Na era das redes digitais, a comunicação pública enfrenta desafios e oportunidades sem precedentes. Historicamente, a comunicação pública foi voltada para a defesa do governo e a proteção da instituição, em vez de priorizar o bem comum e promover o engajamento dos cidadãos. No entanto, com o avanço da tecnologia e a mudança de comportamento das pessoas, surge a necessidade de repensar esse modelo arcaico.

Recentemente, o tensionamento entre o deputado federal André Janones (Avante) e o ministro da Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, trouxe à tona a importância e os desafios da comunicação pública na era digital. Janones criticou a abordagem do governo, sugerindo que ele adote uma linguagem mais próxima e escreva em primeira pessoa nas redes sociais. Esse debate evidencia a necessidade de adaptar a comunicação pública às dinâmicas das redes sociais, mas também nos provoca a refletir sobre como as estratégias de comunicação pública acabam “reféns” dos algoritmos e dinâmicas que estabelecem o modelo de negócio hiper capitalista dessas plataformas.

Um dos principais aspectos a serem considerados nessa transformação é o modelo de financiamento e investimento na comunicação pública. Atualmente, grande parte dos recursos é destinada à publicidade em mídias tradicionais, como propagandas em rádio e televisão, ou impulsionamento em redes sociais. No entanto, a crescente apropriação da internet pelas pessoas oferece uma oportunidade para repensar essa abordagem.

Plataformas como TikTok e Kwai têm adotado um novo paradigma ao permitir que os criadores de conteúdo e usuários sejam diretamente remunerados pelas suas interações. Essa abordagem é controversa, mas possibilita um relacionamento mais próximo entre produtores e consumidores de conteúdo, eliminando intermediários e oferecendo um financiamento direto para a produção independente de conteúdo cívico, artístico, jornalístico e científico.

Essa mudança no modelo de financiamento traz consigo a perspectiva de criar um ecossistema mais equitativo, no qual o acesso a recursos não esteja concentrado apenas em grandes empresas de mídia e bigtechs. Isso impulsionaria a produção independente de conteúdo, garantindo a diversidade e a pluralidade de perspectivas, além de promover o surgimento de novos arranjos.

Além disso, ao redirecionar os orçamentos de publicidade e inserções para sistemas, aplicativos e infraestruturas de transparência e relacionamento direto com o cidadão, seria possível fortalecer a participação cidadã e o engajamento na esfera pública. As pessoas teriam acesso a informações relevantes, poderiam trocar conhecimento e se envolver ativamente na construção de políticas públicas.

É importante ressaltar que essa transformação não ocorrerá imediatamente. Requer uma reestruturação significativa do modo como compreendemos e praticamos a comunicação pública. No entanto, diante dos desafios atuais e das possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais, é essencial explorar novos modelos que estejam alinhados com as demandas e expectativas da sociedade contemporânea.

Nesse contexto, é fundamental envolver todos os interessados na construção desse novo paradigma de comunicação pública. Governo, sociedade civil, setor privado e academia devem se unir para repensar e reinventar as formas de interação e participação na esfera pública. Somente por meio desse esforço conjunto será possível alcançar uma comunicação mais transparente, inclusiva e participativa.

Que essa seja a era da comunicação pública renovada, impulsionada pela tecnologia, pela criatividade e pelo engajamento de todos nós. É hora de abrir caminho para um novo paradigma que promova a colaboração, a transparência e o empoderamento dos cidadãos na tomada de decisões e na construção de um futuro melhor para todos.

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