Quatro motivos para assistir ao aclamado romance que estreia esta semana no Brasil.

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Por Clayton Nobre

Nesta quinta-feira, finalmente chega a (alguns dos) cinemas brasileiros Me Chame Pelo Seu Nome, o drama gay que tem conquistado públicos no mundo inteiro. Veremos se o contágio passa por aqueles que esperaram uma exibição melhor do que as disponíveis até agora na web – ou não estiveram, no caso do Brasil, no lançamento acalorado no Festival do Rio.

O filme é dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, baseado em livro homônimo do egípcio André Aciman. A história acompanha o adolescente Elio no verão de 1983, no norte da Itália, quando sua família recebe Oliver, um hóspede acadêmico que vem a convite do pai para ajudar em serviços literários. Com uma diferença de 7 anos de idade, Elio e Oliver dividem cenas de desejo, poesia e tensão sexual.

Se a boa fama ainda não deixou o filme na sua lista de prioridades, enumeramos algumas das principais qualidades que poderão rever seus conceitos sobre o drama.

1 – Não é só mais um romance proibido

Esqueça as lágrimas de sofrimento. Elas resistem em Me Chame Pelo Seu Nome até as últimas cenas antes do inverno italiano. No romance, Elio vive em um berço multicultural que parece imune a preconceitos. Isso dá abertura a uma narrativa que sustenta a experiência singular de um adolescente em sua autodescoberta.

Importante notar como nos filmes com protagonistas LGBT, os conflitos geralmente se dão na resistência a uma imagem heterossexual, conformada por sociedades diversas, suas culturas ou tradições. Em Moonlight, para citar outro drama aplaudido e que também fugia dos rótulos do gênero, tínhamos a imagem do homem negro (viril, violento, heteressexual) como determinantes para o racismo e a solidão do protagonista.

Em Me Chame, certa liberdade parece reger a própria imagem que conforma o personagem principal em sua experiência de vida. Que desperdício seria nos forçar a não sentir nada, diz o pai (Michael Stuhlbarg) em monólogo cativante, certamente uma das melhores cenas. Sem a imagem idealizada, em uma sociedade de brancos e sem discriminações, sobreviveria o homossexual em sua plenitude?

A opressão e a fobia também podem vir de dentro, diz o diretor Guadagnino em uma de suas entrevistas à crítica brasileira. Sem conflitos externos, o drama nos faz imergir no protagonista, como a câmera que o acompanha, e deixa que seus próprios desejos conduzam a narrativa. Um ator mediano neste papel seria erro grave, mas felizmente…

2 – Apaixone-se por Timothée Chalamet

Você pode ter conhecido este ator em trabalhos como Homeland ou Interestelar, mas é na pele de Elio que Timothée Chalamet ganhou o estrelato. Sua performance é envolvente a ponto de dar a Elio a intensidade necessária ao personagem. Aqui não se trata de um adolescente gay que se intimida à descoberta de sua sexualidade, o típico twink padrão (Timothée tem exatamente o perfil) para LGBTs daquela idade. Se são seus desejos sua principal condução, Elio tem pressa em satisfazê-los.

Thimothée empresta um vigor de juventude cheio de carisma e naturalidade, do início do filme aos créditos finais (não saia do cinema). Dono de si, entrega-se fácil às tentações da puberdade. Elio vira a chave da homossexualidade de forma bastante desajeitada e, por vezes, brutal no seu contato com Oliver. Um caminho sinuoso de autodescoberta no roteiro adaptado de James Ivory.

A chegada de Oliver é, portanto, o precursor de seus principais conflitos. O “usurpador”, como na primeira fala de Elio, em choque com o hóspede que chega, o bon-vivant, pra quem deve entregar o próprio quarto e a atenção das meninas da região. Pois se há algo que poderia perturbar um adolescente que satisfaz seus desejos com plenitude, é justamente que eles podem nos guiar por caminhos controversos.

3 – O cenário é encantador

Não é só uma locação bonita, ainda que beleza seja qualidade inerente à trama. O ambiente campestre no interior italiano possibilita brincar com lugares públicos e privados como condicionantes à experiência romântica de Elio e Oliver. Os dois convivem na maior parte do tempo em lugares abertos, abrindo pontos à fotografia solar de Sayombhu Mukdeeprom. Sendo o tempo o principal antagonista (Oliver está de passagem no verão), o sol ganha contornos de uma liberdade momentânea.

Contudo, na vida e no drama, são esses ambientes que sempre intimidaram os romances LGBT. “Eu te beijaria agora se pudesse”, diz Oliver a Elio em uma das vias da cidade. Os lugares privados são reservados, portanto, a um tom mais temperado de erotismo.

4 – O filme coleciona prêmios até hoje

Por fim, se você é o típico espectador que se deixa levar a críticas como essa, saiba também que Me Chame foi ovacionado nos festivais de Berlim, Toronto e Zurique, com estreia aplaudida por mais de 10 minutos no Festival de Cinema de Nova York. Foi eleito o melhor filme do ano (2017) pela Associação dos Críticos de Los Angeles, o favorito de Pedro Almodóvar no mesmo ano e o grande ganhador no Gotham Awards.

Sem mais, confira e compartilha com a gente as impressões.

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