Lançado na última quinta-feira, 13, o documentário ‘Diz a Ela Que Me Viu Chorar’, da diretora Maíra Bühler, se propôs a documentar a vivência de moradores do Hotel Dom Pedro II, em que pessoas que estavam em situação de rua na região conhecida como Cracolândia, no Centro de SP, foram acolhidas através do programa De Braços Abertos.

Descontinuado em 2017 com a entrada do então prefeito, João Dória (PSDB), o programa foi uma tentativa da gestão de Fernando Haddad (PT) de solucionar a questão das cenas de uso abusivo de drogas no centro da capital oferecendo moradia, saúde, assistência social e trabalho.

O hotel retratado foi o ápice do DBA. Único totalmente controlado pela prefeitura, foi o que abrigou mais pessoas, 103 moradores no total, desde crianças à idosos, uma ação ousada do governo de turno e um enorme desafio para os trabalhadores da saúde e assistência social, responsáveis por controlar um cenário que a qualquer momento poderia convulsionar.

‘Diz a Ela Que Me Viu Chorar’, no entanto, vai muito além das descrições de programa, do uso abusivo de drogas ou mesmo da miséria e violência à qual essas pessoas estão submetidas. O documentário revela a intimidade dos moradores, acessando temas caros à humanidade: amor, raiva, Deus, violência, amizade e sobrevivência.

A sensação é que, fosse onde fosse, a intensidade das relações que o filme captura poderia ser um livro de Jorge Amado ou um longa de Buñuel, colocando no centro da imagem as reações e interações de pessoas que são marginalizadas e excluídas pela sociedade.

Além disso, devolve a dignidade dessas pessoas, relegadas a um constante processo de perda de humanidade para a sociedade. Tão vibrantes e tão sentimentais quanto qualquer um, nos pequenos detalhes do dia a dia, o documentário expõe com muita sensibilidade os amores e histórias, devolvendo aquilo que jamais deveriam ter-lhes tirado.

O filme ainda ganhou uma sessão especial no fluxo da cracolândia, com a presença de alguns ex-moradores do prédio, fechado em 2018 ainda sob a gestão Dória na prefeitura de São Paulo. Diga-se de passagem, a maior parte dos beneficiados pelo programa acabaram voltando para onde estava: as ruas do centro.