Minoria na cena esportiva, as mulheres vêm fazendo um trabalho incrível nas coberturas dos jogos. Porém, ainda são submetidas a situações constrangedoras em seus locais de trabalho.

Reprodução/Facebook

Por Luiza Diniz

De acordo com dados divulgados pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o ano de 2020 registrou o maior número de ataques à liberdade de imprensa. Foram 428 casos de violência catalogados no Brasil, quase 120% a mais que no ano de 2019, com 208. De ameaças em redes sociais a assassinatos, os jornalistas enfrentam o perigo diariamente no exercício da profissão.

A realidade não é diferente no cenário esportivo, principalmente para mulheres. Inseridas em um universo dominado por homens, essas profissionais são consideradas “intrusas” nas coberturas dos jogos, sendo desrespeitadas por torcedores, treinadores e até colegas de trabalho. Cansadas de ignorarem os ataques e serem silenciadas diante de assédios frequentes, essas profissionais estão dando voz às suas histórias, buscando respeito no espaço conquistado, merecidamente, por elas.

Um panorama da violência no jornalismo

Ao longo dos anos, com a explosão de fake news e notícias de whatsapp, os jornalistas buscaram reafirmar suas funções como porta-vozes de fatos verídicos para a sociedade, reiterando a necessidade de um jornalismo de qualidade ao redor do mundo. Em diversos países, esses profissionais são reconhecidos pelos trabalhos que vêm exercendo, enquanto no Brasil o caminho é inverso. Em janeiro de 2021, a FENAJ divulgou que 41% dos ataques a veículos de comunicação foram feitos pelo próprio Presidente da República, Jair Bolsonaro, dentre tentativas de descredibilização, agressões verbais e ameaças. Grande parte dessas ocorrências foram destinadas a mulheres. Como no caso da repórter da CBN Victoria Abel, que ouviu do governante que deveria nascer de novo. Essa postura violenta e descabida, incentivada ultimamente pelo dirigente do nosso país, pode ser percebida não só na esfera política, mas também no mundo dos esportes.

#DeixaElaTrabalhar

No mês passado, a jornalista norte-americana Brianna Hamblin denunciou em suas redes sociais um episódio de assédio sofrido por ela. Momentos antes de sua entrada ao vivo para o Spectrum News 1, a repórter foi alvo de comentários desrespeitosos por parte de homens que passavam pela rua, cena essa que foi registrada em vídeo pelo operador de câmera que a acompanhava.

“ A audácia das coisas que os homens me dizem nunca deixa de me surpreender. O que te faz pensar que as mulheres querem ser tratadas desse jeito? É desconfortável e nojento,” disse Hamblin em postagem no Instagram.

A denúncia feita por Brianna reacende a discussão sobre a dificuldade do exercício da profissão por jornalistas mulheres, principalmente no cenário esportivo. Xingamentos vindo de torcedores, cantadas, discursos de ódio em comentários de redes sociais, ameaças de agressão e estupro, são elementos que fazem parte da realidade de trabalho de diversas profissionais do jornalismo no Brasil e no mundo. Em março de 2018, no Rio de Janeiro, a repórter Bruna Dealtry foi beijada, à força, por um torcedor durante a cobertura ao vivo de um jogo da Libertadores, para o canal Esporte Interativo. A jornalista, apesar de constrangida, seguiu com a transmissão.

No mesmo mês, Renata Medeiros cobria a partida entre Grêmio e Inter para a Rádio Gaúcha, quando foi agredida fisicamente por um torcedor do Internacional. Os casos foram o estopim para a criação do movimento #DeixaElaTrabalhar, uma campanha feita com a colaboração de cerca de 50 jornalistas mulheres contando seus relatos em vídeos e pedindo mais respeito para as profissionais atuantes. O projeto, apesar de ter sido criado por jornalistas esportivas, reivindica melhores condições de trabalho para mulheres atuantes em diversas áreas, porque respeito é bom e a gente exige.

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