Numa semana que começou a 26 de julho de 2021, com o “trabalho de genocídio” contabilizando 550.000 mortos e o número de óbitos diários mantido acima de quatro dígitos, tragédias anunciadas materializaram-se em sequência noutros setores, ao gosto dos golpistas de 2016 e dos insanos governistas do País em desconstrução.

Para que não se perdesse o ritmo alucinante de desmonte da nação, na quarta-feira, 28, anuncia-se o apagão no CNPq, com a perda do seu monumental banco de dados académicos e, na sexta-feira, 30, o descomunal incêndio na Cinemateca Nacional, encadeando-se estes episódios numa lógica narrativa da necropolítica em vigência, desde o Palácio do Planalto.

Na semana anterior o Brasil assistira estarrecido o espetáculo picaresco protagonizado pelo senhor presidente, subtamente acometido de soluços intermitentes e prisão de ventre contundente, culminado com a exposição de um corpo quase moribundo atado à máquinas hospitalares por teia de fios e suportado por sondas, não fosse o quadro mais uma macrabra fake news, quando desaba em avalanche nas pesquisa de opinião o apoio do eleitor ao ex-capitão, e se aperta o cerco contra ele e seus comandados civis e da caserna, na CPI do genocídio que prospera no Senado.

De tragédia em tragédia e aturdido por crimes lesa pátria de proporções progressivas – caso já tenham sido esquecidos, por exemplo, os incêndios na Amazônia, o derramamento de óleo nas praias do Nordeste e o rompimento da Barragem de rejeitos minerais em Brumadinho, todos nesta gestão -, o Brasil, nesta semana, parece ter se aproximado definitivamente da ruína, ainda que não haja neste governo nada de ruim que não possa ser pior amanhã.

Eis que ao final do dia, nesta mesma sexta-feira, e na contramão destes infortúnios, uma voz trêmula e impertinente de uma mulher de 91 anos se levanta do fundo da coxia para a luz das redes; dos escombros in(cine)rados dos sets para as telas digitais de um país enxague, exaurido por misérias e falácias, mas que resiste graças à ciência, à cultura e às artes, e, que, por isso mesmo, está sob a mira desabusada da fraude empossada no governo. A voz é de Fernanda Montenegro, a atriz, que pede a palavra para ler um texto que ela própria escreveu: “O incêndio da Cinemateca, nossa, em São Paulo, é uma tragédia anunciada. Toda nossa cultura das artes sofre um cala-boca neste momento, mas vamos renascer, tenho certeza, nós temos certeza. Das cinzas vamos renascer, é o sagrado eterno retorno. Das artes então, na cultura das artes então – um País não existe sem cultura ligada às artes”. Alea jacta est.

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