No sinal vermelho, ela se aproximou para pedir uma moeda e imediatamente lançou sua pergunta: Você sabe se Lula é o presidente?

A voz dessa mulher soava assim, quebrada, por trás de olhos cansados, dentro de um corpo que havia deixado sua juventude em, quem sabe, batalhas pela vida, mas com certeza muitas outras e outras como ela, hoje, moravam nas ruas, possivelmente com fome, possivelmente com frio. Mas sim, com certeza absoluta, com o desejo de que a vida seja um pouco mais suportável, com a fome visceral e a vontade de que esta enorme cidade se torne um pouco mais amigável, que o direito básico de ter abrigo e a comida deixe de ser discurso, que esse mínimo que não nos diferencia como espécie lhe permita recuperar o brilho nos olhos.

Sua pergunta, que era uma exigência de certeza e ao mesmo tempo um grito de esperança, trouxe consigo milhares de outras vozes e histórias. Era a do Brasil delongado e violado, era a do Brasil preto, indígena, diverso, que não entendia por que sua maravilhosa generosidade estava sendo contagiada por um ódio estranho, impróprio, patriarcal e abominável.

Era fim de tarde no domingo de eleição, a contagem dos votos tinha apenas começado. A esquina de um bairro central de São Paulo tornou-se o verdadeiro sentido do dia, transformando suas sombras no final do dia naquele corpo preto dessa mulher adulta que exigia as melhores respostas. Eu só consegui manter meus olhos longe das lágrimas de amor, causadas por aquela explosão de realidade. O que eu diria a ela tinha que ser a certeza do maior dos desejos naquele momento e que ficasse ressoando sem sair da minha garganta.

Sim, camarada, Lula é presidente!

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