Uma parlamentar de extrema-direita enfrenta a câmera do celular com olhos arregalados, a ponto de eu imaginar que ela iria explodir. Voariam tripas para tudo que é canto logo depois de repetir o nome da Barbie mais de 15 vezes. A “live” da deputada conservadora contra o fenômeno cinematográfico foi um fiasco. Na web e na realidade, aqui fora, Barbie é um sucesso. Um sucesso do capitalismo.

Os evangélicos de araque, os políticos religiosos de ocasião, os influencers de esquina, a turma do PL, o ex-presidente e vizinho famoso do miliciano Ronnie Lessa que matou Marielle Franco, os sobreviventes do MBL. Todos eles perderam para Barbie. Aliás, para o capitalismo.

A Mattel ri quando alguém, em algum ponto do planeta, se questiona sobre o sucesso da onda rosada que invade stories do Instagram. A empresa virou duas chaves certas: a que abriu um potente cofre de 100 milhões de dólares de divulgação do filme – ou meio bilhão de reais – além daquela que ativou memória afetiva de uma geração millenial inteira.

Minha irmã de 44 anos guarda as barbies dela até hoje para dar para as filhas (nunca deu). Por que milhões de mulheres não lotariam as salas de cinema? Por que gays afeminados ou esquerdomachos “desconstruidões” evitariam de usar o melhor look rosa para causar ou dar um close pelo Iguatemi de São Paulo? São salas e salas lotadas.

Aliás, o longa ocupa mais da metade da sessões disponíveis nas principais empresas de cinema nas capitais. Aqui em Brasília, o Shopping Pier 21 – famoso point da geração Z que passeia do otaku à Richard – parece uma emissora de TV destinada à boneca. Quase 30 sessões diárias, muitas delas praticamente simultâneas. É um dia inteiro.

A aposta de conservadores no mimimi reacionário básico e conhecido para doutrinar seu público, alertando sobre possíveis pautas elencadas no roteiro sobre gênero ou família, pode até funcionar para uma parcela ruidosa, mas jamais para frear o poder inimaginável do lifestyle do consumo.

Barbie é um menu completo do caldo de capitalismo, da luta por direitos civis e da reflexão sobre identidade e pertencimento que o planeta nos trouxe até agora. E impedir esse inebriante e caro jantar oferecido no escuro do cinema é uma derrota certa para os Malafaiers.

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