A prefeita Socorro Neri (PSB) cometeu um grave erro. Escondeu da população o sério problema que vinha – e ainda vem – acontecendo com as empresas concessionárias do serviço público de transporte coletivo aqui de Rio Branco. Ao contrário, durante a campanha eleitoral, deixou transparecer que tudo corria bem: colocou para circular dois veículos bi-articulados e ensaiou o funcionamento do sistema inter-modal, como símbolo da pujança, da sanidade das contas e da esperança de tempos melhores para o setor.

O fato é que, além da pandemia – que diminuiu a quantidade de passageiros e, via de consequência, o faturamento das empresas de ônibus – a prefeita viu surgir diversos outros modais de transporte que disputam passageiros com o velho busão. Dos aplicativos (cuja lei, já aprovada, não foi por ela implementada) ao táxi compartilhado, a prefeita fez vistas grossas: talvez, temendo algum “desgaste eleitoral” não os regulamentou, deixando a situação correr frouxa. O resultado? O caos.

Passadas as eleições, a prefeita “atentou” para a necessidade de sanar o problema e, apenas 15 dias após o pleito, foi ao socorro (com perdão do trocadilho) da situação. Tentou resolver o assunto encaminhando, à Câmara de Vereadores, um Projeto de Lei (PL) de auxílio financeiro de R$ 2,4 milhões às empresas de ônibus. O argumento (descabido), em tom de ameaça, é o de que, sem o auxílio, as empresas de transporte coletivo sequer conseguiriam arcar com suas folhas de pagamento, deixando os seus funcionários ao Deus dará. Empresários mobilizaram seus colaboradores e o transporte público sofreu interrupções ao longo dessa semana.

Ocorre que a relatora do PL, Líder da Prefeita na Câmara Municipal, vereadora Elzinha Mendonça (PSB) apresentou relatório desfavorável e o PL foi rejeitado por 5 x 0 votos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sendo arquivado sem sequer ir à votação em plenário. Não satisfeita, a prefeita resolveu insistir na causa, modificando e reapresentando o mesmo PL. Para isso (reapresentar um projeto de lei rejeitado na mesma sessão legislativa), precisava da assinatura de, no mínimo, 9 vereadores. Não conseguiu. O ano legislativo encerrou e o projeto não foi apreciado.

Isso me fez lembrar do debate na OAB, durante a campanha para as Eleições de 2020, quando a prefeita acusou, de forma leviana e sem provas, membros de meu partido de pedir a ela que pagasse “contas pessoais” deles com dinheiro público, acusando-os de querer “sugar” a prefeitura. Parece-me que são outras as pessoas (não sei quais) que estão precisando de um dinheirinho pra fazer acertos e pagar contas (seja lá quais forem tais contas que, supostamente, não são apenas os salários dos trabalhadores das empresas de ônibus). E, aqui entre nós: é muita cara de pau abanar com o chapéu alheio pra fazer gracinha com empresários falidos e ainda colocar os trabalhadores das empresas nesse rolo. A língua é mesmo o chicote da bunda.

Me solidarizo com os trabalhadores, que não mereciam estar passando por isso. No meio do fogo cruzado, tornaram-se joguetes na mão dos tubarões dos transportes coletivos. E me solidarizo, sobretudo, com a população, que sofre sem ter nenhuma responsabilidade sobre a omissão continuada – seguida de ação repentina, fora de hora, irrefletida e despropositada – da prefeitura e das empresas.

O fato é que a prefeita não entregará o que prometera aos empresários, que terão um Natal sem panetone e vão ter que se virar de outra forma para honrar seus compromissos. E, assim sendo, deixará a prefeitura como aquela que permitiu falirem o sistema de transporte público. De certo que o recebeu com problemas, com a necessidade de implementar melhorias. Mas, naquele momento, o recebeu sem dívidas, com uma das frotas mais novas do país, com o aporte para subsidiar a passagem dos estudantes garantido e os terminais de integração construídos.

O episódio sepulta, de vez, com final melancólico, a curta e imerecida carreira política da prefeita, que sequer teria começado, não fosse a generosidade de pessoas como Tião Viana, Marcus Alexandre e diversos outros membros da antiga FPA, a quem ela fez questão de virar as costas.

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