Subsídios teológicos anti-bolsonarismo

“Todo o domingo, um diácono leva a família conjuntamente para Igreja: a mulher, seu filho e filhas. Todos a igreja tem a família como parâmetro de fé. Sempre muitos prestativos, educados e acolhedores. Ocorre que em um retorno do trabalho, a mulher foi obrigada a pegar carona com um colega de trabalho. Quando chegou em casa, e o marido a viu sendo deixada no quintal, saiu abruptamente pegou a esposa pelo braço e jogou-a no chão. A mais velha viu o que fizera com a mãe e, em choque, grita com o pai: o senhor é uma imitação de crente! Maldito homem você é, não é de Deus – pegando na mão da sua mãe” (Adaptação de texto da internet).   

Diante dos picos da pandemia de Covid-19, ocorridos no início de 2021, Bolsonaro imitou recorrentemente as pessoas com falta de ar fazendo chacota dos milhares de pessoas (e famílias) que morriam por causa do vírus no Brasil (como a arte abaixo indica).

Foto: Divulgação

Sua primeira zombaria foi gravada em 19 de março de 2021 quando falava do tratamento indicado pelo ex-ministro de saúde Luiz Henrique Mandetta ao vírus. Imitou justificando o que chama de “tratamento inicial”. Tratamento esse que não é indicado pelos organismos internacionais de saúde, e que foram responsáveis por milhares de mortes no país. A segunda zombaria ocorreu quando voltou a criticar o ex-ministro Mandetta como queridinho da Globo, ridicularizando novamente pessoas com falta de ar.

Quer dizer, diante de milhares de pessoas morrendo de Covid-19, em sua maioria a partir dos sintomas de falta de ar, Bolsonaro, o presidente brasileiro, ofereceu aos brasileiros a zombaria de como estavam morrendo.

Um homem que louva a morte e zoa da dor das pessoas pode governar?

A pergunta que não quer calar é esta: diante das zombarias recorrentes com os doentes e mortos pelo Covid-19, como esse senhor segue governando? A pergunta é substancial porque é importante para qualquer liderança a empatia. O respeito, o carinho pelos concidadãos é imprescindível para quem quer governar. O presidente, tão defendido por pastores, padres, bispos, diáconos e presbitérios como “presidente ungido”, deveria estar no mínimo mais bem assessorado pelas lideranças cristofascistas que o cercam. Se fosse uma pessoa sensata e digna, ele deveria pelo menos mostrar alguma humanidade publicamente e se compadecer dos milhares de brasileiros que morrem por Covid-19, e diversas sequelas como complicações devido à falta de ar.

De fato, é por essas e outras atitudes que é tão difícil reconhecer Bolsonaro como cristão. Na verdade, é difícil reconhecer essa pessoa como um ser humano que se reconhece no outro e se compadece de quem sofre e passa necessidade. Ao escrever aqui sobre a atitude de Bolsonaro, lembro da teologia bíblica, de um profeta chamado de Miqueias, que profetizou em Jerusalém, por volta de 701aC. Miqueias denunciou os ricos, os poderes opressores, as lideranças que roubam os pobres, que traçam ruindades em reuniões à noite, que desprezam a vida humana juntando terras e liderando as nações a partir das mortes dos indefesos. Assim, a comunidade de Miqueias gritou: “Ai daqueles que tramam maldades, que, mesmo repousando em suas camas, planejam CRUELDADES. E, logo que o dia amanhecer, executam os planos malignos, pois tem poder pra isso” (Miqueias 2.1).

O que seria viver a imitação de Cristo?

Assim, lendo o texto bíblico volto a perguntar: que espécie de humano zombaria dos mortos de seu próprio país, zombando de amigos, amigas, filhas, filhos, mães e pais, avós e avôs? Como esse tipo de sujeito seria chamado pelo profeta Miqueias? Respondo com base no texto bíblico: seria chamado de “cruel” (Mq 2,1), “maldito” (Mq 2,4), e ainda: “não fazem parte de mim” (Mq 2,9).

Ora, se o argumento cristão está sendo utilizado para manutenção desse governo genocida no poder, então está faltando a esse presidente um dos elementos mais importantes e belos da fé cristã de acordo com seus fiéis seguidores. É o que está escrito na carta de Paulo aos Gálatas: “Mas o fruto do Espírito é AMOR, alegria, PAZ, paciência, BONDADE, fidelidade, MANSIDÃO, domínio próprio. Contra estas cousas não há lei” (Gálatas 5.22s).

Ou seja, aquilo que a teologia tradicional chama de sinais “visíveis” para se dizer cristão é ter e demonstrar PAZ, AMOR, BONDADE, COMPADECIMENTO, MANSIDÃO. Com base nisso, é importante afirmar politicamente: @jairnaoecristao. Ele não é. Ele é apenas uma imitação falsa da fé cristã. Uma FARSA. Um imitador ENGANOSO que tenta colar sua imagem na pele de um cordeiro, mas escondendo o lobo que nele se abriga. Ter um presidente como Bolsonaro e o apoio a ele se manifesta como caso acima do diácono que violenta a mulher, que obriga a família a mostrar uma aparência de felicidade. Bolsonaro representa e é representado por esses homens violentos que, de fato, como a filha disse: “é imitação de crente (…) não é homem de Deus”.

Ora, é urgente nos darmos conta de que faz parte da caminhada cristã mais elementar a busca dos frutos do Espírito que Paulo deixou registrado na Carta aos Gálatas, capitulo 5: a defesa necessária e urgente da COMPAIXÃO, DA BONDADE, DA MANSIDÃO, DA PAZ, DO DOMÍNIO PRÓPRIO, DO AMOR E DA ALEGRIA !

@jairnaoecristao

Referências bibliográficas:

HAHN, Noli. Miqueias 2,1-5: profecia e luta pela terra. São Paulo, Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, 1992. (dissertação de mestrado).

PY, Fábio. Padre Paulo Ricardo: trajetória política recente do agente ultracatólico do cristofacismo brasileiro, Tempo & Argumento, v,13, n34, 2021.

SCHWANTES, Milton. As monarquias do Antigo Israel. São Leopoldo e São Paulo: CEBI e Paulinas, 2006.