Por Ediane Maria (Deputada estadual (PSOL-SP)

A gente abre as redes sociais e entre um conteúdo e outro aparece alguma coisa do BBB. Em mais uma edição, o racismo velado dos participantes e o massacre em rede nacional de (ai que novidade!) um integrante negro é escancarado para todo o Brasil.

Desta vez, o alvo é o jovem motorista de aplicativo Davi Brito, de 21 anos. Agitado, cheio de vida, sonhos e insubmisso, o brother nascido em Salvador (BA) é tachado de agressivo, manipulador, abusivo, mal caráter, narcisista e até de sociopata.

Se o moço coloca a mão na massa na cozinha, para alimentar a casa inteira, reclamam. Se ele para de fazer comida para o batalhão, reclamam também. Gostam de ver o participante como serviçal, mas se ele começa a ter muita opinião… Vixe, o bicho pega!

Uma cantora branca, herdeira de uma família com trajetória na música sertaneja, passa o dia enaltecendo (só que ao contrário) o rapaz para os demais brothers e sisters da casa, dizendo que os comportamentos do baiano lhe trazem gatilhos. Mas será que ela mesma e os demais brothers pensam nos gatilhos gerados em Davi toda vez em que ele é ignorado pela casa inteira? Ou, quando ele, enquanto homem preto, sente que as pessoas ao seu redor esperam, a qualquer momento, uma atitude violenta pelo simples fato de ele ser uma pessoa… negra?

De acordo com os últimos dados do IBGE, homens negros com idade entre 15 e 29 anos – mesma faixa etária do Davi – têm 3,3 mais chances de morrer assassinados do que jovens brancos.

Já o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 levantou que de 47.508 mortes violentas no país — causadas por homicídios dolosos, morte em razão de intervenção policial, latrocínio e lesão corporal seguida de morte — 91,4% eram do sexo masculino, 76,9% eram pessoas negras e 50,2% eram adolescentes e jovens entre 12 e 29 anos.

Ainda segundo o levantamento, negros ainda são o principal alvo da violência generalizada no Brasil e são 83,1% das vítimas de intervenções policiais. Nesse cenário devastador, quem é alvo do gatilho, mesmo?

O racismo estrutural faz com que pessoas negras estejam sempre na mira da violência, seja ela de origem física, emocional e/ou psicológica. Quando o preconceito não mata as pessoas negras por bala ou negligência — como as mulheres pretas que morrem por violência obstétrica —, tenta matar pela alma, criando narrativas de desumanização. Você que é negro e está me lendo, provavelmente deve ter despertado gatilhos de quantas vezes, ao longo da vida, foi alvo de desconfiança, chamado de agressivo e violento por um chefe, uma patroa, ou um colega de trabalho. Assim, do nada, só pelo simples fato de ser quem você é.

É triste ver como práticas racistas ainda são vistas como entretenimento na TV aberta, com concessão pública. Como diz a grande Maíra Azevedo “Tia Má”, é assim no BBB, é assim na vida.

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