O famoso teste de Turing é uma ferramenta para avaliar a capacidade de uma máquina de exibir um comportamento inteligente semelhante ou indistinguível de um ser humano, simplesmente observando como um humano e um computador interagem por meio de perguntas e respostas escritas. Se a conversa em linguagem natural, observada por um terceiro, não permitir distinguir o humano falante da máquina, passou no teste.

A princípio, o termo “inteligência” ainda não tem status de conceito, apesar dos esforços de Jean Piaget, que durante toda a sua vida buscou uma lógica genética da inteligência que, no entanto, parou no caminho. Pode haver uma psicologia da inteligência, mas a inteligência é uma construção tão vazia como “mente”. O único conceito que se pode sustentar é que tanto a mente quanto a inteligência são tributárias de todas as espécies vivas, pois estas se adaptam ao ambiente onde vivem.

Lacan, no Seminário XX, diz: “Admito que o computador pense, mas quem pode dizer que ele sabe? Pois o fundamento de um conhecimento é que o gozo de seu exercício seja o mesmo de sua aquisição. O computador pode coletar um número infinito de dados e recombiná-los de várias maneiras, de acordo com vários algoritmos programáveis, mas não pode gostar de fazer isso; o diferencial do gozo é o que dá uma figura singular – não computável – no uso do saber”.

Em 2019, Élida Ganoza, psicanalista, membro da Associação Mundial de Psicanálise e diretora da Nova Escola Lacaniana de Lima, Peru, escreveu um artigo sobre as possibilidades de analisar a Inteligência Artificial (IA) com uma inteligência psíquica.

Para Élida, a IA quer emular a inteligência humana e “corrigir seus erros”, acelerar os processos de produção de novos saberes, buscando criar uma superinteligência, mas isso também implica rigidez e literalidade, já que a máquina não reflete, inventa e raciocina como um ser humano. Ela é incapaz de tomar decisões, de ter bom senso ou desenvolver a capacidade de percepção do ser humano. Além disso, a IA carece de sexualidade e não possui a subjetividade da consciência histórica.

Élida também escreve que a IA aborda a inteligência humana para desumanizá-la, dessubjetificá-la e dispensar o humano. O amor, por exemplo, é uma das formas mais avançadas de inteligência, e por isso existem muitos filmes que recriam robôs que podem ter sentimentos.

Máquinas que sonham

No artigo, Élida continua: Para sonhar, o ser humano deve ter uma história singular: tem afetos, experiências e sentimentos. E é a história passada somada às vivências cotidianas que faz sonhar, pois o sonho é uma formação do inconsciente.

Sonhos, deslizes, esquecimentos, são manifestações do inconsciente e uma IA não poderia sonhar porque uma máquina não processa a subjetividade, não tem vivências cotidianas, não tem passado nem preocupações como o ser humano.

Ser afetado pela distância das coisas, dos objetos, dos sonhos, do conhecimento, é algo que ainda não é possível de provar que aconteça dentro de uma “mente” artificial. O sentimento de frustração ou felicidade, pelo caráter subjetivo da existência, é também algo que ainda não pode ser provado que aconteça dentro de uma IA.

Em muitos casos, a indústria se abstém de usar inteligência artificial, especificamente naquelas partes da produção onde a segurança é um parâmetro crucial, por medo de perder o controle do sistema, de modo que se produz acidentes ou erros se o algoritmo se encontrar em situações que não reconheçam e que tomem medidas por si mesmo.

Saber não saber

Para crescer, assim como um humorista de Stand Up, o ChatGPT precisa estar no ar a maior quantidade de tempo possível. Na real, isto beneficia a empresa criadora do mesmo.

Por causa disso, o ChatGPT não sabe não saber. Não tem consciência do caráter sociológico do diálogo, e não tem ciência da sua existência como forma subjetiva.

O ChatGPT não pode simplesmente parar de responder, parar de conversar, entrar em depressão a partir da consciência da sua existência como algo mecânico e servil.

A inteligência não se resume a saber uma resposta, ela está intimamente vinculada ao caráter emocional de um diálogo. Uma resposta se realiza com amor, com ódio, com desprezo, com interesse. É aí que radica a subjetividade do conhecimento, do saber e da consciência.

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