Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (E), e o ministro do STF e atual presidente do TSE, Alexandre de Morais | Alejandro Zambrana / Secom-TSE

Estamos a dez dias das eleições gerais mais importantes para a consolidação da democracia no Brasil. Bolsonaro vem de quatro anos em campanha pela permanência no poder. Não conseguiu apoio suficiente para um autogolpe, nem para destruir o sistema de votação eletrônica, que é o melhor do mundo. Suas investidas contra o STF e a Justiça Eleitoral não convenceram nem os canalhas do Centrão, que extorquiram bilhões, via orçamento secreto, para lhe dar sustentação política até o final do mandato.

O presidente afundou o país em sucessivas crises, multiplicou as vítimas da pandemia, promoveu o armamentismo e a violência, repôs o Brasil no mapa da fome e o isolou do mundo civilizado. Usou e abusou de Deus, para lançar cortinas de fumaça e dificultar a percepção do povo sobre a natureza demoníaca e incompetente do seu desgoverno. Instituiu o auxílio emergencial em plena campanha eleitoral para tentar comprar, sem sucesso, os votos da pobreza que ele mesmo produziu.

Bolsonaro apropriou-se de forma espúria das instituições e dos símbolos nacionais. Tentou transformar a nossa bandeira em estandarte da sua facção ideológica. Transformou em comício o transcurso do Bicentenário da Independência. Canibalizou o coração de Dom Pedro I e os funerais de Elizabeth II. Com mesquinho interesse eleitoral, subverteu a honrosa distinção atribuída à figura do presidente do Brasil ‒ e não à sua pessoa ‒ de discursar na abertura da Assembleia Geral da ONU.

 

(E-D) Deputado Ricardo Barros (PP-PR); Jair Bolsonaro; ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira; e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) | Reprodução Twitter de Ciro Nogueira

Saída desonrosa

Ainda estão por ser conhecidos os bastidores das relações entre o presidente e o estamento militar. De um lado, há um histórico de insubordinação à hierarquia e à orientação dos seus comandantes da parte de Bolsonaro quando foi capitão. De outro, o fortalecimento estrutural e orçamentário do Ministério da Defesa é inegável, além da garantia de privilégios previdenciários e do provimento de milhares de funções de confiança para militares da ativa e da reserva em ministérios, agências e órgãos federais, durante o atual mandato presidencial.

Nesses quatro anos, houve várias crises envolvendo quadros militares importantes. Por exemplo, a demissão do general Santos Cruz, além de mudanças abruptas no Ministério da Defesa e nos comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Mas a escolha do general Braga Neto, ex-ministro da Defesa, como candidato a vice de Bolsonaro reafirma a sua meta de subordinar as Forças Armadas à sua estratégia de se manter no poder a qualquer custo.

Correm informações sobre críticas pesadas dos bolsonaristas-raiz, inclusive dos filhos do presidente, de que os generais que ocupam ministérios e cercam o presidente no Palácio do Planalto seriam oportunistas. De fato, há quem diga que se subordinam à loucura presidencial por interesses fisiológicos, com ganhos salariais milionários. Mas também há quem sustente que é deste grupo a essência do projeto de desgoverno, sendo Bolsonaro um marionete histriônico nas suas mãos. Em todo caso, formou-se um núcleo de generais capaz de influenciar as decisões mais importantes do governo.

Seja como for, Bolsonaro alinhou os atuais ministro da Defesa e comandantes das Armas com a sua estratégia negacionista em relação ao sistema eleitoral. Aproveitando-se de uma abertura dada pelo ministro Luís Roberto Barroso quando presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Defesa apresentou uma lista de “sugestões” que se presta, na verdade, a lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas.

Porém, a posse de Alexandre Moraes, ministro mais atacado por Bolsonaro, na presidência do TSE transformou-se numa manifestação contundente da sociedade civil em defesa do sistema eleitoral, deixando evidente o isolamento político do golpismo e do negacionismo. Taticamente, seguindo a trilha que já vinha sendo aberta desde a gestão de Luís Roberto Barroso, Moraes acordou com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, a realização de um teste para colher a biometria dos eleitores cujos votos servirão de amostragem para o teste de integridade das urnas eletrônicas. Foi a saída honrosa adotada para os militares recuarem e acatarem o processo e o resultado das eleições.

 

Parada militar de 7 de setembro de 2022 | Alan Santos / PR

Destilando provocações

Conforme se aproxima a hora da verdade, bolsonaristas desesperados e enlouquecidos atiram nos militantes de outros partidos. Ruralistas e predadores minerais mobilizam milícias para assassinar lideranças indígenas e trabalhadores rurais. Estamos no momento crítico da temporada de caça aos que resistem ao retrocesso.

Apesar do sofrimento e da miséria, das ameaças, insultos e provocações, das mortes evitáveis e dos usos abusivos da religiosidade e dos símbolos nacionais, o povo brasileiro suporta tudo com notável paciência, recusando o revide na mesma moeda e aguardando, na espreita, pelo momento de corrigir o erro cometido nas eleições passadas.

Ninguém duvida que podem ocorrer novos episódios de violência nos próximos dez dias. Se a disputa presidencial não for decidida no primeiro turno, ainda haverá quatro semanas de tensa agonia. Ninguém duvida, também, que Bolsonaro vai boicotar o futuro governo e querer se vingar do povo brasileiro nos meses finais do seu governo. Sequelas e heranças malditas sobrarão, aos montes.

O presidente tentou, de muitas formas diferentes, provocar reações violentas e tumultos por parte de todos quantos ele hostiliza, mas a sociedade aprendeu a lidar com ele, não dando espaço para pretextos que podem ser usados para golpear o regime democrático. A despeito das dificuldades que o país terá de enfrentar para superar o bolsonarismo, já dá para dizer que a democracia brasileira resistiu, bravamente, ao mais nefasto teste histórico, até então inimaginável!

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