Quantas mulheres você conhece que atuam na política, que estão em cargos do executivo/legislativo ou judiciário? Quantas delas são mulheres pretas? Historicamente, os espaços de poder da sociedade são reservados a homens héteros, cisgênero, caucasianos e ricos. É notável que as relações sociais são desiguais e que é preciso corrigir essa distorção para que a sociedade evolua.

São 90 anos da conquista do voto feminino, mas pouco evoluímos desde este período.

Somos a maioria do eleitorado brasileiro, com cerca de 53%, mas ainda temos pouca participação nos espaços públicos de poder. Também somos a maioria entre o eleitorado com nível médio e superior completo, em contrapartida, estes mesmos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelam que somente 15% das pessoas eleitas nas eleições de 2020 eram mulheres.

Há muitos impedimentos na carreira das mulheres, não só na vida pública, mas também na privada. Sofremos com inúmeras imposições sociais como “funções de mulheres”, tal qual a maternidade ou cuidados com o lar. Passamos por todo tipo de violência e pressão psicológica desde a infância, e dentro da política não é diferente. Nosso gênero é utilizado como justificativa para nos acuar e ameaçar.

Dados da ONU Mulheres de 2021, mostram que, dentro de espaços políticos: 82% já sofreram violência psicológica, 45% foi ameaçada, 25% agressão física e 20% assédio sexual.

Em 2020, tivemos um aumento de 23% de candidaturas femininas em relação a 2016. Isso, depois da resolução do TSE, de 2019, que estabelece 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) dos partidos para as candidatas. Além da cota mínima de representação nos partidos, agora as mulheres, pelo menos em teoria, conseguem recursos para suas campanhas.

Apesar deste aumento, ainda não temos eleitas um número suficiente para suprir a quantidade de eleitoras, que é superior à quantidade de eleitores homens. É necessário força e voz para legislar sobre nossos próprios corpos, com leis e iniciativas pensadas e pautadas por nós. Mais do que votar, queremos ser votadas, e mais do que isso, queremos ser ELEITAS.

Mulheres Pretas, onde estão?

Ainda nos dias de hoje, as relações sociais são permeadas pelos reflexos do período escravocrata. Nosso país foi um dos últimos a abolir a escravidão. O perfil das domésticas no Brasil, é majoritariamente feminino, afrodescendente e de baixa escolaridade.

Herdamos um passado colonial, imperial e escravocrata que gerou acentuada desigualdade social e racismo estrutural. Com essa combinação, temos um resultado de uso do trabalho doméstico, que é mal remunerado e até pouco tempo não tinha direitos reconhecidos.

Além disso, mais da metade das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza, esse valor também é verdadeiro quando falamos de feminicídio: 66% são negras. Precisamos lutar pela sobrevivência e estamos fazendo política o tempo todo, não digo da institucional, mas da política do nosso cotidiano.

A sambista e Deputada Estadual em São Paulo, Leci Brandão em um de seus discursos na ALESP traz uma reflexão histórica importante:

“As nossas ancestrais cuidaram e amamentaram filhos de casais brancos, são responsáveis por cultivar muitas das nossas tradições africanas como os terreiros, o samba, o carnaval. O que chamam hoje de economia criativa e economia solidária, as mulheres negras praticam desde quando compraram sua própria liberdade vendendo seus quitutes e pratos maravilhosos, lavando, passando, limpando, e deixando de estar com seus filhos”, diz a sambista.

Devemos ocupar também a política institucional, aquela que podemos construir políticas públicas e garantir o direito dos nossos. Nós, mulheres pretas, somos afetadas diariamente por preconceito, violência de gênero e racismo. Para mudar essa realidade, lutamos, resistimos e ocupamos tudo: universidades, pesquisa, esportes, escritórios, consultórios e a POLÍTICA.

Resistir, não desistir e fortalecer a luta!

Seguimos com firmeza política e combatividade para enfrentar a violência de gênero e o racismo que permeiam nossa sociedade. Saúdo todas que vieram antes de mim, que pela luta, abriram caminhos para que ocupássemos esses espaços. As vitórias antirracistas e de combate ao machismo serão sempre marcadas por conflitos. Não podemos permitir que todas as conquistas acumuladas até aqui retrocedam.

Por fim, mais do que trazer essa reflexão, quero te convidar para a AÇÃO.

Mulheres pretas, se UNAM, se candidatem para vereadoras, prefeitas, deputadas, governadoras, senadoras, juízas, PRESIDENTAS!

Hoje estou como vereadora em Contagem (MG), e sou a ÚNICA mulher preta. Somos apenas 4 mulheres dentre os 21 vereadores eleitos. Agora, a missão floresceu, e na próxima segunda-feira (06/06), lanço minha pré-candidatura à Deputada Estadual de Minas Gerais e convido vocês a participarem dessa nossa construção coletiva.

Nosso encontro é às 18h no Campestre Yucca Clube, no centro de Contagem, além disso, vamos transmitir ao vivo em nossa página do Facebook.

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Quando o povo se junta, o poder se espalha! Te espero.

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