Em entrevista exclusiva à NINJA Esporte Clube, atleta fala pela primeira vez sobre expectativas na ginástica após desconvocação; Já em Doha, Caio Souza, Arthur Nory e Rebeca Andrade seguem pela delegação brasileira, para a disputa internacional.

Foto: Ricardo Bufolin

Por Danilo Lysei e Renan Cuel para a NINJA Esporte Clube.

Focado nas competições em busca da sua vaga no Olimpo, Luis Guilherme Porto compõe a nova leva de atletas da ginástica que bebe de boas fontes e vem firme para carimbar o álbum da modalidade. Ginasta há cerca de dezoito anos, o atleta de 24 anos é um dos nomes em potencial da atual geração da ginástica artística brasileira.

Após sofrer corte inesperado do que seria o seu primeiro Mundial de Ginástica Artística, o atleta compartilha pela primeira vez as expectativas na modalidade. “Agora a gente se prepara para o ano que vem. Estou treinando elementos novos, com foco no geral (individual), para aumentar a minha dificuldade e me preparar para 2024 (Paris)”, pontua o ginasta do Grêmio Náutico União depois do retorno aos treinos pós brasileiro.

Trajetória

Um novo nome para alguns, Luis já vem sutilmente emplacando sua carreira em competições nacionais e internacionais, ao apresentar o seu desempenho técnico e eficiência, dignos de maiores saltos pela Seleção Brasileira de Ginástica.

Em 2014, depois de conquistar a prata e bronze no Campeonato Brasileiro Juvenil pela delegação, o atleta, na época com 16 anos, foi selecionado para representar o país no Campeonato Pan-Americano Juvenil de Ginástica.

Dali em diante, Luis só cresceu e seguiu em progressão. O jovem foi se destacando em provas por aparelhos, especialmente solo e salto, no auge dos 20 anos. Em fevereiro de 2018, Luis chegou a ser finalista na Copa do Mundo de Ginástica em Melbourne, Austrália, e fechou em 5º lugar no salto. Já em março de 2018, o gaúcho teve um resultado expressivo na DTB Pokal, Alemanha, com o título de 2º lugar conquistado por equipe pela delegação brasileira masculina. Na época, foi o primeiro campeonato do ano por equipe de ginástica do Brasil, considerado ‘teste’ de avaliação para mundial e olimpíadas.

COCHABAMBA / BOLÍVIA (27.05.2018) Xl Jogos Sul Americanos 2018. Brasil ganha medalha de ouro, na Ginastica Artística, por equipe. © Washington Alves/Exemplus/COB

Ainda no mesmo ano, o gaúcho levou a medalha de ouro por equipe nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, Bolívia e foi medalha de bronze no individual geral do Campeonato Brasileiro de Ginástica. Na ocasião, Luis ia aos poucos compondo a elite do time Brasil, ao lado dos experientes atletas Arthur Zanetti, Francisco Barretto, Caio Souza, Péricles Fouro da Silva e Leonardo Souza.

Na temporada de 2019, Porto iniciou o seu auge: pela sua universidade, Luis foi bronze pelo salto na 30ª Universíade de Nápoli 2019, Itália, após alcançar a mesma pontuação do 2º colocado da Belarus e perder apenas pelo critério execução no desempate. “Depois que eu fiquei sabendo que só o Mosiah, a Dayane e o Zanetti tinham medalha lá (competição), isso me deixou um pouco mais feliz, né”, relatou descontraído ao se orgulhar do título durante a caminhada.

Luis Porto e o técnico pela equipe do Grêmio Náutico União, Leonardo Finco, no Universíade 2019. | Foto: Reprodução / Instagram

Além da medalha no mundial universitário, o ginasta foi 4º lugar no solo e 7º lugar no salto, nas individuais por aparelho, e somou ao grupo de atletas que fizeram campanha histórica e levaram o título de campeão por equipe do Pan-Americano Lima 2019 – o maior até então na sua carreira.

Mundial 2021

Desde 2018, o atleta vem somando importantes títulos ao currículo que potencializaram cada vez mais a possibilidade de ida ao Mundial. E, mesmo diante das adversidades como a recuperação do rompimento do tendão de Aquiles e treinamentos durante a pandemia, a expectativa era para 2021: “Eu vinha competindo tudo e faltava apenas os maiores – jogos olímpicos e o mundial para mim. E o Mundial estava aí”, compartilha o medalhista.

