Vossa excelência está eternizado em nossa história, mas hoje quem vai narrar o enredo é aquele preto que vem do gueto, e vê amor no seio da mãe que amamenta sonhos, sem sequer ter a segurança de uma comida no prato.

Caro Jair, o Brasil não é um ambiente propício para a condução coletiva, por meio de frases de efeito, violências verborrágicas, plantio e disseminação do ódio ao diferente, além de meros clichês vazios. Somos avessos à idolatria personificada artificialmente, que leva a exaltações de falsos heróis ou mitos, impostos por interessados em contar a cordial história do mito da democracia. Enfim, capítulos tão rasos quanto o ideal que alguns exalam, pelo combustível do interesse de ocasião, na construção de um personagem ou de uma cena.

Somos contra a negação ao simples padrão de respeito e à permanente síndrome de vitimismo, porque afinal de contas, somos uma gente acostumada com dignidade, honestidade, afeto e gentileza nas relações interpessoais. O Brasil sempre impôs barreiras, pela natural vocação de seu povo, ao surgimento de discursos “populistas às avessas”.

Jair, você conseguiu despertar o pior que habita cada um de nós. Você separou famílias e mandou a alegria e a democracia para a UTI. Mas sobrevivemos e, mais que isso, viveremos. Vamos reescrever uma nova história, um outro amanhã e um novo país.

E aqui, vale lembrar, falamos de mais de três décadas de vida pública, que contabilizam horas de trabalho incompatíveis com a eficiência mínima de um cidadão que ocupou cargos em posição de tamanha relevância para a sociedade e do DNA aguerrido de quem habita nossa pátria fortemente amada, e historicamente desarmada.

Somos sumo de rejeição aos que fogem às responsabilidades de seus erros e apontam o outro, Jair, como escudo para suas falhas, sejam elas nas atribuições da política, sejam elas em lacunas de caráter. Somos opostos aos que dizem, no exercício de uma função pública e com um mandato que deveria sustentar a harmonia, que preferem um filho morto a um filho homossexual, ou que defendem salários menores às mulheres, “porque elas engravidam”. O brasileiro e, garanto-lhe, nós da classe artística, somos contra fascistas – vocês não passarão e a urna eletrônica prova isso.

Gente assim, quando não idolatra a si mesmo, exalta a escória da sociedade. Um exemplo? Tipos como o comandante Ustra, torturador de Dilma Rousseff.

Esse país é avesso a quem estimula uma guerra diária de palavras e de ideias, como se a vida fosse uma eterna disputa pela aniquilação do intelecto alheio e a promoção de ofensas ao diferente. A vida é uma grata oportunidade para ganharmos novos aprendizados, e não um tóxico e eterno padedê à beira do precipício, Jair.

Agora vamos construir um novo cenário para o Brasil, a partir da superação completa do erro de nossa gente que, em parte, foi manipulada e, simultaneamente, também viram os racistas, homofóbicos, escravocratas, maliciosos e oportunistas de sempre, sairem dos esgotos. Infelizmente, foi permitido um retorno à Era Medieval.

Esta licença poética, que nunca foi poesia e muito menos deveria ter ocorrido, chegou ao fim. Elegemos quem entrou para a História por apresentar competência no plano de governo e um equilíbrio na exposição de seus argumentos e de suas ideias, transformando a realidade dos mais pobres, favorecendo a mobilidade social, o crescimento e desenvolvimento econômico, bem como a expansão absoluta da juventude desafortunada nos espaços universitários, em volume nunca conhecido pela sociedade brasileira.

Trouxemos de volta à ativa, quem soube conduzir o Brasil colocando hierarquia prioritária nas decisões que interessam os saltos significativos das camadas vulneráveis. Elas devem caminhar, desta forma, diariamente. Demoramos séculos a darmos os primeiros passos significativos e a Casa Grande gritou. No entanto, hoje, ela fica rouca e com a panela furada.

Mas não podemos negar, Jair: você entrou para a História do Brasil como o maior erro de nossa gente, com a diferença que os fatores que levaram ao equívoco foram manipuladores o suficiente para inocentarmos cada brasileira e brasileiro que se arrependeu. Você não deixou dúvidas e foi eficiente – há que se destacar – ao menos em um ponto: vossa excelência por mérito próprio conseguiu ocupar o cargo de pior ser humano que as páginas de nossos quase 523 anos de História registram a neste solo pisar. Apesar de você, amanhã há de ser outro dia, e será. Mas lembre-se: nós aprendemos com os erros e, ao contrário do que alguns ousam achar, somos um povo de boa memória e sabedoria popular. Afinal, isto é o que a urna nos permite concluir. E vamos combinar, ao teu lado não tivemos um só minuto de tranquilidade e nos perdemos, algumas vezes, no caminho. Porém, no Brasil a coisa é séria e, Jair, chegou o seu ponto final.

Renegado – Rapper, Cantor e Compositor

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