Por Henrique André*

À medida que as cidades se desenvolvem e evoluem, o design gráfico tornou-se uma ferramenta fundamental na reconfiguração do espaço urbano. A gentrificação e a especulação imobiliária são forças motrizes por trás da transformação das cidades e o design gráfico desempenha um papel crítico na narrativa visual que impulsiona essas mudanças.

Nesse texto vamos pensar como o design gráfico pode ser tanto um instrumento de resistência quanto um motor de transformação nas dinâmicas urbanas, contribuindo para a compreensão dos desafios e oportunidades enfrentados pelas grandes metrópoles no século XXI.

As grandes metrópoles ao redor do mundo estão passando por mudanças profundas e complexas em seus tecidos urbanos. A gentrificação e a especulação imobiliária são fenômenos cada vez mais comuns, resultando na transformação de bairros inteiros, muitas vezes em detrimento das comunidades locais.

Nesse cenário, o design gráfico desempenha um papel vital na construção da imagem da cidade, bem como na resistência e na crítica das forças que impulsionam os fenômenos contestáveis de mudança.

O design gráfico pode tanto contribuir para a transformação urbana quanto para a conscientização sobre os desafios enfrentados pelas grandes metrópoles, pensando soluções que impactem nas transformações dos territórios sem deixar de lado a ética, o social e o fortalecimento comunitário.

O design gráfico desempenha um papel significativo na forma como as cidades são percebidas e experimentadas. A identidade visual de uma cidade – desde logotipos e sinalização até materiais promocionais – desempenha um papel crucial na atração de investimentos, turismo e desenvolvimento urbano.

Quando as áreas degradadas são alvo de gentrificação, o design gráfico muitas vezes é usado para comunicar a transformação iminente. Segundo o dicionário Priberam, gentrificação é o “processo de valorização imobiliária de uma zona urbana, geralmente acompanhada da deslocação dos residentes com menor poder econômico para outro local e da entrada de residentes com maior poder econômico”.

Com base nesse processo urbano, as marcas e logotipos são criados para “revitalizar” bairros, atraindo um novo público. No entanto, essa representação visual nem sempre reflete as realidades da comunidade local, levantando questões sobre a autenticidade e a justiça no design urbano.

A gentrificação frequentemente envolve a chegada de uma classe mais rica, que traz consigo novos estabelecimentos comerciais, cafés modernos e uma estética mais limpa e “descolada”. Nesse processo, o design gráfico é empregado para comunicar o novo caráter do bairro, muitas vezes ignorando ou marginalizando a cultura e a história locais.

Ao mesmo tempo, a especulação imobiliária, que é o nome dado a uma prática de mercado que consiste na compra de imóveis como casas, terrenos e salas comerciais sem utilizá-los, apenas com a intenção de vendê-los a um preço maior depois, leva à criação de projetos arquitetônicos arrojados e muitas vezes controversos, com a marca dos incorporadores visivelmente incorporada à paisagem urbana.

Movimentos comunitários frequentemente usam o design gráfico para criar cartazes, murais e campanhas que destacam as vozes das comunidades locais, chamando a atenção para as injustiças da transformação urbana. Essa abordagem visual pode sensibilizar a opinião pública e instigar o debate sobre as implicações sociais e econômicas da gentrificação.

O design gráfico desempenha um papel fundamental no processo de urbanização. É uma ferramenta poderosa para moldar a imagem das cidades, mas também pode ser utilizada para dar voz às comunidades locais e lutar contra as forças que ameaçam a diversidade urbana.

O equilíbrio entre a utilização do design gráfico como motor de desenvolvimento e solução para os problemas de sinalização urbana e comunicação visual, bem como meio de protesto, é um desafio complexo que as grandes cidades enfrentam no século XXI.

*Henrique André é designer gráfico, escritor e pesquisador afrofuturista que busca inspiração no cotidiano e na ancestralidade. Integra o Coletivo “O Futuro é Preto”, grupo voltado para ações de tecnologia, inovação, educação e cultura através de um olhar afrodiaspórico.

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