Nas últimas semanas circula na imprensa a informação de que representantes da candidatura Lula estariam em negociação com o ex-governador Geraldo Alckmin para composição da chapa presidencial em 2022.

Sim, é o mesmo Geraldo Alckmin que apoiou o impeachment de Dilma, que era governador durante a desocupação brutal do Pinheirinho (que, pra quem não se lembra, prendeu Guilherme Boulos na operação), da repressão às manifestações de esquerda da Jornada de Junho de 2013 e de tantas outras políticas que só um governador muito reacionário e violento seria capaz de promover a favor das elites.

A informação cai como um balde de água fria sobre aquelas e aqueles que vêm em Lula a única possibilidade de derrotar Jair Bolsonaro nas urnas. Mas, como um bom banho de água fria, deve também despertar todo mundo que soube tirar conclusões do porquê vivemos essa situação dramática hoje.

Vivemos sob um governante neofascista no país, responsável por uma política genocida diante da pandemia do coronavírus. A fome, a miséria e o desemprego chegam a níveis elevadíssimos. A violência política e a intolerância se naturalizam como prática cotidiana, oprimindo e matando mais e mais mulheres, negras e negros e pessoas LGBTQIA+.

A saturação de boa parte da população brasileira com esta conjuntura tem gerado apatia e desesperança. As forças políticas de oposição ao governo Bolsonaro e os movimentos sociais de esquerda conseguiram desgastar o presidente, mas, com o aquecimento do debate eleitoral, tudo parece estar adiado para o confronto das urnas. E é exatamente isso que deve ser evitado: a passividade de quem quer derrotar Bolsonaro até o começo da campanha eleitoral.

A movimentação de Lula e de setores do PT em buscar Alckmin para essa composição é parte desse cenário. Para Lula, seria um aceno ao eleitorado conservador, repetindo a já conhecida tática de aliança com setores da direita como forma de ampliar as suas chances eleitorais.

A grande questão é que não podemos dar margem, pelo nosso silêncio, para que essa possibilidade ganhe ainda mais força e se concretize. O risco da chapa de Lula se consolidar com Alckmin não está somente na possibilidade de ter um vice com potencial golpista, mas também na influência de sua presença no programa político que será apresentado nas eleições e levado ao governo em caso de vitória eleitoral.

Após a saída de Alckmin do PSDB e sua iminente ida para o PSB, deve ter gente acreditando que existe um deslocamento ideológico de Alckmin. Será? Alckmin aceita rever todos os retrocessos realizados por Bolsonaro? Alckmin mudou sua ideologia privatista? Alckmin mudou sua concepção de segurança pública? A resposta é categórica: não.

A todos e todas que veem em Lula a maior possibilidade de derrotar Bolsonaro fica o convite, urgente, de alertarmos de maneira ativa que não existe margem, no Brasil de hoje, para reedições de uma política de conciliação com a direita. Essa tentativa pode provocar um distanciamento ainda maior das esquerdas com a maioria de população trabalhadora brasileira e com as profundas transformações necessárias ao país.

Para construirmos uma candidatura que de fato mova a população para um processo de conscientização e enfrentamento com o neofascismo, é necessário que à chapa de Lula seja agregada uma liderança oriunda dos movimentos sociais, que tenha identidade programática com os setores mais oprimidos da sociedade e que defenda uma plataforma política elaborada por esses setores.

Bancada Feminista do PSOL – mandato coletivo na Câmara Municipal de São Paulo composto pelas covereadoras Silvia Ferraro, Paula Nunes, Carolina Iara, Dafne Sena e Natália Chaves.

 

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