Reflexões sobre racismo, transfobia, desigualdades e a incapacidade de dialogar com a diversidade no Brasil

Imagem: Cris Vector

Por José Carlos Almeida

O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, foi morto a pauladas em um bairro de classe média no Rio de Janeiro. A vítima morava no Brasil desde 2011, quando fugiu de conflitos armados na República Democrática do Congo.

Em Açailândia (MA), o jovem negro Gabriel da Silva foi brutalmente agradedido com socos e pontapés ao ser acusado de tentar roubar o seu próprio carro.

Duas travestis são mortas: Paulinha foi esfaqueada, estuprada e apedrejada no centro de Timon (MA), a outra, no qual o nome não foi divulgado em nenhuma das matérias jornalísticas, foi morta brutalmente com golpes de tijolo em Cabo Frio, cidade da Região dos Lagos também no Rio de Janeiro.

Bebê de mulher em situação de rua nasce na calçada, em frente a uma maternidade no Acre, e a mesma, permanece na calçada coberta de sangue e seu pequeno filho no chão, sem acolhimento de médicos, enfermeiros e demais colaboradores.

Quatro mulheres são vítimas de feminicídio por dia no Brasil, e na maior parte dos casos, crianças presenciam o momento em que se tornam órfãos, de sua mãe e do governo. A cada 2 minutos uma mulher é agredida no Brasil.

Quase 80% das pessoas mortas por arma de fogo no Brasil são negras. A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado neste país. O número de assassinatos de indígenas aumentou 21% em 10 anos.

19 milhões de pessoas passam fome no Brasil e cerca de 117 milhões vivem na insegurança alimentar, em um país que figura no segundo lugar na produção de carne do mundo, e na nona posição na produção de arroz do planeta.

Fatos isolados? Nunca! Tudo isso compõem a trama da desigualdade, do capitalismo, do racismo, da transfobia (LGBTQIA+), da incapacidade de muitos em dialogar com a diversidade e da relação que um pequeno grupo que concentra o poder e muito dinheiro, tem com a impunidade dos seus, e que incentivam a ideia de superioridade de um grupo protegido sobre outro que está à margem, que se alimenta da seletividade penal, da estrutura de extermínio de povos indesejados instalada no Brasil há séculos.

Não sei dizer o que é mais triste: as atrocidades aqui citadas ou nossa capacidade de permanecermos imóveis diante do caos, diante das barbaridades que presenciamos e assistimos diariamente no Brasil.

O que aconteceu conosco? Até quando permaneceremos indo em direção ao abismo? Até quando permaneceremos vivendo na barbárie? Não somos uma minoria, não estamos sozinhos nem na dor, nem no amor. Precisamos nos levantar e procurar outros rumos possíveis para nossas vidas. Não podemos esperar sermos os próximos no caixão ou na vala.

Se você não faz parte desse pequeno grupo que controla o mundo, você não tem nada a perder com a destruição dessa lógica perversa que se alimenta da nossa dor, dos nossos corpos e da nossa humanidade.

José Carlos Almeida é midiativista e comunicador popular, defensor de direitos humanos, bacharel em Direito e colaborador da Mídia NINJA

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