Dani Ornellas, Cinnara Leal e Roberta Rodrigues denunciaram atitudes discriminatórias do diretor artístico Vinícius Coimbra e de sua equipe

Vinícius Coimbra, diretor artístico de ‘Nos Tempos do Imperador’, é alvo de denúncias envolvendo supostos comportamentos racistas. As atrizes Cinara Leal, Dani Ornellas e Roberta Rodrigues alegam atitudes racistas envolvendo o diretor e sua equipe nos bastidores da produção. As queixas sobre atores sendo discriminados por Coimbra e equipe já pululavam pelos corredores da Globo. As atrizes apontam que Vinicius Coimbra e sua equipe tinham falas preconceituosas, segregavam artistas, inclusive separando camarins entre atores negros e brancos.

Escrita por Thereza Falcão, “Nos Tempos do Imperador” começou a ser filmada em janeiro de 2020 e desde o início foi criticada por uma série de incorreções históricas, incluindo a ideia de que as insurgências negras contra a escravidão eram menores do que a vontade dos brancos em salvar os escravizados, em uma narrativa chamada de “síndrome do branco salvador”. Na mesma toada, o romance principal vivido entre Pilar e Samuel (Gabriela Medvedovski e Michel Gomes) mostrava uma relação interracial romantizada e implausível para os tempos retratados na novela e trouxe a criticada passagem em que a protagonista sofria “racismo reverso”.

Em tempos que o protagonismo negro vem sendo debatido e exigido em todos os veículos de comunicação, os artistas pretos só ganham possibilidade de trabalho com seus pares quando a novela fala de escravidão e ainda assim são coadjuvantes da própria história. As três atrizes que levaram a denúncia ao compliance da Globo têm longas carreiras na TV e Teatro, no entanto não aparecem em novelas como protagonistas, como as mocinhas. E com exceção de Taís Araújo, é difícil pensar em uma atriz negra que tenha sido protagonista de novela. Para se ter uma ideia, somente em 2016, 21 anos após sua estreia, a novela adolescente “Malhação” teve uma protagonista negra. Aline Dias viveu Joana.

O Brasil sempre exportou novelas para todo o mundo e por anos a imagem que se vendeu do país era baseada nos folhetins globais. E em 70 anos de história, pessoas negras sempre foram deixadas de lado quando o assunto era protagonismo. Relegados a papéis de empregados, escravizados ou amigos malandros ou amigas fiéis dos protagonistas, artistas pretos não têm poder de barganha porque a produção audiovisual brasileira é dominantemente branca. Nessas condições, quantos talentos tem sua ascensão barrada pelo racismo que permeia o ideal estético de mocinhos e mocinhas?

Dani Ornellas, Roberta Rodrigues e Cinnara Leal são exemplos de coragem ao botar na mesa a luta e a dor de estarem ocupando um espaço que nunca contemplou com plenitude a presença negra, sobretudo de mulheres. Essa situação não se resolve com notas ou promessas. As mudanças precisam ser urgentes também atrás das câmeras. Roteiristas e diretores negros não faltam.

Para fechar o questionamento sobre como o racismo é barreira para o crescimento profissional de nossos talentos, vamos pegar duas ex-BBBs. Juliana Alves participou da terceira edição do Big Brother Brasil. Antes disso foi dançarina do Faustão e conseguiu papéis em diversas novelas globais, mas nenhuma como protagonista. Grazi Massafera esteve na quinta edição do reality show e de lá para cá protagonizou ou antagonizou mais de cinco novelas. A diferença entre elas? Cor e oportunidade.

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