Foto: Dandara Arimatéa

Por Renata Renovato Martins*

Em pouco menos de 5 dias, tivemos as tristes notícias de dois casos de violências sexuais em instituições que deveriam inspirar a confiança de todos os seus usuários e principalmente usuárias: um hospital e uma universidade.

No hospital, vimos que um médico sob posse de sua função que inspira extrema confiança, se aproveitou da vulnerabilidade de uma paciente desacordada para cometer um abuso cruel que nos deixa sem palavras. Na universidade, um lugar onde circulam muitos jovens, em busca de uma vivência saudável, houve um episódio no dia 8/07 de violência a uma jovem de 18 anos.

Na última segunda-feira (11), estudantes, conjuntamente ao coletivo JUNTAS, fizeram parte de um ato que reivindicava mais segurança para as estudantes no espaço do campus Darcy Ribeiro na UNB, onde ocorreu a violência.

A universidade emitiu uma nota de repúdio à violência e o caso segue sendo apurado e acompanhado pelos órgãos competentes. Mas, apesar da mobilização social de uma população consciente, da prisão do médico abusador e da própria resposta da UNB frente ao ocorrido, fica em nós uma sensação de impunidade, de indignação e de medo.

Devemos nos perguntar, o que esta havendo? De onde esses homens estão saindo? Porque tantas violências sexuais contra nós mulheres? Apesar de tantas perguntas sem respostas, podemos começar por alguns pontos em comum nesses e em muitos outros casos iguais a esses: O primeiro ponto é a utilização da vulnerabilidade da mulher no momento do ataque.

O segundo ponto, é a tamanha perversidade do ato, ambos abusaram de corpos femininos vulneráveis em condições desamparada: uma mulher dopada prestes a gerar uma vida, e uma jovem estudante caminhando só pelo campus onde estuda.

O terceiro ponto, e não menos importante, é que ambos eram homens. Sim, homens que fazem de seus lugares de privilégio, seja pela força física, seja pelo status social, um recurso para agredir, coagir, ferir, abusar.

Isso não é, infelizmente, uma coincidência de casos. É o resultado de uma cultura de perversidade que permite que pessoas saiam de suas casas com a intenção de matar e ferir e retornarem como se nada tivesse ocorrido, pelo fato que não tenham sido descobertos.

Então, seguimos perguntando… até quando casos como esses farão mulheres vítimas desses horrores provocados por homens? Além de todas as medidas de segurança possíveis, de lugares como universidades escolas e hospitais, devemos começar a tomar novas medidas para não precisarmos chorar tantas outras vezes por nossas irmãs.

Vamos falar de feminismo, ensinar o feminismo e espalhar o feminismo onde pudermos. Vamos educar nossos homens, sim, os homens dessa sociedade que clama por união e amor. Se ainda há, nesta sociedade, homens que pensam que possuem algum poder por seus corpos e privilégios, vamos ensiná-los que o maior dos privilégios é conviver pacificamente, sem agressão e abuso.

Vamos sugerir leituras sobre o feminismo nas escolas, nas universidades, nas mídias educativas e onde mais for possível. O feminismo não é só da mulher, é de todos nós, mulheres e homens. Se os homens não aprenderem sobre feminismo, levantaremos bandeiras por nós mesmas, para nós mesmas e seguiremos acuadas em uma disputa sem fim.

* Renata Renovato é Mestre em Filosofia (Puc-Rio), professora de Filosofia e História da educação básica (na rede estadual do Rio de Janeiro), e psicóloga/ psicanalista: participante do Corpo freudiano ( escola de psicanálise do Rio de Janeiro)

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