Foto: Mídia NINJA

Em 2008, fui à Marcha da Maconha de São Paulo, a fim de dar o necessário apoio jurídico. Assim que cheguei ao Ibirapuera, deparei-me com forte aparato policial, enquanto um comandante exibia, como um troféu nas mãos, uma ordem judicial que proibia o evento. Mesmo assim, cerca de quinhentas pessoas mantiveram sua disposição de sair dali em passeata.

Dissemos aos policiais que seria muito difícil convencer aquele coletivo que a manifestação não poderia acontecer. Sem a presença dos autores da referida ordem ilegal, que raramente aparecem, negociamos durante um bom tempo com a polícia e acordamos que sairíamos em passeata pela “liberdade de expressão”, mas sem qualquer cartaz, faixa, adesivo que contivesse a palavra ou desenho da maconha. Adentramos o grande parque paulistano cantando: “1, 2, 3, 4, 5 mil / vamos legalizar a pamonha no Brasil”.

Pouco tempo depois, chegou nosso parceiro Japa segurando um cartaz de papelão com os seguintes dizeres: “não fumo, mas sou a favor da legalização da maconha. O primeiro a ser preso, soltamos Japa algumas horas após o evento.

No ano seguinte, eu, Gerardo Santiago e Renato Cinco, representando a Marcha da Maconha do Rio de Janeiro, fizemos uma representação contra 10 promotores e juízes que haviam proibido 10 Marchas da Maconha por todo o país. Essa representação gerou duas ações movidas pela Procuradora-Geral da República interina, a Doutora Debora Duprat. Essas ações estavam paradas até 2011, quando ocorreu a Marcha da Maconha de São Paulo.

Foto: Mídia NINJA

Fiquei na avenida Paulista em frente ao MASP. Logo me posicionei entre os ativistas e a polícia, que estava atrás da Marcha da Maconha. Mal pude acreditar no que vi, quando o policiamento começou a atacar por trás. Ainda falei com o comandante: “Desse jeito, vocês vão acabar legalizando a maconha. Sem me dar a mínima, o comandante ordenou que o destacamento avançasse. Jamais havia conhecido o centro de São Paulo como naquela tarde tão violenta.

As fortes imagens da violência foram transmitidas para todo o país. Lembro que uma faixa preta com os dizeres STF JULGUE A NOSSA CAUSA: ADPF 187 circulava sempre suspensa sem ser abaixada durante todos os ataques da polícia. Ela foi confeccionada e carregada pelo William Lantelme do Growroom, avançando dentre bombas e gases.

Em 15 de junho de 2011, o Ministro Celso de Mello levou nossa ação para a pauta. Seu magnífico e histórico voto foi acompanhado pelos demais sete ministros e assim ganhamos nossa causa no STF por 8 a 0.

Portanto, as Marchas da Maconha de todo o país foram garantidas pela aliança entre as marchas do Rio de Janeiro e de São Paulo. A primeira fez a representação e a segunda pautou o evento na pancada.

Trata-se de um movimento social que atacou sem preconceito por todos os flancos e conseguiu abrir o debate da legalização para todos os fins da maconha no Brasil.

Rio de Janeiro, 24 de maio de 2018

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

‘Caminho do meio’ para a demarcação de Terras Indígenas

Jade Beatriz

A luta pela revogação do novo ensino médio: Um compromisso com a educação de qualidade no Brasil

Tainá de Paula

A sociedade não pode aceitar crimes de importunação sexual de futuros médicos

Bancada Feminista do PSOL

Mulheres Negras e a privatização da SABESP

Renata Souza

Dia da Favela: comemorar a resistência

Colunista NINJA

Carta aberta ao povo argentino

Márcio Santilli

Espiral do terror

Jade Beatriz

Fortalecer o Ensino Médio e Combater a Evasão

Eduardo Sá

Douglas Lemos: sambista da nova geração carioca lança mais um álbum

Renata Souza

24 de Novembro: Dia dos Sacerdotes e Sacerdotisas de Matriz Africana

André Menezes

“A COP 28 precisa ouvir quem mora nas favelas”, diz Mateus Fernandes, ativista climático

Mônica Francisco

O futuro mais digno só se fará com as favelas

Bella Gonçalves

BH precisa se preparar para efeitos da crise climática