Acompanhei o pronunciamento, em cadeia nacional, do presidente da República, a respeito da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador da doença Covid-19. E vejo, com preocupação, a guerra que se instaurou entre ele e os governadores dos Estados. No epicentro desta batalha de entendimentos, a falsa dicotomia entre salvar vidas, com as medidas sanitárias de isolamento social; ou salvar a Economia, para que uma recessão ainda mais forte, decorrente da paralisia em função da quarentena, não venha a agravar ainda mais a já delicada situação da Economia Nacional.

Não sou sanitarista, epidemiologista ou infectologista. Mas, segundo os profissionais da área, uma das questões cruciais em epidemias e pandemias virais é que o vírus tem um ciclo de infestação, incubação, manifestação dos sintomas e cura. O que tem que ser evitado é o ponto “ótimo” da curva de infestação e isso só é possível de duas formas: com imunização (vacina) ou com isolamento social. Para o novo coronavírus, ainda não temos vacina. O que nos resta é o isolamento.

É claro que é mais confortável falar sobre quarentena e suspensão de atividades laborais para quem é servidor público que, mesmo afastado, vai receber o salário no fim do mês. É menos tranquilo para quem é celetista, que se vê ameaçado por propostas legislativas de redução de carga horária e suspensão de pagamento de salários por até quatro meses. E é completamente desesperador para aqueles que são autônomos ou trabalhadores informais, que têm que sair para trabalhar de qualquer jeito, sob pena de prejudicarem o seu ganha pão. Há a necessidade de equilíbrio nessa história e isso não é simples. Mas, também não é um bicho de sete cabeças que, de tão complexo, não possa ser compreendido. É necessário bom senso.

Fato é que os primeiros 15 dias de alastramento do vírus são cruciais. Depois disso, é possível se proceder com avaliações de cenário e, a depender das estatísticas, ir liberando algumas atividades aos poucos. O correto é somente tomar medidas após uma rigorosa avaliação, que passa por todos os fatores: fitossanitários, epidemiológicos, econômicos, sociais. Pode ser que, a depender das análises, se possa flexibilizar a quarentena e adotar outras formas de isolamento, diferentes do lockdown, deixando em casa quem é de grupo de risco, liberando parcialmente as atividades mais essenciais da indústria e do comércio, depois as escolas e assim por diante. Vai se reduzindo gradativamente o isolamento, a medida em que vai ocorrendo a imunização natural, que decorre daqueles que são infectados, mas, não manifestam os sintomas.

A quarentena não vai durar para sempre. Mas, o retorno às atividades têm de ser precedido de alguns cuidados. Não dá para retomar à vida normalmente, como se nada estivesse acontecendo e como se não fosse necessário uma preparação que permita a adoção de algumas práticas excepcionais. Antecipar, assim, o fim do isolamento social é irresponsabilidade. Fazer campanha, paga com dinheiro público, para que as pessoas retornem ao trabalho, é uma insanidade.

No próximo texto, faremos uma reflexão sobre se o Estado, o mercado e a sociedade civil estão preparados para lidar com situações extremas como essa.

Até amanhã!

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