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Durante toda esta semana, 28 escritores e 14 mediadores estão se revezando numa intensa programação em sete bares de Brasília. É a Movida Literária, evento auto-organizado que tem como objetivo ajudar a mudar a ideia que os brasileiros têm de que sua capital é apenas o lugar da política, da burocracia e da corrupção.

Uma movimentação inédita está ocupando sete dos mais importantes bares de Brasília esta semana. E o objetivo é ousado: fazer com que os brasilienses e os brasileiros em geral vejam sua capital não como a cidade da burocracia, da política e inclusive da corrupção. O festival “Movida Literária – Ler, beber e conversar” quer mostrar uma cidade viva, criativa, com uma importante e variada literatura. E para quê? Para enfrentar o utilitarismo, o pragmatismo e a caretice com que parte da cidade aparece não só para os que vivem no Distrito Federal, mas no Brasil todo.

A inspiração veio de eventos como a Festipoa Literária que há dez anos movimenta Porto Alegre e a Balada Literária, de São Paulo. Ocorre que, diferentemente dessas cidades, Brasília tem poucas livrarias de calçada – a maioria concentrada nos shoppings. A solução pra isso e ao mesmo tempoo que acabou sendo o grande diferencial da Movida em relação a outros eventos do tipo foi realizá-la nos bares, viajar por sete bares, levando um evento de literatura para os lugares de lazer e boemia de Brasília. E por que esses bares? Porque eles são reconhecidos lugares de trocas simbólicas, intercâmbios, aprendizados e ampliação de repertórios. Ali se discute política, se comentam filmes, fala-se de bandas e artistas novis, livros etc. E isso tem tudo a ver com literatura.

Principalmente no atual momento pelo qual o País passa, Brasília precisa mostrar que é muito mais que a cidade do golpe, das maracutaias, da violência, da retirada dos direitos, e da violência contra os mais pobres. A estratégia os escritores é mostrar ao Brasil que sua capital é viva, criativa, rebelde e crítica. E foi um sentido de urgência que levou a curadoria do evento, formada por Jéferson Assumção, Nicolas Behr, José Rezende Jr, Paulliny Gualberto Tort e Maurício de Almeida, a fazer uma espécie de ocupação cultural da cidade, a partir de alguns de seus bares mais movimentados.

A ideia nasceu há uns seis meses, embora há um bom tempo esses escritores e também João Bosco Bezerra Bonfim, André Giusti, Renato Fino e outro viessem pensando na necessidade de fazer algo para mexer com a cena literária local e colocá-la no mapa nacional. Começou como algo para ajudar a fortalecer o sistema literário autor-obra público de Brasília e projetá-la para além da cidade, mas está indo além: fez surgir um coletivo de escritores, o Movida Literária, com uma ambição bem maior de estruturar a economia do livro e da literatura no DF e ajudar a contribuir para uma ideia de capital criativa para o Brasil.

Assim como Buenos Aires ou Montevidéu, por exemplo, são referência cultural e orgulho de seus países, não apenas o lugar da política, é preciso mudar a imagem que os brasileiros têm de Brasília hoje, até mesmo para os brasileiros se verem melhor representados em sua capital do que por homens ricos, brancos engravatados. Além da beleza arquitetônica mundialmente valorizada, Brasília é um lugar da política, sim, mas também da criatividade. O brasileiro precisa ver sua capital como um lugar vivo e criador de narrativas, de poesia, de ficção, cinema, música, teatro, dança, artes visuais, como de fato é. E a ideia da Movida Literária pretende colaborar com essa imagem.

Trata-se de um encontro promovido e realizado pelos próprios escritores, de baixíssimo custo, com um senso de sustentabilidade diferente dos grandes e caros eventos. Os recursos (R$ 7 mil) foram arrecadados de maneira colaborativa com o próprio público e os escritores, pelo site Catarse, além de contar com bares, jornais e uma empresa de publicidade local.

Os cinco curadores foram coletivamente dando forma ao evento, montando as mesas de acordo com critérios de diversidade de linguagens, capacidade de representar a literatura da cidade. Chegou-se ao máximo de nomes que se poderia abarcar nesta primeira edição, que mesmo assim está bem extensa, com 28 autores, em sete dias, além de14 mediadores. Os bares foram escolhidos de maneira estratégica também, de acordo com sua história para a cultura da cidade, sua localização estratégica junto a públicos de estudantes e sua relação com a literatura de Brasília. Para mediadores foram convidados professores e alunos da UnB e jornalistas locais. Uma porção de autores e autoras importantes vive em Brasília, premiados nacionalmente, como Nicolas Behr, José Rezende Júnior, Lourenço Cazarré, Marco Miranda, Tino Freitas, Maurício de Almeida, e diversos outros que circulam nacionalmente.

Novos goliardos

Na Europa medieval, quando foram criadas as universidades, muitos jovens iam do interior para as capitais mas sendo leigos não se adaptavam à vida clériga, religiosa das universidades. Estavam no meio das duas coisas. Não eram mais leigos, porque haviam adquirido determinado conhecimento mas também não eram clérigos. Ficaram conhecidos como goliardos, filhos de Golias, pois borbulhavam nas tabernas fazendo poesia, música, literatura, filosofia. Eles são considerados precursores do Renascimento, inclusive pela carga de criatividade que essas trocas nos bares geraram. Todo lugar precisa disso, de boemia, de encontros, trocas simbólicas e criativas para se oxigenar e se humanizar. Daí nasceu o nosso slogan: ler, beber, e conversar.

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