Eis que a consagração veio: o campeão do Pan de Lima 2019 havia sido convocado no último dia 23 após seletiva online masculina, para o Mundial de Ginástica Artística em Kitakyushu, no Japão, junto às referências nacionais Caio Souza e Arthur Nory. E Rebeca Andrade pelo feminino.

https://twitter.com/cbginastica/status/1441172511341776898?s=20

Contudo, a menos de quinze dias da representação do Brasil no exterior, a comissão técnica do Grêmio Náutico União recebeu a desconvocação do atleta pela comissão técnica da seleção brasileira, durante o Campeonato Brasileiro de Ginástica, realizado na última semana. A informação do corte foi dada pelo portal ‘Olimpíada Todo Dia’, na terça-feira (05) e não foi divulgada oficialmente pela Confederação Brasileira de Ginástica.

“Não nos foi passado nenhuma informação com relação a esse evento (Brasileiro), que seria ou não classificatório também, ou que seria momento de avaliação para o mundial. A partir do momento que a regra tinha sido que seria a seletiva, nós esperávamos que isso fosse mantido. Além de não ter sido mantido, foi complicado o aviso às vésperas da viagem e das próprias finais por aparelhos”, argumenta Leonardo Finco, técnico pessoal de Luis, pelo GNU, e ex-chefe da equipe masculina da Seleção Brasileira de Ginástica Artística, em avaliação a desconvocação.

Apesar de não avançar para as finais por aparelhos e ficar na 11ª colocação no individual geral durante o torneio nacional, Luís explica que o seu foco era o campeonato mundial. “Tinha uma expectativa muito grande antes da seletiva. Acabei saltando muito bem e de fato a convocação veio, era por ali que eu tinha chance. Tanto que teve o estadual e eu acabei me poupando. E na semana seguinte, no campeonato brasileiro, a gente o usaria de preparação para o mundial, pois foi minha primeira competição depois do período de isolamento”, comenta após a revogação.

Com as malas prontas para Doha, Catar, para o período de aclimatação com os outros colegas de modalidade, o ginasta então recebeu o comunicado de surpresa justificado como “insuficiência técnica”, sem saber de nova avaliação durante o torneio nacional.

“Se teve a convocação e as avaliações serviram para isso, o brasileiro não iria servir como avaliação, eu estava classificado. Estava treinando, testando elementos novos, que iria usar no mundial. Na minha seletiva e no brasileiro foram as mesmas séries”, esclarece Luis em contraponto a insuficiência alegada. “Seria o primeiro campeonato mundial dele onde ele poderia experimentar os saltos que vem trabalhando e no fim não aconteceu”, completou o técnico Leonardo.

Luis havia sido chamado junto ao grupo seleto de 4 ginastas para a representação do país na competição do exterior, já inferior aos 10 nomes que a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) poderia levar ao evento, mas não convocou.

Sem a ida ao torneio Mundial, o atleta se recolhe à retomada dos treinos gradativos, em preparação para as próximas competições.

CBG e avaliação

Procurada sobre o assunto, a assessoria de imprensa da CBG informou que “com base nas observações a respeito do desempenho técnico do ginasta Luis Porto durante o Campeonato Brasileiro Loterias Caixa de Ginástica Artística, a Comissão Técnica decidiu retirá-lo da lista de convocados para o Mundial em Kitakyushu”.

A associação ainda confirmou que o treinador do atleta foi informado no sábado (2) durante o nacional acerca da não mais convocação, e esclareceu que as avaliações pela comissão técnica ocorrem continuamente, sempre preservando “a integridade física, emocional e técnica de cada ginasta” diante de qualquer definição ou competição.

A decisão do corte do Luis não apresentou nome substituto para a delegação final. Em explicação à NINJA, o Coordenador Geral e de Eventos da CBG, Henrique Motta, corroborou com a decisão da comissão e com a busca prioritária de tentar levar ginastas em competições compatíveis com o momento de cada um.

“Em todas as competições, para a comissão técnica definir a participação dos atletas, são avaliados os riscos e benefícios para o ginasta. Além disso, são levados em consideração diversos pontos de atenção transdisciplinares pensando em todas as competições presentes e futuras para o ciclo olímpico, que se inicia ao final deste ano, sempre respeitando os limites e desenvolvendo virtudes de cada integrante das nossas seleções”, posicionou a CBG em esclarecimento ao envio de apenas 3 ginastas neste momento.

Seguiremos fortalecendo a rede de atletas ginastas, como o Luis, e torcendo pelo Brasil nas próximas competições.

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