Em 2020 as mulheres fariam um grande avanço nas competições de nível internacional, com a primeira Copa do Mundo IFCPF (Feminina). No Brasil, as mulheres podem competir em equipes mistas

Foto de Mariana Damásio, loira e branca. Ela aparece sorrindo e prestes a cumprimentar o árbitro em sua frente que carrega uma placa eletrônica de contagem de tempo.

Foto: ANDE

Por Paula Veiga

A Federação Internacional de Futebol PC (IFCPF) anunciou que em 2020 ocorreria a primeira Copa do Mundo feminina da modalidade em Barcelona, ​​na Espanha, junto com o Campeonato das Nações. Mas, devido à pandemia de COVID-19, os jogos foram adiados e a data até hoje não foi redefinida. O evento visa levar o desenvolvimento do esporte para o próximo nível e países como Argentina, Dinamarca, Espanha e Holanda confirmaram sua participação.

Como na maioria dos países, o Brasil conta apenas com times masculinos e mistos no Futebol para Paralisados Cerebrais e a princípio não participará da Copa. No entanto, isso não significa que não haja jogadoras no país. As mulheres podem treinar e competir no Brasil em equipes mistas. Mariana Damásio, agora com 25 anos, foi a primeira mulher a disputar uma competição brasileira da modalidade.

A atleta começou a treinar em março de 2017, depois de uma busca na internet mostrar a ela um time perto de onde morava em Belo Horizonte, Brasil. Em setembro do mesmo ano, a jogadora foi ao Campeonato Brasileiro de Futebol PC, na segunda divisão da Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande), em São Paulo.

Damásio acredita que a participação feminina em competições de nível internacional é importante e, para ela, a Copa Feminina é apenas um primeiro passo. É preciso, na opinião de Damásio, que mudem as condições da modalidade para que o espaço feminino se torne real. Infelizmente, o sonho da atleta foi interrompido após uma lesão muscular devido à sobrecarga no joelho.

Após o diagnóstico feito por um ortopedista esportivo, a jogadora recebeu a recomendação de interromper a prática. Mas ela não desistiu dos esportes. Após sofrer a lesão, ela começou a treinar tênis de mesa. Damásio, hoje jogadora do Ginástico/360TT, em Belo Horizonte, tem como objetivo se profissionalizar no esporte paralímpico.

Imagem da jogadora Mariana Damásio de lado, do calcanhar à cabeça, caminhando no campo.

Foto: ANDE

“Procuro manter a calma para dar continuidade a esse processo, dando um passo de cada vez, sem criar muita expectativa. O caminho para a recuperação foi difícil. A certa altura, não acreditei que pudesse voltar ao esporte. Descobrir o tênis de mesa foi um presente, a retomada de um sonho. Ouso dizer que nunca me senti tão confortável e feliz praticando um esporte como agora”, afirma Damásio.

No Campeonato Brasileiro de Futebol PC, Mariana fez parte da comissão técnica. As regras eram para times masculinos, portanto ela não teria a oportunidade de jogar. Porém, quando sua comissão chegou ao local da competição, os técnicos e diretores de Ande votaram nela para fazer a classificação funcional e disputar o campeonato. Ela aceitou o desafio, apesar do desconforto de jogar em uma equipe mista.

“A desvantagem é inegável, existem diferenças fisiológicas e eu as senti muito. Foi difícil entrar numa dividida – quando dois jogadores disputam a bola -, várias vezes tive medo de me machucar e sabemos que na hora da competição ninguém alivia ninguém. Percebi que não poderia dar o meu melhor em campo por todas essas questões de força muscular e resistência, o que acabou sendo uma vantagem para os homens”, relata a jogadora.

O classificador internacional Agnaldo Bertucci, ex-médico da Seleção Brasileira de Futebol PC, comenta que as desvantagens das mulheres na categoria masculina se devem à própria estrutura corporal, o que não significa impossibilidade de competir.

Segundo Paulo Cruz, representante brasileiro do IFCPF e técnico da seleção que conquistou prata nas Paralimpíadas de Atenas em 2004, a participação de Mariana no campeonato influenciou a formação das seleções femininas, ainda em estágio embrionário na maioria dos países. Ele também reitera que o processo é lento, precisa ser divulgado para atrair mulheres com paralisia cerebral para participarem de atividades que são organizadas em alguns países.

“Ter Mariana Damásio disputando o Campeonato Brasileiro da segunda divisão foi um marco para as futuras iniciativas da Ande, que rege o esporte no Brasil. Entendo que é uma longa jornada, mas que, felizmente, já começou e, dependendo do IFCPF, em breve será uma realidade no mundo do esporte para pessoas com deficiência”, assegura Paulo Cruz.

De acordo ainda com Paulo Cruz, depois de as regras permitirem que homens e mulheres joguem nas mesmas equipes em competições oficiais, a ideia é promover encontros em todo o mundo para desenvolver o futebol feminino. O representante diz que foi criado um grupo para este fim na IFCPF, com participantes de vários continentes. No site oficial da federação, a regra da mistura de gêneros é referida como uma medida provisória até existirem atletas suficientes para terem times e competições de categoria feminina.

Atual técnico da Seleção Brasileira de Futebol PC, Paulo Cabral, acrescenta que depois da presença de Mariana em campo, outras mulheres tiveram a chance de disputar competições nacionais em times mistos. Na categoria masculina, a equipe conquistou medalhas como bronze nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, no Brasil, e na Copa do Mundo Sevilha 2019, na Espanha, e ouro na última edição do Parapan-Americano, em Lima 2019, no Peru.

Por decisão do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o Futebol PC foi retirado do programa Paralímpico, o que resulta na ausência da modalidade nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. Um dos motivos do afastamento, segundo Paulo Cruz, foi a falta de presença feminina. Por isso, novas medidas foram e serão tomadas para desenvolver a categoria feminina mundialmente.

Foto que mostra 5 homens uniformizados junto à atleta Mariana Damásio, a mais baixa deles. Ela aparece sorrindo e junto com eles fazem pose para foto.

Foto: ANDE

“Após a modalidade ter sido retirada do programa dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, a IFCPF focou toda a sua atenção nos aspectos que foram determinantes para esta decisão. Houve uma reformulação significativa no processo de classificação funcional, comprovação documentada e aumento do número de países que desenvolvem o Futebol de PC, realização de cursos em todos os continentes visando a implementação do esporte, atualização das regras, introdução nas normas da possibilidade de haver equipes mistas em relação a gênero”, Paulo Cruz completa.

O IFCPF realizou outras iniciativas em 2019, como o CP Football (Camp Female). Na edição holandesa, participaram 22 atletas femininas da Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda e Japão. De 8 a 12 de outubro, a Austrália produziu a versão destinada à Ásia e Oceania. Além disso, em 17 de julho de 2020, foi transmitido no Facebook um webinar online, Transfer Window, sobre a perspectiva das jogadoras.

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