Grostein é meu amigo querido e temos diálogos e várias afinidades, apesar de nossas histórias de vida radicalmente distintas (ele, um gay branco, filho da elite paulistana; eu, um gay nordestino que viveu na extrema pobreza e me identifico com o lado negro de minha miscigenação) e de algumas diferenças na forma de pensar a política, militamos lado a lado em várias agendas.

Essa carta em resposta à sua última coluna na Veja é parte de um diálogo que mantemos também na esfera privada. Fernando traçou um panorama político sobre partidos que não estão no “mainstream” da política nacional, correndo por fora como opções em meio à crise de representação política que tem feito vítimas tanto à esquerda quanto à direita do espectro político nacional.

Em seu texto, Fernando sugere uma suposta polarização entre o Partido Novo e o PSOL, argumentando que um tem muito a aprender com o outro, algo com que obviamente não concordo.

Posta como foi, a comparação é impossível porque esbarra em lugares-comuns, generalizações e, sobretudo, ignora justamente aquilo que não deveria, em hipótese alguma, ser esquecido: pautar o debate político pelo “ineditismo” de legendas e candidatos, ou mesmo pela questão moral, é uma armadilha perigosa! A crise política é, sobretudo, uma crise estrutural. Ela não surge nos “velhos políticos”, mas na forma como o poder está a serviço de grandes grupos financeiros, e são esses grandes grupos que fazem com que políticos como Eduardo Cunha tenham declarado quase 50 reais em doações oficiais por voto recebido na campanha de 2010.

Renovar a política a partir da mesma estrutura deveria parecer um tanto ilógico!

Não importa se essa estrutura agora se apresenta com um discurso de redução do Estado, porque ela se dá na diminuição de serviços públicos e garantias sociais, enquanto a realidade aponta justamente o aumento da dependência do setor privado.

Aquilo que Grostein classifica como “visão rancorosa do sistema financeiro” é, na realidade, a visão realista de que o interesse desses grupos econômicos no governo é o lucro.

E esses grupos, entre eles o Citibank – cujo ex-vice-presidente assumiu, no início do mês de julho, a presidência do Partido Novo -, hoje se aproximam de Temer e sua equipe a fim de “colaborar” com o pretendido processo de privatização, para que ele se alinhe “com os interesses dos mercados de capital privado” – palavras de um dos diretores do Citigroup à BBC.

Não é que nos sobre rancor contra o sistema financeiro ou nos falte acúmulo sobre ciências econômicas: na verdade, isso é o que falta aos partidos liberais, na medida em que nós incorporamos mais recortes na análise sobre economia. Na verdade, eles se atêm a dados frios e negligentes sobre as condições materiais de vida, sobretudo dos setores mais oprimidos, a partir da visão de mundo de quem nunca precisou conviver com a pobreza e tantas outras desigualdades sociais.

Se há deficiência na administração pública e se o dinheiro se esvai nos ralos da corrupção, o caminho é aprimorar o modelo de gestão, torná-lo transparente e cada vez mais justo, conforme disposto no próprio texto Constitucional.

E isso passa pelo fim – e não pelo reforço – do romance entre governo e banqueiros, ruralistas, rentistas e demais grupos financeiros. Esta sim é uma visão nova! Ao fim e ao cabo, o novo de fato somos nós, que buscamos não apenas a justiça, mas também a liberdade plena do indivíduo. Rejeitamos totalmente a ideia de polarizar com a nova embalagem para velhas ideias!

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Nota: corrigimos a informação sobre o cargo que o presidente da legenda ocupou no Citibank