Eu me calei por muito tempo! Eu sofria com a minha filha, sem apoio até dos que diziam estar ali pra ajudar, que eram coniventes e que presenciavam a tudo calados, sem interferir, com a desculpa de que eu tinha que aguentar calada porque esse era o ‘jeito dele’, o ‘temperamento dele’, e que, se eu quisesse viver com ele, teria que me sujeitar e ser submissa. Não se calem!!! Não se calem jamais!!! Eu não vou me calar!”

Este aqui acima é o desabafo de Pamella Holanda, nas suas redes sociais. Corajosamente, ela veio a público denunciar os abusos e a violência física que sofria do seu ex-companheiro, o DJ Ivis, artista expoente do forró eletrônico, na presença da filha do casal, de apenas 9 meses. As imagens divulgadas por Pamella nos chocam e nos causam uma dor profunda, pois é como se doesse em nossa própria pele. Nenhuma mulher merece ser submetida a tamanha violência em um espaço que deveria ser para ela o mais seguro: a sua casa, o seu lar. Nenhuma menina deve carregar essa ferida profunda que é ver a sua mãe agredida pela figura do seu pai, no seio da sua família, que deveria ser o seu lugar de abrigo e proteção.

As agressões foram registradas pela câmera de segurança do apartamento e atestam a presença de uma testemunha das agressões, que nada fez para proteger Pamella. A omissão de quem teve oportunidade de proteger uma mulher em situação de violência guarda a dimensão de cumplicidade. Quando se trata de violência contra a mulher, um processo difícil a se enfrentar é o sentimento de solidão e o medo de romper com o ciclo de violência, pois o machismo estrutural desencoraja muitas mulheres a pedir socorro. O machismo estrutural é cruel pois culpa a vítima pela violência sofrida, e esse sentimento nos paralisa, nos desumaniza.

Relacionamentos abusivos também guardam elementos de dependência econômica e material, violência psicológica. A violência física representa a expressão mais extrema de diversas micro-violências sistemáticas. Não é de surpreender que o DJ Ivis tenha passado a punir Pamella com a violência patrimonial, ao negar o sustento da filha, após Pamella ter reunido coragem e rompido com o silêncio ao denunciar a violência e o abuso que sofreu. Mais grave ainda é a tentativa de o DJ Ivis manipular a verdade dos fatos para deslegitimar Pamella e inverter a responsabilidade ao culpar a vítima. O DJ Ivis precisa ser responsabilizado pelas violências que cometeu.

O machismo estrutural reproduz a ideologia de que as mulheres são objetos de posse do homem, sendo, portanto, por essa lógica, cidadãs de segunda classe. Isso retira de nós a nossa humanidade. É preciso romper com essa cultura machista e misógina que tolera e normaliza a violência contra as mulheres em nossa sociedade.

Precisamos cada vez mais fortalecer as nossas redes de apoio e proteção, para compreendermos que não estamos sozinhas, que não precisamos nos sentir sozinhas, nem nos isolar e nos culpar frente à violência machista que é direcionada contra nós e as nossas meninas, contra os nossos corpos, dignidade e humanidade. Seguiremos na luta, denunciando toda forma de violência contra as mulheres, por todas nós! Em briga de marido e mulher, devemos salvar a mulher!

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