No domingo (29/3), Jair Bolsonaro reiterou o mau exemplo e foi a Taguatinga e Ceilândia, cidades do Distrito Federal, visitar comércios, promover aglomerações, distribuir abraços e selfies. Questionado sobre a atitude bestial, disse: “Eu vou no meio do povo, se o povo está contaminado eu vou lá. 60% ou 70% da população será infectada, não teremos como fugir desta realidade”.

No decorrer desta semana, o presidente tentou – e não conseguiu – demitir Henrique Mandetta, seu ministro da Saúde. O esquadrão online do filho Carlos Bolsonaro passou a detonar Mandetta e, não satisfeito, também ao general Walter Braga Netto, ministro-chefe da Casa Civil, que teria segurado Mandetta no cargo e assumido funções de coordenação do governo.

O problema é que pululam fantasmas no pesadelo dos Bolsonaro, a começar pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, o primeiro na linha sucessória. No Twitter, Carlos escreveu: “o que leva o vice-presidente da República se reunir com o maior opositor SOCIALISTA do governo, que se mostra diariamente com atitudes totalmente na contramão de seu Presidente?”. O tuíte referia-se a uma reunião de Mourão com governadores e que contou com a participação do chefe do Executivo do Maranhão Flávio Dino (PCdoB). A insinuação vai na rota da conspiração.

Mas aquela semana foi pródiga. Carlos não aguenta o ostracismo do pai no exercício do cargo e mandou bala também em Rodrigo Maia, presidente da Câmara e segundo na linha sucessória: “desse tamanho e ainda está com fome”. Maia tinha dito que é “irresponsável” a conduta do presidente na epidemia e Carlos o desqualificou pessoalmente.

Carlos e Eduardo Bolsonaro também aproveitaram a semana para bater boca com o João Dória, governador de São Paulo, outro crítico do presidente. Eduardo, que é deputado federal pelo estado, tuitou em caixa alta: “CANALHA! MIL VEZES CANALHA! O SENHOR NÃO TEM O MÍNIMO SENSO DE ESCRÚPULO! NÃO TEM VERGONHA NA CARA, GOVERNADOR @jdoriajr ?!?!”

Fugindo da realidade, Carlos sublimou assim o isolamento político do pai: “o Presidente se mostra novamente um Líder! Conduz mais um problema contra ‘tudo’ e ‘todos’, com inteligência e visão de ÁGUIA. Então os URUBUS surgem dos esgotos e se vangloriam, quando antes não davam um pio de apoio enquanto as hienas pretendiam novamente matá-lo covardemente”.

“Contra tudo e todos”: o xis da questão.

O próprio Bolsonaro usou as redes sociais para constranger o chefe do comitê contra a Covid-19 no estado de São Paulo, David Uip, recuperado da doença, para que ele confessasse ter usado a cloroquina – o novo fetiche presidencial – no seu tratamento. Dória condenou a insinuação a Uip, lembrando que Bolsonaro recorre a médicos paulistas quando precisa.

Apesar disso, o presidente continua sendo “contra tudo e todos”. Ontem (9/4), foi a uma padaria na Asa Norte, em Brasília, para reforçar seu boicote ao isolamento, abraçando pessoas, e também sendo chamado de “assassino” por outras.

Essas breves referências nos dão ideia do clima que rola na família presidencial, que opera obstinadamente como oposição ao próprio governo. Que governo?

Isso tudo para não falar das loucuras praticadas por outros membros da administração federal indicados pela família presidencial, como Abraham Weintraub, o ministro da deseducação, que brindou o povo chinês com mais uma ofensa racista, agravando a crise diplomática criada por Eduardo Bolsonaro e que ajuda a explicar porque o Brasil não tem conseguido comprar da China insumos fundamentais para o combate à epidemia, como máscaras e respiradores.

Trata-se de mera constatação, que a própria família presidencial reitera o tempo todo: Bolsonaro não tem condições de unir o Brasil para atravessarmos essa múltipla crise com o menor sofrimento possível.