Sexo, esporte e Zendaya. Com ingredientes premiados, Luca Guadagnino entra em campo com todos os elementos para vencer. E, galera… Que vitória afrodisíaca.

Além do diretor, Zendaya, produtora do filme e queridinha de Hollywood do momento, traz para seu jogo Josh O’Connor, talento inglês reconhecido em The Crown, e Mike Faist, “desconhecido” que já ganhou Grammy, Emmy e tem indicação ao Tony, nos presenteando com o roteiro perfeito para um desfile erótico que nunca achei que estaria relacionado ao mundo do tênis.

E o deleite começa pelos personagens: ninguém ali presta. Patrick é um filhinho de papai que faz cosplay de atleta incompreendido, Artie é sonso o suficiente para assistir o circo pegando fogo e dizer “nossa, quando cheguei já estava assim” e Tashi é a protagonista que queremos ver, já que ninguém aguenta mais só história de mulher sofrendo. Tashi é a mulher empinando de moto, mulher dando tiro, mulher trambiqueira.

Todo mundo ali trai todo mundo. Patrick se trai o tempo todo, com medo do que seria se realmente se aplicasse na sua profissão, Art trai seu público ao se apresentar como pau mandado, enquanto só faz o que faz para manter sua mulher presa a ele e Tashi literalmente dorme com o melhor amigo do seu marido pelo menos duas vezes. Zendaya não apelidou o longa de “Codependência”, o filme, à toa – há um acordo implícito de que eles se usam para continuar vivendo e, a cada vez que isso é confrontado, precisam jogar uma partida para aliviar o stress.

Aqui, pausa para referendar a atuação de todos, Josh sendo meu favorito, mas principalmente Zendaya por comandar um time mais experiente que ela, e por quebrar a minha visão machista sobre a atriz (que ainda tenho com Ariana Grande, infelizmente). Na minha cabeça, Z não vendia sexo. Vendia classe, beleza, moda, consciência racial, mas não sexo. Desta vez ela me vendeu o Kama Sutra inteiro.

Por isso, digo sem medo: temos nas nossas mãos um filme sobre gozar.

Como defensora da sensualidade e avessa à imagem ora sexualizadora, ora conservadora de Hollywood, “Rivais” entra para minha lista de filmes onde o sexo foi bem feito.

Aqui, nenhuma nudez foi castigada, e a única realmente explorada foi a masculina. Nu frontal, traseiro, pernas abertas com toalhinhas em uma sauna, takes sorrateiros vindo por trás enquanto eles empinam tal qual minhas músicas favoritas cariocas ordenam. Realmente, ah que que é isso, os homens estão descontrolados, eles comem banana, eles se beijam, eles estão descontrolados.

E Luca não cai na armadilha que seria apresentar o sexo puramente como hétero ou gay. Se sexo fosse fan service neste filme, todos os fandoms sairiam satisfeitos, mas teriam aprendido algo sobre sua sexualidade que não contariam pra ninguém. É algo que os gregos já sabiam, sexo é sexo e, com exceção dos assexuais, se tirarmos as amarras sociais, todo mundo gosta de ser tocado, lambido, mordido, não importa o gênero de quem te puxa os cabelos.

Guadagnino sabe o que faz e, explicitamente falando, para por aí. Mesmo que Zendaya desfile de calcinha e sutiã em metade das cenas do passado das personagens, o sexo mesmo acontece na quadra. As partidas de tênis tomam o lugar do coito – Art e Patrick se masturbam quando jogam em duplas ao vencer o campeonato, os meninos ficam duros vendo Tashi gemendo alto em sua vitória, e tudo termina num ménage à trois em um tie break abusado.

O engraçado, inclusive, é que a maioria das preliminares reais são interrompidas. Sempre tomando as decisões, Tashi adolescente se entedia com a sessão de amassos depois de provar seu ponto, sua versão universitária interrompe os pegas porque Patrick não era bom o suficiente e quando adulta chora na cama com a iminência do fim de uma era do seu relacionamento (com o tênis).

Outros dois elementos do filme são seus pontos fortes e fracos ao mesmo tempo – a edição nos presenteia mantendo pontos de vista super interessantes, fazendo-nos sentir a tensão vindo do de um lado e do outro da quadra, mas ao mesmo tempo nos distrai em momentos importantes. E a trilha nos embala no ritmo alucinante dos quadris dos três, ao mesmo passo que faz a gente se perguntar se essa música não tá alta demais pra esse momento.

De qualquer forma, nada atrapalha a performance do trisal, especialmente ao longo de um filme que não vemos nenhum outro personagem significante, nem mesmo a filha que Art finge amar e Tashi claramente ignora.

Pela segunda vez este ano, pode-se dizer que um filme estrelado por Zendaya termina em suspense, sem sabermos qual é o desfecho de fato. Mas, claramente deixa uma pergunta no ar:

E aí, foi bom pra você?