por Bárbara Barboza e Selma Gomes*

Neste Dia Internacional de luta das Mulheres, é fundamental destacar o papel das mulheres periféricas, ribeirinhas, indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, agroextrativistas, marisqueiras, pescadoras artesanais e tantas outras lideranças incansáveis na luta diária pela preservação dos seus territórios tradicionais, pela efetivação dos direitos humanos e pela conservação da agrobiodiversidade e de áreas de floresta nos seis biomas existentes no Brasil. Mas a contribuição dessas mulheres ainda é invisibilizada e pouco reconhecida por grande parte da sociedade.

A situação é agravada pela falta de dados e desconhecimento sobre suas culturas e práticas. Poucos sabem, por exemplo, que elas ocupam uma posição de liderança em suas comunidades. Elas desempenham papéis cruciais em todos os níveis de organização, da transmissão dos saberes tradicionais com relação à biodiversidade, ao cultivo de sementes crioulas, beneficiamento de recursos florestais e sua transformação para fins econômicos, também indispensável para o sustento das famílias nesses territórios.

Outro aspecto determinante por trás da invisibilidade é o desafio das lideranças femininas de ocuparem  espaços de tomada de decisão, que são majoritariamente compostos por homens brancos da elite econômica e política do país. Elas ainda são excluídas dos debates e processos democráticos dentro da gestão dos recursos naturais. A urgência da discussão sobre Justiça Climática sob a perspectiva dessas mulheres é evidente.

Mulheres na linha de frente da proteção ambiental enfrentam ameaças e agressões baseadas em gênero, raça e território, e sofrem também com a falta de apoio governamental. Diante desse cenário, organizações da sociedade civil devem ter o compromisso de fortalecer o trabalho das defensoras das florestas, atuando ao lado delas, desenvolvendo ações com foco na incidência política e advocacy para a garantia de direitos e maior representatividade.

“Das Nices e Dijés – Mulheres das Águas, do Campo e da Floresta” é um exemplo de projeto cocriado com as organizações que representam as populações tradicionais. Apoiado pela Oxfam Brasil, conta com a experiência da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e MIQCB (Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu).

Em 2024, o projeto entrou em seu segundo ano de atuação e avança com seu propósito, lançando uma série de recomendações elaboradas coletivamente e direcionadas ao governo federal, estadual, municipal, sistema judiciário brasileiro, sociedade civil brasileira e comunidade internacional. Entre os caminhos apontados, destacam-se o fortalecimento da educação contextualizada, o acesso à justiça e a criação de mecanismos de compensação pelos serviços ambientais prestados por essas comunidades e a consolidação dos territórios de uso sustentável.

O projeto também deu origem à campanha “Onde Tem Floresta em Pé, Tem Mulher!”, que tem como objetivo principal o reconhecimento dessas mulheres, a partir do registro de suas histórias e toda dedicação delas para um futuro de mais ações em prol da justiça climática. É imperativo que a sociedade entenda que a luta das mulheres pelos territórios, pelos recursos naturais e contra o racismo ambiental é, sem dúvida, uma luta pela sobrevivência de todos.

 

*Bárbara Barboza é Coordenadora de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil e Selma Gomes é Coordenadora de Justiça Climática e Amazônia da Oxfam Brasil

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