Há uma visão mainstream sobre empreendedorismo que, muitas das vezes, ignora o fator racial e invisibiliza empreendedores negros. O conceito abrange muitas camadas, e em um país no qual mais da metade da sua população é negra ou parda, reforçar o recorte de empreendedores negros é uma forma de dar mais visibilidade para essas pessoas que também estão empreendendo para sobreviver ou tocar o próprio negócio, já que encontram diversos obstáculos no mercado formal de trabalho. Dados do Ministério do Trabalho e Previdência, em um balanço de 2022, mostraram que pessoas negras com carteira de trabalho assinada caiu de 51% para 45%.

Para se ter uma ideia de um dos recentes panoramas de pessoas que estão empreendendo no Brasil, de acordo com dados do Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), mais de 3,8 milhões de empresas foram abertas no país e quase 1,7 milhões fecharam as portas.

E empreendedores negros não enfrentam dificuldades somente no mercado formal de trabalho, isso também ocorre com empreendimentos pessoais e perdas significativas e menos acesso a crédito.

Uma pesquisa do Sebrae e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entre o período de 25 de abril e 02 de maio, intitulada “O Impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios”, revelou uma queda de 62% no faturamento desse grupo de empresários em relação ao período pré-pandemia – número maior do que o registrado no extrato de empreendedores brancos (56%). Já entre os negros, a redução chegou a 43%; para as pessoas não negras, esse índice se manteve em 37%.

A obtenção de financiamento é uma das principais dificuldades para qualquer empreendedor, mas os empreendedores negros muitas vezes enfrentam uma disparidade significativa nesse aspecto. Estudos demonstraram que empreendedores negros têm mais dificuldade em garantir empréstimos ou investimentos em comparação com seus colegas brancos, mesmo quando possuem planos de negócios sólidos. A falta de acesso a capital suficiente pode restringir o crescimento e o desenvolvimento de seus negócios.

A representatividade importa. Muitos empreendedores negros relatam a falta de modelos de negócios bem-sucedidos que se pareçam com eles. A ausência de mentores que compartilhem experiências semelhantes pode tornar o caminho para o empreendedorismo ainda mais desafiador. Ter exemplos inspiradores e orientação adequada é fundamental para o sucesso empresarial.

Mudar esse cenário exige um esforço coletivo de instituições financeiras, poder público e a mobilização de toda uma sociedade que saiba a valorizar os negócios de empreendedores negros. Consumam o que essas pessoas têm a oferecer, divulguem seus trabalhos, acreditem na força de seus empreendimentos.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

Colunista NINJA

50 anos da Revolução dos Cravos: Portugal sai às ruas em defesa da democracia

Colunista NINJA

Não há paz para mulheres negras na política

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária