Numa pesquisa rápida no Google, é possível perceber que há vários portais, vídeos no YouTube e dicas de livros, ensinando as pessoas a serem mais produtivas no seu dia a dia. A falácia de sempre: “foco, disciplina e força de vontade – tudo só depende de você!” ou “trabalhe enquanto eles dormem”. Sabemos que não é bem por aí, nosso corpo dá vários sinais de que esse alto rendimento pode levar à exaustão, fazendo com que milhões de pessoas caiam numa armadilha muito perigosa: o Burnout. Além disso, trabalhar no limite pode gerar problemas de ansiedade e depressão em quem faz de tudo para se adaptar ao ritmo frenético de uma sociedade hiperconectada.

Em primeiro de janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, passou a ser considerada doença ocupacional pela Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). No mesmo ano, dados da International Stress Management Association no Brasil revelaram que 72% da população economicamente ativa no país sofria com problemas relacionados ao estresse. Sendo que, destes, 32% apresentavam características de Síndrome de Burnout.

Durante o período da pandemia, muitas empresas lançaram mão da estratégia de home-office, cujo a diminuição da interação entre os colegas de trabalho, associada à sobrecarga de demandas, além dos medos e incertezas gerados pela própria pandemia, culminou em danos à saúde mental dos trabalhadores. Um estudo do LinkedIn, em novembro de 2021, apontou que, durante a pandemia, 62% das pessoas estavam mais ansiosas e estressadas com o trabalho do que quando iam presencialmente às empresas.

Não é uma “nóia”, é um problema de saúde mental

Para a comunicadora Amanda Ramalho, fundadora do podcast Esquizofrenoias – que aborda a saúde mental sem tabus -, o problema está diretamente ligado à falta de autoconhecimento e pulverização heterogênea de informações sobre o tema. “A informação não chega em todo mundo, infelizmente. Uma pessoa pode nunca procurar saber sobre “ansiedade”, por exemplo, se não lida com o problema diretamente. E também, para grande parte da população, nomear as coisas pode ser uma tarefa difícil. A maioria tem medo de identificar o problema, pedir afastamento do trabalho e depois perder o emprego por conta disso”, ressalta.

Amanda ainda acrescenta que, muitas vezes, as pessoas têm vergonha do diagnóstico e não buscam tratamento. “Não fomos ensinados a pedir ajuda. Se você chora, você é fraco. Se você demonstra fraqueza, vai ter que pedir ajuda”, pontua. Amanda salienta que a sobrecarga no trabalho pode ajudar a potencializar problemas de saúde mental: “precisamos testar os nossos próprios limites no trabalho . Temos que render sim, mas não somos máquinas e não funcionamos da mesma maneira.” “As cargas podem gerar impactos diferentes em nossas vidas. Não somos iguais. Somos o que passamos. Não somos apenas o que vivemos no momento”, finaliza.

Diante de um quadro de Burnout é preciso buscar ajuda psicológica e psiquiátrica, caso contrário, pode se agravar e gerar consequências sérias à vida do indivíduo. Mas ações de enfrentamento às questões de saúde mental não devem ser só individuais, é preciso que as empresas entendam a importância do tema dentro de suas culturas corporativas. O mundo mudou e as pessoas estão tentando se adaptar a essas mudanças. Num processo em que cada um tem o seu próprio ritmo, não é possível avançarmos sem falarmos de saúde mental.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Renata Souza

Abril Verde: mês dedicado a luta contra o racismo religioso

Jorgetânia Ferreira

Carta a Mani – sobre Davi, amor e patriarcado

Moara Saboia

Na defesa das estatais: A Luta pela Soberania Popular em Minas Gerais

Dríade Aguiar

'Rivais' mostra que tênis a três é bom

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

André Menezes

“O que me move são as utopias”, diz a multiartista Elisa Lucinda

Ivana Bentes

O gosto do vivo e as vidas marrons no filme “A paixão segundo G.H.”

Márcio Santilli

Agência nacional de resolução fundiária

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos