Eleitores da Rocinha (RJ) em 2018 | Tânia Rêgo / Agência Brasil

Mais de 156,4 milhões de pessoas estão aptas a votar nas próximas eleições. Houve um aumento de 6,2% no eleitorado em relação a 2018. É um recorde histórico. E que reflete o aumento, no período, da população com idade para votar, já que o voto é obrigatório para a maioria dos eleitores. Em 2022, porém, houve um salto inédito dos habilitados a votar nas faixas etárias em que o voto é facultativo.

Incluem-se nessa categoria 14,9 milhões de eleitores com mais de 65 anos, 23,8% a mais do que em 2018 e, também, 2,1 milhões de jovens entre 16 e 18 anos que tiraram os seus títulos de eleitor, um aumento de 51%. São números acima da média e da tendência demográfica e que, sobretudo em relação aos jovens, indicam um maior interesse nas eleições, talvez por causa da radicalização política do país.

As pesquisas de intenção de voto são o instrumento mais palpável disponível para se monitorar as tendências do eleitorado antes do pleito. Elas são realizadas com base em amostragens do eleitorado, que consideram as diversas regiões, faixas etárias, condições de gênero e de renda. No entanto, podem ocorrer distorções da amostra. Por exemplo, a forma de entrevistar as pessoas, se presencial ou telefônica.

Imagem de anúncio do TSE (rolê das eleições). Fonte: TSE

O que é a abstenção?

Além de consultar os entrevistados sobre os candidatos preferidos, as pesquisas eleitorais, em geral, oferecem as opções para expressar indecisão ou rejeição a todos os candidatos. Os levantamentos supõem que os entrevistados efetivamente votarão, ou seja, a participação do conjunto do eleitorado. Mas eles não têm como aferir quantos eleitores deixarão de comparecer às seções eleitorais, abstendo-se de votar.

Abstenção não se confunde com voto em branco ou voto nulo, registráveis na urna eletrônica. A abstenção é a ausência do eleitor. Pode até ser que os eleitores que se afirmam indecisos numa pesquisa estejam mais propensos a não votar. Mas há muitos outros fatores, climáticos, sanitários e a distância do domicílio eleitoral, que podem determinar essa ausência. Eles afetam eleitores de todos os candidatos, mas não necessariamente por igual ou na proporção das suas representatividades.

Votos em branco, nulos e abstenções não anulam eleições nem afetam a contabilidade dos votos dados aos partidos e candidatos. Até podem indicar um maior ou menor nível de representatividade do processo eleitoral, mas não afetam a definição do número de cadeiras, cargos e de votos válidos. Da mesma forma, podem implicar diferenças entre resultados eleitorais e cenários pesquisados, para além das margens de erro das pesquisas, numa escala nacional em que a taxa de abstenção é muito variável.

Urna eletrônica | Antônio Augusto / Secom – TSE

Tendências

Em anos recentes, várias mudanças no sistema eleitoral facilitaram o exercício do voto, supostamente contribuindo para reduzir a abstenção, como o cômputo dos votos de brasileiros que vivem no exterior e de votos em trânsito, pelo menos para as eleições presidenciais. O recadastramento dos eleitores, por causa da implantação gradual da identificação digital, deve ter estimulado, em alguma medida, a transferência de títulos para os novos endereços de eleitores que mudaram de cidade. Apesar disso, a taxa de abstenção vem crescendo nas últimas eleições.

Cerca de 31 milhões de pessoas ou 21% do total deixou de votar no segundo turno das eleições presidenciais de 2018, um recorde histórico em números absolutos. Desde 2010, a taxa de abstenção descolou-se do patamar da década anterior. A mesma tendência é observada nas eleições municipais, com um recorde de 23% de abstenção em 2020.

A única pesquisa recente (CNT/MDA) que aferiu a disposição dos entrevistados de comparecer às urnas apontou que, entre os que dizem que não votarão, há duas vezes mais pessoas de baixa renda. Por causa disso, alguns analistas avaliam que, em 2022, mais eleitores de Lula deixarão de votar, o que tenderia a favorecer Bolsonaro. Num recorte regional, no entanto, as menores taxas de abstenção têm ocorrido no Nordeste, o que tenderia a favorecer Lula e Ciro Gomes.

Fonte: TSE

Vote!

Fato é que a taxa de abstenção é uma variável relevante, embora oculta nas pesquisas. E que o ato de votar, para além da obrigatoriedade legal, terá importância inédita nessas eleições, que ocorrem num clima de ameaças deliberadas à democracia e ao sistema eleitoral. Por isso, sejam quais forem os seus candidatos, e mesmo que não haja nenhum, faça o possível para comparecer às urnas.

Há quem atribua o aumento da abstenção à radicalização política. A polarização entre PSDB e PT tinha outra natureza e, até 2018, havia uma sensação de cansaço dessa redundância. Por outro lado, é possível que o acirramento de uma nova polarização tenha estimulado a habilitação dos eleitores jovens. Aliás, como ocorreu nas últimas eleições presidenciais nos EUA, quando Donald Trump, mesmo obtendo mais votos que na eleição anterior, acabou sendo derrotado por Joe Biden.

Há 15 dias do primeiro turno das eleições, a Justiça Federal, os meios de comunicação, as organizações da sociedade civil e os partidos políticos devem reforçar o apelo para que os eleitores votem.

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