Em 90 dias os norte-americanos elegerão o seu presidente. A votação pelo correio já começou, estimulada pela precária situação sanitária. Pesquisas eleitorais indicam, em média, vantagem de 10 pontos percentuais para Joe Biden, democrata, sobre o republicano Donald Trump. Trump não está morto, venceu Hillary Clinton nas eleições passadas mesmo com minoria na votação popular, mas agora está em atrás de Biden em estados-chave, que garantiram sua vitória no colégio eleitoral há quatro anos atrás.

Fonte: Folha de São Paulo

As perspectivas para Trump são críticas, ao ponto dele ter sugerido o adiamento das eleições sob a alegação de que elas serão uma fraude, devido ao grande número de votos pelo correio, quesito em que a campanha democrata tem se saído melhor. A votação por correspondência ocorrerá para evitar aglomerações em meio à crise de saúde. Não há precedente de adiamento de eleições nos EUA, nem de prorrogação de mandato presidencial. A proposta de Trump não tem viabilidade, pois dependeria do Congresso e os democratas têm maioria na Câmara. Até os republicanos a rechaçaram. Mas Trump vai construindo uma falsa narrativa para justificar sua derrota. É bom ficarmos atentos, pois o mesmo fará Bolsonaro se estiver em situação similar em 2022.

Bolsonaro tem feito declarações de apoio a Trump, com total impropriedade. Seu filho Eduardo, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, tem publicado mensagens eleitorais nas redes sociais. Qualquer um pode ter simpatia por quem quiser, em qualquer eleição, mas não cabe ao presidente expressar opinião desse tipo em relação a outro país, por respeito à soberania do seu povo e porque a relação entre nações não deve estar sujeita a preferências partidárias.

O embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, defendeu os Bolsonaro dizendo que eles têm o direito de expressar a sua opinião. Ele insinuou, inclusive, que “o Brasil” poderia reduzir as tarifas de importação de etanol para ajudar Trump a consolidar os votos do estado de Iowa, maior produtor norte-americano de etanol. Chapman se diz mui amigo, fala bem português e ama o Brasil. Mas também diz que o país “sofrerá consequências” caso adote a tecnologia chinesa de 5G. Os Bolsonaro também são mui amigos e, em vez de questionarem a ameaça, foram a um churrasco na casa do embaixador e espalharam coronavírus por lá. Nada de novo, já haviam feito isso com o próprio Trump, meses atrás, com a visita de uma comitiva infectada. São relações insalubres para os EUA e pouco produtivas para o Brasil.

Alinhamento automático e subserviência

Mas Bolsonaro acha que o que interessa é o alinhamento automático. Ele se orgulha da própria subserviência a Trump. Indagado sobre o impacto de uma eventual vitória democrata nas relações com o Brasil, Bolsonaro disse que “continuará fazendo o mesmo”, mas se os democratas não quiserem, “paciência”. E ainda completou: “O Brasil vai ter que se virar por aqui”. O mundo do Bolsonaro ficaria reduzido ao seu próprio umbigo.

Se “o mesmo” que Bolsonaro ofereceria for só a postura subserviente, Biden talvez pouco se importe, mas é provável que tenha outros planos para a embaixada no Brasil. A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados de lá, presidida por democratas, até registrou o seu desagrado pela postura partidária imprópria dos Bolsonaro, mas pegou bem mais pesado com Chapman, exigindo que ele entregue todos os registros das suas tratativas com Bolsonaro sobre etanol, sob suspeita de violarem a proibição legal de influências externas nas eleições.

Biden tem atuação pessoal na defesa dos direitos humanos e de minorias. Os democratas seriam menos tolerantes com os arroubos totalitários bolsonaristas. Os EUA retornariam às metas climáticas do Acordo de Paris, cujo cumprimento foi facilitado pela redução de emissões decorrente da recessão provocada pela pandemia, e estariam em boa posição para pressionar o governo brasileiro pelo desgoverno florestal na Amazônia. O cardápio na embaixada americana seria outro.

Também dá o que pensar a situação do bizarro chanceler Ernesto Araújo, que acha que os democratas, tanto lá quanto cá, são um bando de comunistas. Não há clima para ele na China, na Europa ou no Mercosul e, na hipótese de vitória de Biden, não teria nem mais Disney World para visitar.

O chefe já disse: “O Brasil vai ter que se virar”. Como? Com cloroquina e isolamento total!

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