Por Camila Marins

17. Este foi o número de declarações falsas proferidas pelo candidato Jair Bolsonaro no debate deste domingo, na TV Bandeirantes. Este valor foi contabilizado a partir da apuração do site Aos Fatos, e ainda pode aumentar se considerarmos declarações dúbias na categoria “Não é bem assim”. Um presidente da República que se sente confortável em dizer mentiras e trazer desinformação para a população, traz prejuízos incalculáveis para a democracia. E vivenciamos isso no Brasil à época do golpe ao mandato da primeira mulher presidenta da República, Dilma Rousseff, vítima de uma rede política, jurídica e midiática que atentou contra sua honra e a difamou num ambiente de violência de gênero.

Jair Bolsonaro emitiu mentiras ao vivo em rede nacional em TV aberta com transmissão que bateu recorde nas redes sociais, sem qualquer intervenção que não fosse a de seu adversário durante o debate. Isso não é aceitável, principalmente quando consideramos que TV e Rádio são concessões públicas que exigem responsabilidade social. Passou da hora das empresas de comunicação montarem uma redação de checagem de fake news em tempo real dentro do estúdio no qual ocorre o debate com possibilidade de confrontação da informação. Isso é jornalismo e compromisso com a democracia na qual a palavra deve ser sempre o principal instrumento do exercício do poder – acima da força, da coerção, do medo e da autoridade.

Afinal, o que podemos esperar legitimamente de um debate? Este deveria ser um espaço de confrontação de argumentos e ideias, e não de disseminação de desinformação e mentiras. A arena política formada nos debates organizados pelos meios de comunicação precisa ser preservada em alguma medida, e não se transformar em mera disseminadora e catalisadora de discursos inflamados e amparados em fake news. É preciso trabalhar para criar um espaço de debate efetivamente público, que retire os postulantes a cargos de grande responsabilidade do conforto de suas “bolhas”. É preciso combater a demagogia para viabilizar a democracia.

Durante o mandato de Bolsonaro, nós, jornalistas, vivemos agressões, ameaças, censuras e perseguição institucional. Isso afetou principalmente nós, mulheres, que somos maioria entre as vítimas de agressões pelo presidente. As fake news e as perseguições transformaram-se em demissões, em ambientes de assédio moral, em desvalorização profissional e em descredibilidade junto à sociedade. As emissoras precisam, sim, agir com responsabilidade e isso poderia ser feito por meio da integração de uma equipe de checagem em tempo real durante os debates e pronunciamentos oficiais. Ajuda a democracia e torna a comunicação um ambiente pedagógico com foco na informação.

Obviamente que esta é uma das medidas que precisam ser tomadas durante as eleições, mas é urgente um pacote de ações para o desmonte da rede de fake news e narrativas de ódio. Dentre elas, destaco a regulação social e econômica das plataformas digitais. Precisamos de transparência dos algoritmos e das políticas de moderação destes conteúdos, dos dados de tráfego e lucro, além da taxação dessas plataformas para a constituição de um Fundo de Fomento à Comunicação Comunitária e Popular. Ainda há muito a avançar e os trabalhadores e as trabalhadoras da comunicação têm muito a contribuir na luta contra os mercadores da informação.

Camila Marins é jornalista, mestranda em políticas públicas em direitos humanos pela UFRJ e foi candidata a deputada federal pelo PT-RJ.

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