O presidente da República Federativa e autoridade suprema das Forças Armadas do Brasil não pode ser um miliciano. Chegando o carnaval, o país tem todas as evidências da relação entre Bolsonaro e Adriano, o chefe do escritório do crime da milícia do Rio de Janeiro, assassinado pela polícia da Bahia com fortíssimos indícios de se tratar de queima de arquivo. A mídia do mercado praticamente não investiga fato de tamanha gravidade.

Pensam que, quando o carnaval chegar, o povo vai cair dentro da folia e esquecer de tudo. Obedecendo à ordem do Rei, o povo, que trabalha de janeiro a janeiro, suspende a dureza da vida, por quatro dias sem parar em fevereiro, caindo na doce ilusão da folia, como cantou a Portela, em 1979, em magnífico samba-enredo de David Correa, J.Rodrigues e Tião Nascimento. Esquecem que “a esperança brilha mais na escuridão” como alerta a Mangueira em sensacional samba-enredo deste ano, de Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo.

Querem ver o carnaval chegar e acabar em quatro dias para dar início ao projeto de construir um novo partido nazista no Brasil, semelhante à Aliança Renovadora Nacional – ARENA, partido da ditadura militar, agora chamado de “Aliança pelo Brasil”.

Como tudo na vida, o carnaval é político. Conscientemente, as escolas de samba fazem de seu desfile uma manifestação contra os regimes autoritários. Foi isso que fez o Império Serrano em 1969 com o seu histórico samba-enredo “Heróis da Liberdade”, de autoria de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola. Os compositores foram obrigados pela ditadura militar a retirar a letra R de uma palavra do samba: “é a REVOLUÇÃO em sua legítima razão” transformou-se em “é a EVOLUÇÃO em sua legítima razão”. Mas o regime não teve coragem de enfrentar a força do samba e engoliu um desfile que foi na realidade uma manifestação revolucionária do povo contra a ditadura.

Temos hoje um presidente que defende torturadores facínoras do regime militar e, da mesma forma que acontecia na ditadura brasileira, bajula os EUA, apresentando-se como um verdadeiro “Capitão América do Trump”. Agora, quem está politizando o carnaval é a Mangueira. Assim como fez o Império Serrano no auge da ditadura militar, seu desfile será uma manifestação revolucionária do povo contra o governo Bolsonaro. Como nos anos de chumbo, ele vai ter de engolir, ver e ouvir a Mangueira cantar: “Favela, pega a visão/Não tem futuro sem partilha/Nem Messias de arma na mão”.

Jamais podemos esquecer que nossa terrível desigualdade social foi historicamente construída com base numa divisão entre homens livres, brancos, e escravos, índios e negros. Por isso, este antológico samba da Mangueira canta: “Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher”. O espírito do carnaval é ironizar e gozar, carnavalizar essa sociedade hipócrita e as relações de poder, quando todos se misturam na rua, palco da festa.

A favela desce com suas escolas de samba e seus moradores vão brincar no “asfalto”. Assim como a política, que vem do grego “pólis”, cidade, as ruas são o palco horizontal da multidão no carnaval. Não podemos sair da rua quando o carnaval acabar, que é o que pretende o poder: pelo contrário, neste ano tão importante para o Brasil, temos de politizar o carnaval e carnavalizar a política!

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