Ao longo da história, pessoas LGBTs serviram como bode expiatório para um discurso moralista, ultraconservador e religioso. Atualmente, mesmo com alguns avanços, a homolesbotransfobia, infelizmente, ainda mantém o Brasil no topo dos países que mais matam corpos dissidentes no mundo. Além disso, a homossexualidade é considerada crime em alguns deles e essas pessoas podem ser condenadas à morte, como em Uganda, em que as leis anti-LGBTs são mais severas. Neste ano, o 27º tema da Parada do Orgulho LGBTQIA+ foi “Políticas Sociais para LGBT+: Queremos por inteiro e não pela metade”. Para entender a importância desta luta, é preciso voltar ao dia 28 de junho de 1969.

Em Nova York e em outros lugares dos Estados Unidos na década de 60 era comum os policiais fazerem um caixa dois para poderem ludibriar pessoas LGBTs, com o combinado de deixá-las seguirem suas vidas caso concordassem em lhes darem um trocado. Nessa época, era proibido ser uma pessoa LGBT no país, manifestar-se como parte da comunidade ou usar de duas ou três peças de roupas diferentes do próprio gênero. Frequentemente, esses policiais também faziam hostilidade e abusos em bares gays da cidade, com aprovação de seus superiores e de uma sociedade que não conseguiu acompanhar as evoluções de seu tempo.

Mas tudo mudou na madrugada do dia 28 de junho de 1969, em um bar chamado Stonewall Inn, no bairro de Greenwich Village, quando os frequentadores do local resolveram revidar à violência policial e começou ali, pelo que se sabe através de documentos e matérias de jornais da época, a primeira revolta do movimento LGBTQIA+. Uma das pessoas que tomou a linha de frente do levante foi Marsha P. Johnson, uma drag queen negra, que junta de outras drag queens e pessoas LGBTs fez voar cadeiras, mesas, sapatos, coquetéis molotov, tijolos e tudo que servisse para poder contra-atacar.

Alguns anos depois, em 1992, seu corpo foi encontrado sem vida no rio Hudson, próximo ao bairro onde viveu e arquitetou os planos para robustecer sua militância e fortalecer os direitos da população LGBT. Na época, sua morte foi classificada como “suicídio”, e as investigações foram arquivadas.

Vale ressaltar que a emancipação da luta do movimento LGBT só será possível quando toda a sociedade estiver disposta a desconstruir seus preconceitos e contribuir com a causa. No Brasil, em 17 de maio de 1990 a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Já a transexualidade, foi retirada somente em 2018, com uma margem de erro de 28 anos figurando como transtorno mental na Classificação Internacional de Doenças (CID). No dia 13 de junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal equiparou os crimes de homofobia e transfobia ao racismo.

Pensar em direitos por inteiro para essas pessoas é uma forma de protegê-las com leis específicas para poderem ter uma vida digna e plena, aumentando a própria autoconfiança e tendo orgulho de ser quem é. Para se ter uma ideia, em 2022, no Brasil, segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, que responde pelos cartórios, foram celebrados 12.987 casamentos entre pessoas homo ou bissexuais.

Que neste mês de junho todos possam se mobilizar e celebrar a resistência de quem foi deixado à deriva nos anais da história. Essa é uma luta coletiva, de héteros, pessoas cisgêneros, aliados do movimento e todos que estão dispostos a pesquisar mais sobre o significado do mês do orgulho ao invés de apenas criticar.

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