espelho e ama tudo que vê“ Não! Só que eu enfrento esses meus desafios internos todos os dias, acho que isso me torna diferente, eu reconheço, me olho no espelho e sei que estou sofrendo sequelas e consequência de um relacionamento abusivo, estou sofrendo sequelas de viver em uma sociedade que impõe um padrão a todo tempo. Mas eu questiono isso, e eu tento ressignificar o meu olhar pro meu corpo todos os dias, não é só uma vez por mês, não é só uma vez na semana, são todos os dias, às vezes mais de uma vez por dia eu estou ressignificando o meu olhar, eu to olhando pro espelho e tô tentando entender o porquê de eu estar com uma barriga feia se ela não é feia? Por que me ensinaram a olhar pro meu corpo dessa maneira?

“As redes sociais é um local pra você ser quem você quiser, menos você”

Foto: arquivo pessoal

Mariane: Você já recebeu algum relato de seguidoras sobre como os seus conteúdos tem ajudado elas de alguma forma sobre como elas enxergam o próprio corpo?

Polly: Eu recebo milhares de mensagens diariamente sobre isso, esses questionamentos trazem muitas mais respostas do que a gente pode imaginar. Mensagens de mulheres que realmente perceberam que estavam vivendo em um ciclo sem fim de autojulgamento, de autopunição, de não-aceitação. De mulheres que voltaram a enxergar belezas em seus corpos, a enxergar o quão merecedoras são de estarem em um relacionamento saudável, do quanto elas estavam se punindo por culpas que não eram delas, porque o relacionamento abusivo ele te coloca nesse lugar, de não merecimento, de você olhar o seu corpo e achar que seu casamento acabou porque você engordou, de olhar pro seu corpo e responsabilizar o seu corpo de todas as mazelas que está acontecendo na sua vida, quando na verdade não é sobre nosso corpo, não é sobre nós, é sobre as pessoas que estão adoecidas ao nosso redor. 

Mariane: Quando você percebeu que estava sendo vítima de uma censura algorítmica? Qual foi sua primeira reação?

Polly: Foi no final do ano passado que eu comecei a perceber que estava sim havendo uma censura, e que eu estava sendo punida por um conteúdo. Eu comecei a perceber que meu conteúdo não era nem bem vindo e bem visto no Instagram. Percebi que tinham palavras-chaves que eu usava que fazia com que o algoritmo não entregasse as minhas publicações e quando isso começou a ficar mais escrachado, eu comecei a me ver recuando, a  me ver modificando palavras, e as vezes quando você está falando com uma mulher que está em uma situação de vulnerabilidade, você não pode trazer palavras genéricas, não pode trazer termos científicos, você tem que falar a linguagem da mulher, a linguagem que ela vai entender. Então eu comecei a ver que meu conteúdo estava se adaptando às condições do instagram. Aí pensei “Tem alguma coisa de errado, meu corpo está ofendendo as redes sociais” Eu comecei a perceber que todas as imagens que tinha o meu corpo eram excluídas, Instagram tirava do ar e me mandava uma notificação como se eu tivesse ferindo as diretrizes do Instagram. E eu comecei a perguntar “o que eu estou fazendo a ponto de ser  notificada de que eu estou infringindo essa lei do Instagram, que lei é essa? o que tem nesta diretriz do Instagram que me torna esse alvo constante?” Porque começou a parecer uma perseguição, a cada 10 posts que eu publicava, 6 eram excluídos. E muitos desses posts eram críticas muito fortes a esses padrões, eu comecei a postar vídeos estilo Tiktok, eu peguei um vídeo da Mayra Cardi (blogueira fit) que ela estava falando sobre angulo, ela estava nua, de lateral, e ela mostrando o quanto a barriga dela era chapada, e eu dublei a Mayra Cardi e fiz um vídeo exatamente igual, idêntico, sem tirar nem pôr, inclusive usando a voz da própria, o vídeo da Mayra Cardi até hoje está no ar, ele nunca foi tirado do ar, nunca foi penalizado e o meu em menos de 1 minuto, eu fui notificada que eu ia perder minha conta, que aquele vídeo continha um conteúdo sexual e que eu infringi as diretrizes. Eu postei esse vídeo dia 30 de dezembro, acordei dia 31 de dezembro sem a minha conta.

“Muitas pessoas acham que O Experimento é uma arma contra o algoritmo, na verdade não. Se a gente passar o resto da vida usando o Experimento para que o nosso conteúdo seja entregue, a gente estaria realmente se moldando ao que o Instagram quer, percebi que estou jogando o jogo deles, tudo bem que eu estou mostrando para as pessoas como as coisas funcionam, mas ainda estou jogando o jogo.”

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Mariane: Conta como você começou “O Experimento” e como ele funciona? Como outras influenciadoras que passam pelo mesmo problema que você podem usá-lo para ter engajamento mesmo trazendo pautas importantes que normalmente o Instagram boicota?

Polly: Eu passei 20 dias sem Instagram, e foram os 20 dias que eu mais estudei o Instagram, estudei o perfil das mulheres que mais fazem sucessos nas redes sociais que “são exatamente” mulheres muito parecidas, com conteúdos muito parecidos e com falas e roteiros exatamente iguais, então eu comecei a perceber que essas mulheres tinham um padrão não só físico mas de comportamento, elas tinham um padrão de estilo de vida, até as marcas que patrocinam  essas mulheres são as mesmas, e aí comecei a perceber que as coisas estavam começando a se encaixar. Muitas pessoas acham que O Experimento é uma arma contra o algoritmo, na verdade não. Se a gente passar o resto da vida usando o Experimento para que o nosso conteúdo seja entregue, a gente estaria realmente se moldando ao que o Instagram quer, percebi que estou jogando o jogo deles, tudo bem que eu estou mostrando para as pessoas como as coisas funcionam, mas ainda estou jogando o jogo. Então não faz sentido as mulheres seguirem à risca o que o Experimento propõe que é usar essas palavras-chaves, que é ter o seu corpo sexualizado, que é vender produto milagroso que não funciona. Então o Experimento é isso, ele mostra para as pessoas que o que vende é o chá que promete secar a barriga, que é o gel redutor de celulite, ou seja, o Experimento prova que a mentira vende muito mais que a verdade, ser padrão te abre muito mais portas do que ser você mesma, viver uma vida fantasiosa faz muito mais sucesso do que você mostrar o seu dia-a-dia, o seu cotidiano, sua verdade. então como que eu posso usar o experimento que é uma arma a favor deles (pois estamos jogando o jogo deles), como que eu posso usar isso como uma solução? ele não é uma solução, ele é uma prova de como as coisas funcionam, porque sim, se você mentir, se você se tornar infantilizada e burra (o Instagram me provou isso), tem uma personagem que eu criei dentro do Experimento, que é baseada na Juliana do Bonde, que é uma mulher muito linda mas completamente infantilizada e sexualizada, então quando eu comecei a usar esses estereótipos, o Instagram me entregou muito, e me entregou para um público masculino. ou seja, isso provou que eu era um produto para consumir. Todas as vezes que eu usei minha plataforma para vender uma mentira, eu tive o meu conteúdo impulsionado, entregue, tive meu alcance pelo menos 4x ou 5x maior do que quando eu falava sobre feminicídio, sobre liberdade, sobre libertação, então eu dizer que o Experimento é uma solução eu estaria mentindo, ele é apenas uma prova.

Prints dos anúncios e propagandas nos stories do perfil da Polly. (Fonte: arquivo pessoal)

Prints dos anúncios e propagandas nos stories do perfil da Polly. (Fonte: arquivo pessoal)

Prints dos anúncios e propagandas nos stories do perfil da Polly. (Fonte: arquivo pessoal)

Prints dos anúncios e propagandas nos stories do perfil da Polly. (Fonte: arquivo pessoal)

Mariane: Conta como você se sente enfrentando esses algoritmos usando o Experimento? Quais foram os resultados que você conseguiu enxergar desde o início dessa pesquisa?

Polly: Eu acho que de todas as ferramentas que eu usei durante o Experimento, o teste mais dolorido foi quando eu mudei o meu perfil de mulher para homem. Eu tive meu alcance 3x maior. As propagandas mudam drasticamente, enquanto o meu gênero era feminino e eu falava sobre gel redutor, chá emagrecedor e as propagandas eram relacionadas a tudo isso, diretamente ligadas a esse padrão de beleza inalcançável, quando eu mudei o gênero para masculino e encarnei um personagem usando um filtro de barba comecei a dar dicas sobre como conquistar o homem perfeito, as propagandas que apareciam era de faculdade, de educação financeira, de estudo, de coisas intelectuais, então você fica pensando: por que que os homens merecem ter esse tipo de propaganda? por que a sociedade ainda estimula os homens a estudarem, a serem inteligentes e a serem superiores mesmo? E por que para a gente é tanta infantilidade? E infelizmente os resultados são surpreendentes, acho que o Experimento já provou o que tinha que provar, todos os testes foram feitos e eu compartilhei isso nas minhas redes sociais. É triste ver que as redes sociais não foram criadas para você, mas foi criada para que você sustente elas. 

Mariane: Você acredita que esses vieses dos algoritmos são gordofóbicos, racistas, machistas, etc. ou você acha que ele é acionado a partir de denúncias de pessoas e falta um tratamento mais humanitário desse algoritmo em relação aos posts? Qual seria uma solução para que as redes sociais sejam um lugar bem vindo a mulheres fora do padrão irreal da internet?

Polly: Imagina que o algoritmo é um robô, uma criança de 10 anos, que é o tempo do Instagram, as pessoas educaram essa criança né? Durante a vida toda dela, o primeiro ano dela foi dito o que é bonito, o que é legal de olhar, o que é prazeroso, o que dá mais visibilidade. Então essa criança, ela aprendeu desde muito cedo o que é belo, então de certa uma forma, nós usuários, consumidores educamos essa criança, essa criança sabe e aprendeu com a gente. Tudo de positivo e negativo foram os usuários que ensinaram, ele foi muito bem treinado, então sim, os vídeos e os vieses dos algoritmos são todos gordofóbicos, e a gente tem que entender que existe um consciente coletivo por trás disso, como fomos nós que treinamos o algoritmo, nós também temos responsabilidade. Mas acredito que essa criança de 10 anos ainda pode ser reeducada, temos inteligência artificial o suficiente para mudar isso, se a gente tá vendo que essa criança foi educada de forma errada, acho que é de responsabilidade da ferramenta reeducar, recalcular a rota, dar um passo atrás, impulsionar conteúdos de mulheres reais, negras, gordas, trans, já que conscientemente esse algoritmo foi ensinado de forma errada. Será que é interessante para eles mexerem no time que está ganhando? Já que essa ferramenta está fazendo gerar trilhões de dólares, bilhões de dólares todos os anos? Eu acho que não. Então é chegada a hora de fazer uma grande revolução mesmo, e a revolução começa em você não seguir alguém que não se parece com você, a você não alimentar esse campo do desejo, no sentido ruim. Não to dizendo que você não vai seguir uma pessoa que você tem vontade de se parecer com ela, que você admira as conquistas dela, mas a gente consegue, a nossa parte humanitária consegue reconhecer quando uma vida não é real ou quando é de mentira. Por que a gente tá se deixando levar por esse desejo? Por que a gente não consegue de uma maneira racional excluir isso da nossa vida? Porque quanto mais tempo nós alimentamos esse tipo de conteúdo, mais eles vão dominando. Então eu acho que a solução nesse primeiro momento é fazer uma grande revolução de consciência, é trazer o Experimento pro campo consciente de: nós fizemos merda ou a gente para agora ou a próxima geração do futuro vai pagar um preço alto por isso. Já passou da hora, na verdade, de fazer essa revolução. 

“Eu comecei a realmente mostrar o que eu estava fazendo nas redes sociais, que eu não estava disposta a pegar atalhos ou procurar a melhor palavra pra falar, mas para falar uma linguagem acessível a todas as mulheres, para falar com as mulheres”

Foto: arquivo pessoal

Mariane: Eu não conhecia o seu trabalho antes do Instagram, sei que você é escritora e me interesso muito pelo tipo de leitura que você escreve. Conta um pouco do teu trabalho fora das redes? Você pensa em lançar livros sobre esse experimento? 

Polly: Eu sempre escrevi para as mulheres, o meu primeiro livro é um romance que eu acho que reescreveria ele totalmente porque o meu processo de libertação começou após esse livro. Então eu resetei isso da minha história e recomecei com o livro chamado “Mulheres  Gozam” que é um relato de mulheres que tiveram seu prazer negociado, que tiveram seu prazer negado, que viveram uma vida sem saber o que é um orgasmo, então esse livro trás vários depoimentos de mulheres que passaram uma vida inteira sem conhecer o próprio corpo, sem entender como funcionavam o próprio corpo. E esse livro foi também o que abriu as portas para mim nas redes sociais, foi a partir dali que eu comecei a realmente mostrar o que eu estava fazendo nas redes sociais, que eu não estava disposta a pegar atalhos ou procurar a melhor palavra pra falar, mas para falar uma linguagem acessível a todas as mulheres, para falar com as mulheres, para foi ali que falei “meu público é esse, eu quero falar com essas pessoas e abrir os olhos dessas pessoas”. Sim, eu penso em lançar livros sobre o Experimento, mais do que isso, eu penso em criar palestras ensinando as mulheres a usarem isso ao seu favor, ensinando como funciona. Eu não acredito que a curto prazo as redes sociais possam estar ao nosso lado, vai ser preciso uma revolução muito grande, um barulho muito grande para que eles olhem pra gente e escutem o que queremos falar, sentar e mudar isso, acho que vai levar muito tempo para que eles tenham essa consciência, acho que isso só vai acontecer quando o prejuízo financeiro apontar isso. 

“É nós por nós”, ultimamente tenho falado muito isso “nós por nós”. Nós precisamos começar a se reunir em grandes células na internet, nas redes, nas nossas tribos e falar sobre isso, para que a gente faça uma revolução e comece a mudar tudo isso. E minha proposta é sair pelo mundo palestrando, infelizmente a pandemia está acontecendo, e isso só vai ser real quando tudo isso acabar, eu gosto muito desse olho no olho mas a curto prazo estou com alguns projetos on-line de falar sobre Experimento para mais grupos de mulheres porque sim, o Instagram, as redes sociais estão matando muita gente, literalmente, às vezes mortes de outras maneiras, mas muitas mulheres estão  se perdendo e estão sendo mortas por causa desses algoritmos, por causa dessas vidas fakes, por causa de tanto de mentira que é vendida nas redes sociais. E isso não é justo. E já que somos nós, as mulheres que financiamos e que mantemos esse gigante de pé, nada mais justo que sejamos nós que derrubemos ele.

Livro Mulheres Gozam de Polly Oliveira (Fonte: arquivo pessoal)

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