Apenas em novembro, mais de 1, 5 milhão de pessoas deixaram de receber o auxílio emergencial apenas em São Paulo e nenhuma nova política de criação de emprego foi estabelecida.

Depois de quase dois anos de pandemia, tínhamos a expectativa de chegar ao final de 2021 com algum alívio, com a diminuição de casos e mortes pelo covid-19. Apesar de estar longe de terminar, a possibilidade de, vacinados e com os cuidados necessários, reencontrarmos as pessoas que ficamos com saudades durante esse tempo, e de nossos planos para reconstruir a vida de cada um de nós, de nossas famílias, de nossas e nossos companheiros de vida, de trabalho, de lutas e de conquistas, tropeçamos na realidade a todo o momento.

E a realidade nos mostra o que sempre dissemos: sem políticas públicas voltadas à população vulnerável para o enfrentamento da pandemia, as consequências serão trágicas. Sob o desgoverno mais que insensível, mas intencionalmente incompetente para apresentar propostas que atendam a população, que governa apenas para os seus, chegamos a  mais de 615 mil mortes pelo covid – muitas delas evitáveis se os protocolos recomendados por órgãos de saúde e por cientistas tivessem sido seguidos, se a vacinação tivesse começado mais cedo e todas as outras ações e inações, desmascaradas na CPI do covid do Senado Federal.

Esse momento não deveria ser enfrentado às custas da vida da população pobre, menos ainda de submeter os trabalhadores à falsa ideia de que se eles preservassem suas vidas, a economia iria parar. Enquanto estudos comprovam que os efeitos da pandemia afetaram de maneira mais intensa a população mais carente, o número de bilionários brasileiros passou de 45 para 65. Segundo a revista Forbes, em dados do primeiro semestre de 2021, a riqueza somada dos super ricos cresceu 71% no período pandêmico, enquanto 19 milhões de pessoas passavam fome no país.

Esse momento necessita de ações que reafirmem o direito inalienável à vida de todas e todos.  Mas na contramão das necessidades da população, o governo federal acabou com programas de transferência de renda como o Bolsa Família, e com o Minha Casa Minha Vida. Acabou com o Auxílio Emergencial, conquistado após árdua luta da oposição, substituído por um auxílio que exclui a população mais vulnerável.

Em 2020, o Auxílio Emergencial foi pago a 68,3 milhões de pessoas; em 2021, diminuiu para 39 milhões. O recém lançado Auxílio Brasil atenderá apenas 17 milhões de famílias. Pelo menos quatro milhões de famílias elegíveis ao benefício estão pendentes de haver ”espaço orçamentário”. Em São Paulo, o Auxílio Brasil está previsto para 512.438 pessoas, excluindo 1.593.826 em relação ao Auxílio Emergencial na Cidade, que era de 2.106.264 pessoas. Apenas em novembro, mais de 1, 5 milhão de pessoas deixaram de receber o auxílio emergencial apenas em São Paulo e nenhuma nova política de criação de emprego foi estabelecida.

Antes recolhida nas moradias, agora a miséria e a falta de políticas públicas para enfrentar a fome nos encaram nas ruas, até porque muitas famílias perderam seus tetos, junto com o emprego. Percebemos isso claramente andando pelas ruas de São Paulo.

Com a falta de trabalho, de um lar, vem a falta de alimento. As notícias de todos os dias falam de pessoas desmaiando de fome nos postos de saúde, de crianças desmaiando de fome nas escolas ou trocando o brinquedo por comida, nas cartinhas para o Papai Noel.

Fome!

Depois de termos saído do Mapa da Fome com as políticas do governo do presidente Lula para garantir que todo brasileiro tivesse direito a três refeições por dia, o Brasil voltou à miséria, à insegurança alimentar e à fome.

Cada vez mais, essa miséria nos aguarda na porta do supermercado para pedir que compremos um arroz, um feijão, um pão. Quem pode, ajuda. Tem pessoas, organizações, entidades que se mobilizam.

E o poder público? O que cabe a nós, que fomos eleitos com o voto e a confiança da população?
A Câmara Municipal e a Prefeitura não podem sair de férias como se não houvesse nada acontecendo na cidade. É urgente a realização de um debate amplo que reúna as lideranças políticas e de movimentos sociais no combate à fome na cidade mais rica da América Latina. É urgente que Câmara e Prefeitura se unam para estabelecer políticas que envolvam estratégias de distribuição de renda, além das estruturas já existentes da Educação e do SUS.

Nesta última quinta-feira, dia 9, foi aprovado na Comissão de Saúde da Câmara Municipal de São Paulo meu requerimento para a realização, com urgência, de audiência pública sobre a volta da fome na cidade. Encaminhei ofício com Indicação ao Prefeito Ricardo Nunes (MDB) para que, ainda em 2021, sejam acolhidos todos os cadastrados no CADÚnico, dentro dos mesmos critérios do Auxilio Emergencial, a fim de serem beneficiários do Auxilio Emergencial Municipal, a ser pago mensalmente no valor de R$ 600,00. E que as unidades educacionais do município sejam abertas durante as férias para os alunos e familiares para café da manhã, almoço e jantar, além das atividades previstas nas Unidades Polo Programa Recreio na Férias.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estão desempregados 14,8 milhões de pessoas no Brasil, sendo aproximadamente 3,5 milhões no estado de São Paulo, 1,9 milhão na região metropolitana e 1 milhão na Cidade de São Paulo. O MEPSR-SP (Movimento Estadual da População em Situação de Rua) calcula que 66.280 pessoas sobrevivem nas ruas na Cidade de São Paulo.

Diante da urgência da situação, Prefeitura e Câmara Municipal não podem simplesmente fazer a contagem regressiva para a entrada do próximo ano. Eu, Juliana Cardoso, seja como cidadã, seja como vereadora, não posso pensar em férias enquanto a fome se alastra pela cidade. Quem tem fome tem pressa!

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