A atleta deu uma entrevista para a NINJA Esporte Clube contando os detalhes dessa iniciativa em parceria com o projeto Desalienado.

Foto: Reprodução

Por Luiza Diniz para a NINJA Esporte Clube

A atleta Gabriela Oliveira Fabiano inicia um novo capítulo na sua trajetória em paralelo à carreira no voleibol, onde conta com mais de 10 anos de história. Amante do esporte, a jogadora traz a representatividade como pauta de sua mais recente empreitada: o projeto Pretos na Biblioteca.

Durante a caminhada de Gabizona, como é conhecida nas quadras, essa pauta não foi tão presente quanto deveria e isso impactou sua vida fortemente.

“Me lembro que quando pequena fui em uma festa fantasia e não havia nenhum personagem parecido comigo. Quando busco em minha memória, lembro que as pessoas da minha cor eram sempre pessoas em posições de servidão, ignorantes e em subempregos, sem nenhum protagonismo. Agora um pouco mais velha percebo o quão nocivo isso foi para o meu desenvolvimento. Às vezes me pego pensando que não sou capaz de ser nada além do que tive como referência.”

A luta contra o racismo

Em 2019, Gabizona disputava a final da temporada de vôlei pelo São José dos Pinhais no Paraná, quando foi abordada com injúrias raciais e agressões físicas.

“Quando aconteceu, fiquei em choque, não consegui fazer uma denúncia, demorei para contar para minha equipe e alguns amigos íntimos. A única pessoa que me viu logo em seguida do ato foi meu namorado, e ainda assim não tive coragem para falar com ele sobre isso por um tempo. Fiquei com vergonha e tive muito medo de não acreditarem em mim ou acontecer algo pior. Mas aos poucos fui ouvindo muita música, como Luedji Luna, Emicida, Djonga, ouvindo mais sobre a história do nosso povo. Fui buscando mais conhecimento. A dor, ela existe, mas hoje consigo entender que a culpa não é minha”, relata a jogadora.

Na busca por mudanças, a esportista se uniu ao Desalienado, programa social que acredita na transformação das novas gerações através da reeducação das crianças e dos jovens. Com alunos de 8 a 17 anos, o projeto traz atividades voltadas para o esporte, a cultura e a educação, como a Livrearia, uma biblioteca comunitária feita com livros de doação popular. Após o ocorrido em 2019, Gabriela observou a urgência da inclusão de histórias contadas e protagonizadas por negros, nas bibliotecas do país.

“A representatividade aumenta as possibilidades de ser, estar e pertencer nesse mundo. Não há nada mais puro e belo como uma criança que sonha e acredita que pode ser o que quiser, que se vê nas propagandas, nos lápis de cor de pele, nos livros, embalagens, desenhos, filmes e propagandas. Isso aumenta suas chances de acreditarem em si, se sentirem bonitas e capazes”, afirma.

Diante dessa necessidade, surgiu a iniciativa Pretos na Biblioteca, que busca arrecadar livros de escritoras e escritores negros que ficarão expostos em um setor na Livrearia, disponíveis para toda a comunidade do bairro São Francisco em São José dos Pinhais. O projeto une pautas de extrema importância, como a educação e a representatividade. De acordo com Gabriela, essas questões são indispensáveis na busca por mudanças na sociedade como um todo.

“Para ambos é muito importante. Para nós, pessoas pretas, é preciso pois assim podemos nos capacitar, proteger, aprender sobre como lidar e entender de forma mais profunda nossa realidade, sobre as algemas e ferramentas que escravizam nossos corpos e mente até hoje. Temos que aprender muito sobre nós, pessoas pretas, afinal nos tiraram tudo. Para as pessoas que não são pretas, é preciso que aprendam e conheçam nossas histórias, saibam de nossas dores, saibam sobre a estrutura da qual são parte, para que a mudança seja um processo de reeducação sobre a população negra. É necessário que a sociedade como um todo esteja empenhada em reeducar nossas comunidades, municípios, estados e país, para que o racismo não se perpetue através das novas gerações”, declarou.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by Gabizona (@gabizonavolei9)

O objetivo de Gabizona e da equipe do projeto Desalienado, é que essa proposta ganhe força, ultrapasse os muros da biblioteca comunitária de São José dos Pinhais e inspire iniciativas semelhantes ao redor do país.

“Esse é apenas um projeto piloto. Meu objetivo maior é engajar e incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Que pretos na biblioteca seja algo mais presente em nossas escolas, bibliotecas e comunidades, para que em um futuro próximo, se torne algo obrigatório. A realidade da população preta pede uma atenção, acredito que é necessário repensar a forma como trabalhamos essa temática e ressignificar a pele preta.”

Para quem quiser fortalecer o projeto de Gabizona, é possível faz doações através vaquinha online, das páginas da atleta e do projeto, ou contribuir com livros e pinturas de pessoas pretas, mobília, tatames e qualquer tipo de item que possa acrescentar em na estrutura.

Mais informações:

Instagram:
@desalienadoo
@gabizonavolei9

Site:
www.desalienado.com.br

Conheça outros colunistas e suas opiniões!

Colunista NINJA

Memória, verdade e justiça

FODA

Qual a relação entre a expressão de gênero e a violência no Carnaval?

Márcio Santilli

Guerras e polarização política bloqueiam avanços na conferência do clima

Colunista NINJA

Vitória de Milei: é preciso compor uma nova canção

Márcio Santilli

Ponto de não retorno

Márcio Santilli

Através do Equador

XEPA

Cozinhar ou não cozinhar: eis a questão?!

Mônica Francisco

O Caso Marielle Franco caminha para revelar à sociedade a face do Estado Miliciano

Colunista NINJA

A ‘água boa’ da qual Mato Grosso e Brasil dependem

Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Na defesa da vida e no combate ao veneno, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos completa 13 anos

Rede Justiça Criminal

O impacto da nova Lei das saidinhas na vida das mulheres, famílias e comunidades

Movimento Sem Terra

Jornada de Lutas em Defesa da Reforma Agrária do MST levanta coro: “Ocupar, para o Brasil Alimentar!”

Bella Gonçalves

As periferias no centro do orçamento das cidades

Márcio Santilli

Desintegração latino-americana

Márcio Santilli

É hora de ajustar as políticas indígenas