A CPI da Pandemia chegou ao seu final reunindo uma vasta quantidade de provas da negligência do governo federal no enfrentamento à crise sanitária iniciada com o novo coronavírus, cujo saldo em mortes ultrapassa as seiscentas mil pessoas – além de mais outras vinte milhões que se contaminaram, índices que nos colocam como uma das nações com a pior resposta à pandemia.

Ao longo das investigações ficou explícita a escolha feita pelo governo federal: expor deliberadamente a população brasileira à contaminação pelo novo coronavírus na busca pela imunidade coletiva de rebanho e o auxílio profilático do chamado kit-covid e tratamento precoce, um coquetel de medicamentos e abordagem terapêutica cuja ineficácia contra a covid-19 ficou demonstrada em diferentes estudos conduzidos no Brasil e exterior.

As investigações também apontam ações e medidas adotadas pelo governo federal para sabotar as recomendações de enfrentamento à crise sanitária como o isolamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos com álcool em gel, por exemplo.

Outro expediente adotado pelo governo federal identificado nas investigações da CPI da Pandemia é o uso de desinformação e fakenews sobre a covid-19, o seu tratamento e os imunizantes utilizados para controle da crise sanitária. A prática de espalhar notícias falsas teve início logo com a chegada do novo coronavírus ao Brasil e segue sendo utilizada pelo governo federal – seja na pessoa do presidente, seja no balizamento de decisões sobre a pandemia.

Os indícios de corrupção também se avolumam nas investigações, mostrando a existência de um complexo esquema para desvio de recursos públicos por meio do superfaturamento de contratos para aquisição de imunizantes contra o novo coronavírus. Isso explica a demora para que o governo federal fosse atrás de vacinas para imunização do povo brasileiro, além da recusa sistemática de algumas vacinas para uso na população.

É o caso, por exemplo, dos imunizantes produzidos pela Pfizer, que poderiam estar disponíveis para uso no Brasil já em dezembro de 2020, não fosse a recusa do governo em retornar o contato em mais de uma centena de tentativas por parte do laboratório. Ou o delírio ideológico por trás da negativa em adotar a CoronaVac como uma das vacinas para uso no País.

Hoje sabemos que não apenas negligência e paranoia estavam por trás da inércia em busca de vacinas: enquanto brasileiros e brasileiras morriam aos milhares diariamente e imunizantes seguros disponíveis para uso eram ignorados pelo governo federal, um bilionário esquema era articulado para roubar os cofres públicos tendo as vacinas como moeda de troca em contratos fraudulentos envolvendo empresas e autoridades do primeiro escalão governamental.

O esquema envolve empresas já investigadas pelo Poder Judiciário por contratos suspeitos firmados anteriormente com a administração pública, offshores no exterior e empresas de fachadas utilizadas por aventureiros e charlatães em busca de dinheiro fácil junto ao governo federal. Políticos também figuram no esquema, bem como Ministros de Estado. Ao todo, a CPI da Pandemia pede o indiciamento de 80 pessoas e empresas envolvidas em corrupção.

Os trabalhos não param com o fim das sessões da CPI. Foi criada uma frente parlamentar para acompanhamento da crise sanitária, o “Observatório da Pandemia”. Entre outras funções, essa frente multipartidária irá fiscalizar o andamento das ações e outras iniciativas institucionais para desdobramento das investigações feitas pela CPI da Pandemia, bem como prestar auxílio a eventuais investigações que venham a surgir sobre o tema.

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