Mesmo com todo turbilhão político que tem assolado o Brasil nos últimos dias, ainda há tempo para ler, ouvir ou assistir coisa nova. Confira as dicas dessa semana dos nossos colunistas:

Jéferson Assumção

A Instrução da Noite – Rocco, 2016

18601269_10213489769099845_187704289_nA literatura brasiliense anda se destacando ultimamente. E um dos nomes mais bacanas é o do Maurício de Almeida, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura – Contos em 2008, e este ano do Prêmio Off-Flip, também na categoria contos. O campineiro nascido em 1982 e radicado há sete anos em Brasília publicou apenas dois livros: o premiado Beijando Dentes (Record) e a ótima novela A Instrução da Noite (Rocco, 2016). Com uma prosa poética, metafórica, densa e muito bem tecida, este último tem chamado a atenção por nadar contra a corrente de uma escrita mais límpida e realista – quase jornalística – bem presente na nossa época. Dialogando com a prosa poética de Raduan Nassar, Clarice Lispector e Caio Ferando Abreu, entre outros, Maurício de Almeida consegue em A Instrução da Noite o efeito de uma voz própria para além do simples eco desses mestres da prosa brasileira. Vale muito a pena. É literatura ninja!

Manoela Miklos

Me Erra – Garotas Suecas 

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“Me Erra”, single recém lançado da banda paulistana Garotas Suecas tem sido minha obsessão. Cantarolo noite e dia. Um hino antiassédio e contra relacionamentos abusivos. O novo rock da Pompéia, tão disruptivo quanto seus predecessores, vem nos botar para dança ao som do zeitgeist. Na voz doce e rouca de Irina Chermont, o eu lírico afirma: “Eu já percebi que dar corda pra você, tentar te satisfazer nunca vai adiantar.” E termina definitiva: “O meu perdão é insignificante pra quem na vida só me causou mal. Mas é assim que a banda toca, então fica aqui um recado pra quem é baixo astral: me erra.” A pegada soul, assinatura da banda, a ternura convertida em raiva e ao fim sublimada em desdém, a melodia simples mas sofisticada… Tudo nessa canção embala nossa luta por igualdade de gênero, por direitos e, principalmente, por uma vida em paz – livre de violência, assédio, abuso. Livre.

Cláudia Schulz

O Tribunal da Quinta- Feira – Michel Laub

62624902_SCcapa-de-O-tribunal-da-quinta-feira-novo-romance-de-Michel-LaubJulgamentos morais nas redes sociais: a antítese da ideia de justiça e da hipocrisia social! Ações e atos do privado, que por extremismos e não pragmatismos, são jogados em audiências públicas digitais. Michel Laub, em seu romance, traz por meio da narrativa em primeira pessoa a história de um publicitário que faz confissões por e-mail ao seu melhor amigo sobre sexo, traição, amor e Aids em linguagem chula e ofensiva. Um dossiê composto por recortes destas mensagens feito por sua ex-mulher, vaza nas redes sociais e o desfecho é um julgamento com um réu, múltiplos juízes, testemunhas e espectadores.

De escrita direta e de pouco sentimentalismo, O Tribunal da Quinta- Feira possui uma forte verossimilhança à realidade. Impossível ler e não vir a mente inúmeros casos de inquisições digitais que levaram a limites extremos às vidas de diversas pessoas e que não possuem mais volta.

Laio Rocha

Os Panteras Negras – Mario e Melvin Van Peebles

Panther-1995-Hollywood-Movie-Watch-Online1Uma obra essencial para quem quer entender como o Movimento Negro representou autonomia e construção de consciência para os negros dos subúrbios e guetos. Por outro lado, representa a força do estado contra esses movimentos, a forma como atuou para dizimá-los, assassinando líderes, distribuindo drogas como a heroína e o crack nas periferias, criando a Guerra às Drogas para encarcerar e escravizar pessoas. O recado é simples: somente através da construção de unidades fortes e autonômas a partir da base da sociedade é que podemos reagir a esse estado assassino e racista. “Todo poder ao povo!”