Juro pra você.

Isso ocorreu até que aquele rosto entranhado em uma amargura histórica surgisse nos idos de 2010 lambuzado de pancake nos estúdios do Superpop, na RedeTV. E olha que, mesmo dividindo o mesmo território fluminense com o parlamentar, eu nem fazia ideia quem era o sujeito. Depois das risadas angustiantes de Luciana Gimenez naqueles verões, era impossível não saber quem era Bolsonaro.

Eu também não conhecia Maurício Souza. Juro pra você. O inexpressivo jogador de voley era para mim, até então, apenas um atleta olímpico que gostava de bancar o conservador em suas redes sociais. Estava lá, naquele universo perdido, numa bolha bizarra, existindo com suas ideias.

O que se sabe é que Bolsonaro e Maurício têm, entre tantas afeições pelo conservadorismo extremista, a brava grita do campo progressista do outro lado da calçada, ávida para destruir, aniquilar e por num pedestal de ojeriza. É inegável que fomos nós, entre muitas complexidades e nuances, que os ajudamos a ter o tamanho que possuem hoje.

Depois de anos repelindo os valores conservadores propagandeados por Bolsonaro (e que fazem parte de boa parte da população, sim), dessa vez arrancamos Maurício do armário das subcelebridades e o transformamos no próximo deputado federal por alguma sigla bolsonarista. Ao ser surfado numa onda de cancelamentos, saltou de 300 mil seguidores para mais de 2 milhões. E isso tudo enquanto famílias se serviam num caminhão de lixo de Recife tentando sobreviver.

Não é evidente que perdemos o foco das disputas urgentes e esquecemos as angústias mais profundas dos desalentados? Qual foi mesmo a alternativa dada ao eleitoreiro Auxílio Brasil enquanto emendas fantasmas comiam o orçamento público e pavimentavam sua aprovação?

É verdade também que eu virei o “mimimaker” com esse papo de combater a extrema-direita sem dar luz à extrema-direita. Uma conhecida até me questionou recentemente: “Tá, mas qual é a saída?”. Ora, meu bem, a saída não existe. Ela precisa ser construída por todos nós, neste momento. Não é unilateral, mas coletiva, conjunta, estratégica e ambiciosa. A fórmula mágica precisa ser criada, neste momento, em todos os espaços de ação política.

O like-lacração da Alameda dos Estados precisa dar espaço à mobilização coletiva contra a fome, o aumento da miséria, o desemprego e a falta de qualquer coisa que nos faça ter a sensação de estar vivos. É isso que a população majoritária aguarda. O like-lacração precisa parar de eleger Maurícios e passar a pavimentar uma nova Legislatura amplamente progressista e com alternativa ao que está sendo proposto pelo bolsonarismo. O fim do self-service na caçamba de lixo depende disso.

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Andréia de Jesus

PEC das drogas aprofunda racismo e violência contra juventude negra

Márcio Santilli

Através do Equador

XEPA

Cozinhar ou não cozinhar: eis a questão?!

Mônica Francisco

O Caso Marielle Franco caminha para revelar à sociedade a face do Estado Miliciano

Colunista NINJA

A ‘água boa’ da qual Mato Grosso e Brasil dependem

Márcio Santilli

Mineradora estrangeira força a barra com o povo indígena Mura

Jade Beatriz

Combater o Cyberbullyng: esforços coletivos

Casa NINJA Amazônia

O Fogo e a Raiz: Mulheres indígenas na linha de frente do resgate das culturas ancestrais

Rede Justiça Criminal

O impacto da nova Lei das saidinhas na vida das mulheres, famílias e comunidades

Movimento Sem Terra

Jornada de Lutas em Defesa da Reforma Agrária do MST levanta coro: “Ocupar, para o Brasil Alimentar!”