Por Isabella Queiroz e Marcus Vinicius Oliveira 

“Ah! Bem-vindo ao Brasil
Único país do mundo em que
A gasolina é cara que nem cocaína, fi
E ter um ensino de qualidade é uma fortuna
E as escolas não te educam, só te passam disciplina
Onde uma alimentação básica de arroz, feijão, carne e milho
É mais cara que um salário mínimo […]”

 “[..] Bem-vindo ao caos, 2018
Onde a violência é mais importante que a eleição
Onde a eleição é mais importante que a humanidade
Já que humanidade é uma palavra esquecida por essa geração”

Em 2018 já foi difícil.

“[…]Espero que seja o último Brasil de quem?, viu?
Porque se eu tô fazendo essa música é porque o país tá uma merda
E você se engana achando que o país tá uma merda agora
O país tá uma merda há mais de duas década, parceiro, acorda”

E é Sid, em 2019, não foi o último Brasil de Quem?, né?

Lembro no fim do primeiro ano de governo quando meu medo era entrar na Universidade no segundo ano e ter problemas na Universidade por conta do governo. É, 2020 foi bem mais que isso.

A pandemia chegou e as universidades e escolas fecharam. As pessoas de fora do Brasil se preocupavam mais com a gente do que nossos próprios representantes. E como fica para quem não tem como estudar em casa? Já dizia Sid: 

“[…] Aula suspensa em prol do bem
Aula online é pra quem pode
Na quebrada tem aluno que nem internet tem
E o MEC cogitando a ideia de não cancelar o ENEM
E aí eu pergunto: Essa decisão favorece a quem?”

Semana passada, dia 25 de maio de 2021, terça-feira, entrei na minha instituição de ensino, Universidade Federal. Lá realizei meu teste de baixo custo para detecção do SARS-CoV-2. Autocoleta. “Você utiliza transporte público para chegar até a Universidade?” Trinta e três quilômetros de distância da minha casa. No dia seguinte a notícia que minha Universidade poderia fechar as portas em breve por falta de verba. Três dias depois recebi meu resultado por e-mail. Negativo.

O teste foi desenvolvido pela Universidade Federal do ABC durante os últimos meses e se mostrou confiável ao longo dos testes ao qual foi submetido. Lá na UFABC também é localizado o Hospital de Campanha de Santo André, que cuidou de muitos pacientes infectados com o vírus.

Como se não bastasse os males que estamos passando sem contenção nenhuma por parte do governo, ainda o jovem pode ficar com sua universidade fechada.

Um corte de 18% do orçamento e atrasos no repasse da verba.

“ […] Armar um povo sem estudo é pura insanidade
Política de extermínio sempre refinada
Educação por outro lado tá sucateada
O professor, pra variar, tá mal remunerado
Aluno sem internet ta sendo abandonado
Por isso a boca da esquina tá sempre lotada
Quer acabar com o crime? Então investe na escola
Dignidade e infraestrutura pra quebrada
Menor precisa de perspectiva e esperança
Quando o estado não dá isso, o crime vai e abraça”

 Se as universidades públicas fecharem, é melhor “Jair” se acostumando com cada vez mais desemprego, crime e medo. Cada vez menos inovação, pesquisa e avanço científico brasileiro.

A educação que já não tinha valorização por parte da maior parte da população se desvalorizando mais.

Não adianta o jovem de classe média baixa estudar, se esforçar e tentar melhorar de vida entrando em uma universidade se já não tem verba para manter a universidade aberta. Quem não consegue de graça paga, e como se paga sem emprego e fonte de renda?

Já não é novidade a falta de infraestrutura na Educação e a maior preocupação ainda é fazer piada com a manifestação contra o governo em rede nacional.

As Universidades Públicas são a maior fonte de pesquisa e avanço tecnológico brasileiro. Imagina como seria a vida hoje se o Instituto Butantan não estivesse produzindo vacinas para o SARS-CoV-2? O Instituto é uma das entidades associadas à Universidade de São Paulo, a USP.

Na USP, as bolsas socioeconômicas estão atrasadas a meses e os estudantes que dependem delas e de moradia por parte da USP não estão tendo amparo e manutenção.

Infelizmente, esse assunto é muito pouco tratado nas grandes mídias, e o pouco que vemos é mal aprofundado e não mostra todos os problemas que essa realidade nos acarreta.

Na mesma semana em que a notícia dos cortes e da possibilidade do fechamento das Universidades em 2021 chegou até mim, uma música muito necessária também estourou nas plataformas digitais: Brasil de Quem Pt. 5, do Mc Sid. Se você ainda não conhecia o Mc Sid, os versos apresentados no início desse texto são remetentes a outros Brasil de Quem, músicas em forma de protesto (muito bem colocados) do rapper.

Fizemos o convite ao Mc Sid para debater esse tema, o corte de verbas e a educação no Brasil, que parece ter sido esquecido nos últimos tempos.

É necessário entender que a situação que chegamos não é apenas uma mera coincidência, e sim um plano bem traçado com objetivos claros e obscuros.

O crescente acesso das classes menos privilegiadas ao ensino superior público vem causando grande incômodo. Nosso país possui um paradoxo onde as faculdades públicas são ambientes de classe média alta e a maioria das faculdades particulares são voltadas para as classes inferiores, que em sua maioria saem das instituições carregando inúmeras dívidas.

Não é fácil se manter e se sentir acolhido em um ambiente que demonstra não ser favorável a você. A evasão das universidades são facilmente compreendidas quando se analisa todos os fatores envolvidos, não apenas os financeiros mas os psicológicos. Quando o ambiente demonstra que você não é bem vindo, uma hora as vezes você acaba acreditando.

Os cortes nas universidades acontecem há um bom tempo, e não é algo comumente visto nas grandes mídias, ainda mais quando se percebe o impacto que o país sofre com os fechamento dessas instituições. E uma ferramenta importante para essa informação chegar nas comunidades é o RAP.

Rap e educação caminham lado a lado no Brasil. Nossa cultura Hip-Hop possui uma ideologia bem definida, algo inegável na história. Hoje em dia são diversas gerações que batem no peito quando falam que o Rap as educou e é o responsável por suas trajetórias.

Por isso quando MC’s como o Sid falam sobre os cortes da educação em suas músicas, a importância e o impacto são tremendos. Pois para muitos o rap segue como um caminho de verdades e informações. Logo quanto mais o povo estiver informado sobre os problemas que vem nos assolando, maior é a revolta e a cobrança em cima dos governantes responsáveis por tais problemas.

Por fim, fica a reflexão, esse corte de verba para a educação é caso pensado ou não? Estamos fadados a ficar à mercê de quem se beneficia de descaso com a informação? Temos em mente que esse corte na educação não é sem motivo, não. Educação liberta.

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