Foto: Mahmundi/Divulgação

 

Fazer música independente no Brasil é um grande desafio. Contudo, artistas potentes e diversas vêm movimentando a cena musical brasileira de forma inovadora e enchendo casas de shows e espaços culturais por onde passam. E foi pensando na força de artistas pretes, mulheres e LGBTs que nasceu a ideia do festival MIRA na Diversidade – Ocupa Pilotis 2023, uma iniciativa da Criamos Agência de Cultura em parceria com o Museu de Arte do Rio – MAR, para visibilizar novos artistas da cena nacional. O evento acontece gratuitamente neste fim de semana, nos dias 21 e 22 de outubro, sempre a partir das 15h no próprio MAR. Os ingressos gratuitos podem ser retirados através deste link.

Nesses dois dias serão apresentados gêneros musicais diferentes a partir de três perspectivas: MIRA no Talento das MANAS, MIRA no Talento dos LGBTs e MIRA no Talento dos PRETES. Além disso, o festival contará ainda com ciclo de debates “As diferenças no mercado da música entre pretos, mulheres e LGBTs”, composto por três mesas numa troca sobre negócios na música, todas abertas ao público e com lotação por ordem de chegada. O festival é patrocinado pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura, ANCAR e YDUQS, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS.

“Sentimos falta de um evento que celebrasse a música independente e autoral, sobretudo para artistas diversos. O MIRA nasce da vontade e necessidade de dar oportunidade para novos talentos da música se apresentarem em palcos com grande visibilidade”, explica Simone Nascimento, idealizadora do projeto ao lado de Paulo Pereira e Rafael Braga, que complementa: “Queremos dar espaço para quem está despontando no mercado independente da música, mas que ainda não participa dos grandes festivais. É um passo para ganhar visibilidade e ganhar notoriedade. Por isso o festival traz também, através de voto popular, artistas que estão começando sua carreira, para mostrar seu trabalho para um novo público, como uma chance de gerar material para seu portfólio”, reitera Rafael.

Outra atração do festival é a abertura de microfone para novas e desconhecidas vozes, que conversa muito com um projeto já existente no MAR, que também tem como visão a promoção de mulheres, pessoas negras e população LGBTQIAPN+ na sociedade. Assim, dentro da programação, haverá o Ocupa Pilotis 2023, que será o espaço onde artistas anônimos previamente selecionados se apresentarão como atração. Todo o processo de seleção, o andamento da disputa e a votação nos candidatos pode ser acompanhado através da página de Instagram do festival – @miranadiversidade. Cada finalista receberá o cachê de R$ 1.500 para dar conta de seus gastos com banda, equipe e logística.

A parceria com o Museu de Arte do Rio – MAR vai muito além do espaço físico. “A seleção de talentos que acontecerá por meio de votação popular conversa muito com o espaço, e estamos juntando esta ação num único propósito. Desde 2021 iniciamos o programa OCUPA PILOTIS que tem esse propósito de dar espaço a artistas do entorno e/ou novos talentos aqui no MAR. Além disso, a promoção de trazer mulheres, negros e LGBTs para a pauta conversa muito com a visão do MAR”, afirma Jaqueline Roversi, Gerente de Eventos do MAR.

“Artistas de todo o Brasil podem participar, mas os custos de viagem e hospedagem ficam por conta do artista. Esta iniciativa é importante para que esses talentos saiam da marginalidade que lhes é imposta pela sociedade em que vivemos. A ideia é que as pessoas saiam um pouco da rádio e do algoritmo, consumindo somente aquilo que lhe entregam. Sentimos que é importante ver e ter acesso ao novo, e é nesse sentido que o festival traz essas vozes”, complementa Rafael Braga.

Programação dos shows

A partir das 18h do dia 21 de outubro, o som fica por conta da influência carioca na música nacional. Quem abre a primeira noite é Yoùn, dupla carioca formada por GP (Gian Pedro) e Shuna cujas canções são permeadas por R&B, rap e música brasileira. Em participação especialíssima do show deles, a dona do álbum indicado ao Grammy Latino de 2019, Mahmundi, levará seu som autêntico e pleno de bossa carioca. Na mesma noite, Azula, uma cantora trans nascida em Bangu, criada na Baixada Fluminense e ativista LGBTQIAPN+ convida a goiana Mel, uma das vozes da extinta Banda Uó, que agora segue em carreira solo.

Os shows de domingo, no dia 22, começam às 17h e serão marcados pela vibração sonora da cantora, compositora, atriz, autora e ativista indígena Kaê Guajajara, que recebe no palco outra preciosidade musical, a cantora Bia Ferreira. Será a mistura do canto do Maranhão com o de Minas Gerais, gerando um encontro potente de talentos brasileiros garimpados nesta nova geração de artistas que anseiam pelo reconhecimento no mercado musical. “Assim, o MIRA estreia se estabelecendo como um espaço de criação que reúne no Rio de Janeiro artistas consagrados e novos talentos do cenário musical nacional”, reforça Paulo Pereira.

O line up da programação foi definido por Kaká Reis, que o concebeu através de uma ampla pesquisa musical de artistas que estão ascendendo na cena da música brasileira contemporânea. “E isso tem a ver com a perspectiva que o festival quer trazer: artistas da nova geração, que tragam em suas letras e trabalhos suas identidades, a diversidade: étnica, de gênero, sexual, a diversidade na sua ampla forma. Pensamos na diversidade sonora e na diversidade como um todo, para conectar de forma bem integrada o que o festival quer apresentar”, resume Kaká.
A primeira edição tem como ideia fugir do óbvio, do que é “normalizado” e vendido diariamente. “Buscamos histórias, ancestralidade e representatividade para essa curadoria, a fim de dar voz a novos artistas que são engolidos e invisibilizados pelo mainstream. O projeto nasceu de uma ação nossa no curso Música e Negócio da PUC Rio, em 2015, para apresentar e revelar os talentos e os produtores da turma. Ele ficou adormecido todo esse tempo esperando o melhor momento. Mas, agora que nasceu, a ideia é que ele aconteça mais vezes durante o ano”, finaliza Rafael.

SERVIÇO
LOCAL: Museu de Arte do Rio – MAR
ENDEREÇO: Praça Mauá, 5 – Centro
DEBATE: 21 de outubro às 15h / 22 de outubro às 15h
SHOWS:
21/10 – sábado – 18h: Youn convida Mahmundi / Azula convida Mel
22/10 – domingo – 17h: Kae Guajajara convida Bia Ferreira

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos