Por Marcelo Rocha.

Foto: Mídia NINJA

Enquanto todos estão preocupados com o videoclipe da Pabllo Vittar que foi removido pela fandom teen do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ), a cantora trans Liniker nessa semana recebeu ataques de dois colunistas, após o episódio de assédio que a cantora sofreu em Santa Maria/RS, onde enquanto descia do show teve sua bunda apalpada.

A solidariedade só existe com as gays branca? E o “mexeu com uma, mexeu com todas” só vale se for cis e global?

Na última semana, o colunista do portal R7 André Forastieri fez um artigo em sua coluna diminuindo o assédio sofrido e tratando a questão como vitimismo: “Mas o primeiro passo para isso é aceitá-lo como ele é. E ter consciência de que se você der mole, o mundo vai passar a mão na sua bunda.”

Apesar disso, na mesma semana exaltou a música da drag Pabllo Vittar, mostrando que sua questão com a música é a cor de Liniker. Forastieri, traz disfarçado de opinião todos seus preconceitos. Eu já disse aqui uma vez, a cara de pau da maioria de achar que a KKK ou qualquer outra forma de racismo nunca morreu, e fechar os olhos para coisas como essa.

Para muitos esse texto vai ser uma “opinião”, mas se a Liniker responder falando dos privilégios brancos ela seria capa das revistas de fofoca como extremista.

Já na Folha: “Por que Pabllo Vittar faz mais sucesso do que Liniker?“, foi o título do artigo de Tony Goes, em que o colunista comparou ambxs colocando Liniker em um lugar de menosprezo por ter se posicionado, reforçando o silêncio das pessoas assediadas, culpando-a não somente pelo abuso, mas também pelo espaço da cantora, que acaba de voltar de sua turnê na Europa.

“A ingenuidade de Liniker mostra que ela não está preparada para vôos maiores”, afirma o colunista. Confesso que li e re-li esse trecho para entender o que seriam os “vôos maiores”, pois Liniker, junto com tantas outras cantoras e cantores negros, foram precursores de Pabllo, inclusive o hit do carnaval “todo dia” que tornou-se sucesso na voz do cantor veio do rapper negro Rico Dalasam.

Ambos colunistas aproveitam de seus espaços de privilégio em portais – e não é a primeira vez que publicam artigos racistas – e passam desapercebidos propositadamente. Além de estimular o estupro que é repetido por ambos quando dizem que faz parte o assédio.

Encarar como opinião esses absurdos é parte da desinteligência proposital das conservadoras redações brasileiras, que fazem questão de deixar desapercebido e fomentar textos que reforçam as opiniões que não colocam nos editoriais.

Eles só sossegarão ao ver os nossos fora da cena e em seus sonhos, até mesmo nos troncos. Enfim, eu digo que o incômodo só começou: vamos ocupar todos os lugares e vocês vão ter que aguentar.

Atura ou surta!

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Por Marcelo Rocha, 19 anos, fotojornalista, estudante de Ciências Sociais, ativista da educação que participou das ocupações no estado de São Paulo, e militante do movimento negro.

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