Por Rozana Barroso

Em 1837, éramos proibidos de frequentar escolas. Em 1888, após a assinatura da Lei Áurea, depois de grandes mobilizações e luta árdua do povo negro, uma das primeiras reivindicações era a garantia de educação para crianças negras. Falta de moradia, fome e marginalização, tornaram aquela realidade uma das grandes causas de até hoje sermos a maioria nas piores estatísticas. Nos tiraram o direito de viver, comer e estudar.

Num país construido por nós, mas onde brancos detêm maior renda, a história do povo negro e indígena deve ser relembrada para que jamais se repita. Esse foi um dos pontapés do início da luta por reserva de vagas nas Universidades, já que até os dias atuais, muitos de nós são impedidos de acessar o direito à educação. Em 2002, tendo Universidades Estaduais no Rio de Janeiro e Bahia como pioneiras, a luta se fortalece chegando também em 2004 na UNB, em Brasília. Se não partíssemos do mesmo ponto, jamais poderíamos disputar de igual para igual com quem reivindicava mais vagas de carro na universidade.

Acelera esse texto em 2x e pula para 2012, ano em que a Lei de Cotas é sancionada no Brasil. Garantindo assim, 50% de vagas para oriundos de escolas públicas, negros, indígenas e pessoas com deficiência. A partir disso, começamos a pintar o ensino superior de povo, usando uma das muitas medidas para uma reparação histórica. Viramos matéria em todo o Brasil, chegamos com tudo nas salas de aula. Passou a ser sonho entrar no ensino superior, para aqueles jovens que antes tinham apenas o subemprego como perspectiva. E agora, após 10 anos dessa lei, precisamos acompanhar a sua revisão. Mesmo com experiência vitoriosa, deputados de extrema direita tendem a defender o seu fim. Alguns afirmarão que essa política já cumpriu seu papel, outros deixarão explicito a insatisfação de ter mais de nós na universidade, já que o último governo dizia aos quatro ventos que esse não era um espaço para filhos de pedreiros.

Mas a verdade é que a pandemia e a negligência do governo Bolsonaro, retrocedeu a maior parte desse avanço. Em 2021, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) teve a edição mais branca da história. A exclusão digital impossibilitou que as aulas fossem acompanhadas e a fome bateu forte em nossa porta. Muitos de nós foram obrigados a deixar esse sonho para trás. Com isso, a permanência das cotas no Brasil é prioridade número um para quem defende a educação. Jovens negros, indígenas, com deficiência e oriundos de escolas públicas, foram injusticados nesses últimos dois anos. É preciso garantir o retorno deles e a entrada da nova geração. Sem a garantia dessas vagas, isso se torna cada vez mais difícil.

O fim das cotas impossibilitaria nossa ingressão no ensino superior. Nosso lugar também é na sala de aula, porque, a partir dela, abrimos portas para nossa família e para todo o Brasil. Somos potentes e pertencentes dessa terra. É com os cotistas na linha de frente, que reconstruiremos essa nação. Olhos atentos e peito estufado. Precisamos estar prontos para defender essa importante política pública. As cotas abrem portas que jamais devem ser fechadas!

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