Ainda vivendo em um Brasil paralelo, muitas empresas que se dizem inclusivas – aquelas que colocam “textão” no LinkedIn sobre a importância da diversidade –, barram inúmeros talentos ao divulgarem uma nova vaga, exigindo o inglês como requisito obrigatório. Em um país, onde a defasagem educacional é abismal, oferecer um curso de inglês a novos colaboradores, ao invés de exigir fluência, deveria ser o mínimo.

Uma pesquisa da British Council, em 2022, revelou que apenas 1% da população brasileira fala inglês fluentemente. Aqueles que falam o idioma, mas não de maneira tão avançada, representam 5% da população. E falar inglês reflete, não somente na inserção no mercado de trabalho, mas também no rendimento mensal: de acordo com um levantamento feito pelo site de recolocação profissional, Catho, um trabalhador fluente na língua inglesa pode ter um salário até 61% maior do que aqueles que não possuem essa qualificação.

Obviamente, os números são ainda mais impiedosos entre a população negra, cujas oportunidades educacionais básicas já são limitadas e limitantes, quiçá um curso de idiomas – que costuma ter valores elevados. Segundo informações do portal Intercâmbio e Viagem, para aprender inglês, gasta-se de R$169,00 ao mês, num curso online, à R$1.600,00, por duas aulas semanais presenciais numa escola de renome.

Valores como esses, em um país como o Brasil, cujo 29,6% da população – mais de 62,9 milhões de pessoas –, vive com renda domiciliar per capita de até R$497,00 mensais, são utópicos, para não dizer cruéis. [Informação divulgada pela pesquisa “Mapa da Nova Pobreza”, desenvolvida pelo FGV Social, com dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)].

Diante do cenário globalizado e interconectado, onde a maior parte das empresas são norte-americanas ou tem como idioma comum o inglês, ser fluente na língua anglicana, tornou-se crítico para o desenvolvimento da carreira de qualquer profissional. Porém, em um país tão desigual, a obrigatoriedade da fluência em inglês, afasta talentos e perpetua o desequilíbrio das oportunidades.

Exigir inglês, na hora de contratar um novo talento, que possivelmente terá líderes que não falam a língua, é hipocrisia. E a pergunta que fica é: quem vai mudar esse cenário?

*André Menezes é gerente de programas na Netflix. Com título de Master of Liberal Arts (ALM) in Extension Studies, field of Management (Mestre em Artes Liberais com foco em Administração), em Harvard, uma das Universidades mais prestigiadas do mundo. Desde pequeno sabia que seu esforço abriria portas para seu futuro. Criado no bairro dos Pimentas, zona periférica da cidade de Guarulhos, na grande São Paulo, seus passos ajudaram a tornar o profissional de sucesso que é hoje.

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