
Foto Carol Essan
Há mais de uma década, basta andar pelas ruas de Porto Alegre para se deparar com centenas de reproduções em papel de um “indiozinho” em diferentes formatos e tamanhos, em placas, muros e paredes. De uns tempos para cá, começaram a surgir fotos de guaranis e representações de seus animais sagrados, além de placas escritas “Área Indígena”. Pois estes e outros trabalhos do artista plástico Dione Martins, o Xadalu, acabam de ser reunidos no livro Xadalu – Movimento Urbano, lançado dia 11 de abril na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre. A edição é trilíngue, em português, inglês e guarani, e aborda os dois grandes temas da trajetória de Xadalu: a arte urbana e a arte pela causa indígena. O livro, que teve apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Estado do do Rio Grande do Sul, está disponível para download gratuito no site do artista e da Joner Produções.
Xadalu – Movimento Urbano traz diferentes projetos de Dione, a maioria realizados no Rio Grande do Sul. Na série Área Indígena, o artista instala cartazes e adesivos em forma de placas de sinalização escritos “Área indígena” em espaços da zona central de Porto Alegre. A presença indígena no centro da cidade desdobra-se na série Seres Invisíveis – fotografias de guaranis impressas em grande formato, coladas repetidamente em pontos estratégicos da cidade. Fauna Guarani traz pinturas em tons neon sobre papel, representando animais sagrados da cultura guarani e reconhecidos em seu artesanato em madeira. A ideia de Dione, que percorre diversas aldeias guaranis do Rio Grande do Sul, é alertar sobre os problemas sociais que afetam as comunidades indígenas e “a natureza como um todo”. Xadalu assinala: “Em cada aldeia por onde passo tento deixar um pedaço de meu coração. E no lugar desse vazio trago os amores e dores de uma cultura linda e sofrida, quase destruída, mas ainda resistente e persistente. Me sinto como o jabuti, o mensageiro que leva e traz a informação”.

Foto Bruno Alencastro
Para o artista plástico André Venzon, “Xadalu denuncia a destruição da cultura indígena e, tal como um Quixote dos nossos tempos, tem a loucura do homem que vê, é sensível e luta pelas causas sociais e ambientais. (…) Contudo, é um paradoxo que a questão indígena apareça como arte urbana, uma vez que a cultura e a arte produzidas nas grandes cidades, de modo geral, não se dedicam à natureza e a causas ambientais. (…) Porém, com ética e responsabilidade social, o artista traz a questão do índio e de seu lugar na sociedade globalizada, estampada em suas obras em adesivos, cartazes e estêncil que já deram a volta ao mundo. (…) Sua atuação cidadã tem papel crucial no advento da cidade criativa, pois, a ela, leva uma arte democrática, facilmente disponível, que está por todos os lados e para todos os públicos, simplesmente urbana, necessária e contemporânea.” O livro reproduz também a transcrição de uma conversa entre Xadalu e Toniolo, artista pioneiro na arte urbana contemporânea de Porto Alegre, amigo e influente na carreira de Dione. A conversa é mediada pela produtora cultural Carla Joner, da Joner Produções, diretora geral do projeto.
Desde o surgimento do famoso indiozinho, em 2004, Dione adotou Xadalu como seu nome artístico. Por meio de seus stickers (adesivos), cartazes e fotografias, sua intenção é repovoar os grandes centros urbanos com uma arte que denuncia, informa e conscientiza o público para a causa indígena, a arte de rua e a organização do espaço urbano. Também por meio da sticker art Xadalu monta uma rede de trocas e intercâmbios (pelo correio e internet) com artistas e colaboradores, que ajudam a espalhar sua obras pelas cidades do mundo. Hoje, o Xadalu está presente em 60 cidades ao redor do mundo.

Foto Bruno Alencastro
Caderno pedagógico
Além de textos e imagens, a publicação traz um caderno pedagógico destinado ao público infanto-juvenil. Com a colaboração de Patrícia Ferreira (Kerexu) – moradora da Aldeia Mbya-Guarani Koenju (São Miguel das Missões/RS) – o caderno traz, além de páginas para colorir, “o conceito de espacialidade, lugar, paisagem e sonho na perspectiva Guarani, propondo exercícios reflexivos a partir desses termos”. O caderno pedagógico será usado nas disciplinas de Educação Artística das escolas de quatro comunidades indígenas do Rio Grande do Sul – Aldeia Koenju (São Miguel das Missões), Aldeia Pindó Mirim (Itapuã, município de Viamão), Aldeia Nhundy(Águas Claras, no município de Viamão) e Aldeia Pindó Poty (bairro Lami, município de Porto Alegre) –, que receberão, ainda, a doação de 40% da tiragem dos livros.
Confira a seguir mais alguns trabalhos de Xadalu:

Foto Cristiano Lindenmeyer Kunze

Museu dos Direitos Humanos do Mercosul, Porto Alegre

Foto Fabio Pinheiro

Arte Xadalu nas ruas